Zezito é o vereador mais idoso do Brasil

Zezito é o vereador mais idoso do Brasil

Cleucimara Santiago

Tibagi – Com muita energia, bom humor, disposição e quase 90 anos de idade, doutor Zezito concorreu a uma vaga no legislativo e foi o terceiro mais votado. O agora vereador eleito, que ao concluir o mandato deverá estar com 94 anos, recebeu a reportagem do Página Um News em sua casa para um bate-papo e, ao lado da esposa Regina, contou um pouco de sua vida e dos planos junto a Câmara Municipal.
José Tibagy de Mello, ou simplesmente doutor Zezito, nasceu em São Paulo, terra de seus avós, em 18 de março de 1931, dia do aniversário da cidade de Tibagi. Seus pais que retornaram trinta dias após o parto para a cidade dos diamantes e das belas paisagens naturais, com o filho recém-nascido, quiseram, em homenagem, batizá-lo com o mesmo nome da terra que escolheram para viver. Como não fora permitido, e ele nasceu na véspera do dia de São José, ganhou também o nome do santo ‘José Tibagy de Mello’.
O ano era 1931, período entre duas guerras mundiais, início da era Vargas, logo após o governo provisório, na segunda República, ano da inauguração do monumento do Cristo Redentor, cartão postal do Brasil, assinatura do decreto, que cria o Departamento de Correios e Telegráfos, atual ECT.
De lá para cá, foram 25 presidentes do Brasil, estado novo, república populista, planejamento e construção de Brasília, golpe militar de 1964, ditadura militar, luta pelas eleições diretas, dois impeachments, o homem viajou pelo espaço, pisou na lua, o Brasil trocou o nome da moeda corrente nove vezes e muita história foi vivida.
Cursou o primário no Grupo Escolar Telêmaco Borba/Tibagi; o Ginásio e Científico no Colégio Diocesano de Santa Cruz, em Castro, formou-se em odontologia pela Universidade Federal do Paraná e fez vários cursos de extensão.
Foi 3° Sargento do Exército, tendo servido na Artilharia de Dorso, em Castro; professor de Educação Física e Ciências por mais de 20 anos; trabalhou como dentista por 45 anos. Em Tibagi foi Delegado Regional de Polícia, Juiz de Paz, prefeito da cidade por três gestões que somam 14 anos (1983 a 1988, 1992 a 1996, 2000 a 2004). Foi ainda presidente do Clube Tibagiano por 11 anos, tendo sido seu construtor, jogador; membro da diretoria da Associação dos Prefeitos do Paraná, assumindo interinamente a presidência várias vezes; representante dos prefeitos do Sul do Brasil em viagem à Alemanha, pela Fundação Conrad Adenauer, presidente da Associação dos Municípios dos Campos Gerais (AMCG).

Homenagens
Recebeu diversas homenagens, condecorado pela FEB com a medalha ‘Marechal Mascarenhas de Moraes’; Medalha ‘Liberdade e Democracia’, da Associação dos Ex-combatentes da FEB; cidadão benemérito de Tibagi, cidadão honorário de Ventania, cidadão honorário de Ponta Grossa.

Vida pessoal
Em 1961, José Tibagy de Mello casou-se com a museóloga e artesã Maria Regina Mercer de Mello, filha de Albertina e Edmundo Alberto Mercer Junior, procurador-geral do Estado pelo governador Moisés Lupion e desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, e neta de Laurentina de Sá Bittencourt Mercer e Edmundo Alberto Mercer, que foi deputado e prefeito da cidade de Tibagi.
Zezito e Regina são pais de José Tibagy Filho, Murillo, Ângela Regina e Maria Carolina e tem nove netos. Ele conta orgulhoso que “são cinco dentistas na família. Meu pai, eu, Carolina, José Filho e agora a neta” . Ângela seguiu o lado político do pai, foi vereadora, primeira prefeita de Tibagi e também a primeira mulher a presidir a AMCG.

Eleições 2020
Em 2020, com 89 anos, já tendo feito de tudo um pouco na vida, doutor Zezito conta que sentia a necessidade de fazer algo a mais, não ficar apenas sentado em casa vendo a banda passar. Cheio de energia resolveu buscar um mandato na Câmara de Vereadores em Tibagi pelo PSD. Com pouco mais de 11 mil eleitores, Tibagi teve 71 pedidos de registro de candidaturas, disputando as nove vagas do poder legislativo. Zezito foi o terceiro mais votado.
Mais de vinte anos fora da vida pública, bem-humorado o vereador eleito descreve “eu sentado no sofá, dormindo, cochilando (…), então resolvi me candidatar, mas minha campanha foi muito curta, eu fiz só duas semanas. Dia 1º de novembro, no Finados, fui ao cemitério e achei mais eleitor meu morto lá do que fora, partiram antes do combinado. Muitos dos meus amigos estão lá, eu não tenho mais gente da minha idade para conversar. Não tem mais ninguém quase”.
Zezito conta que se surpreendeu, pois muito de seus votos vieram dos jovens, que votaram a pedidos de seus netos ou por consideração aos pais ou avós que eram seus eleitores. Perguntado se sofreu algum preconceito pela idade, Zezito afirmou “ tive bullying nesse sentido, diziam não vote nele, está velho, já está gagá, diz que teve isso sim. Mas, acontece que não acompanho esses “faces”, eu tive uma dificuldade grande nisso, agora que estou me atualizando nesse sentido, tomando pé, meus netos que respondiam para mim. Eu nunca liguei muito, a resposta veio do eleitorado e eu fiz várias lives e ao fazer as lives eu demostrei que sou hoje, o que era antigamente”.
Indagamos se a família apoiou a candidatura, e se sua esposa não preferia que ele ficasse em casa, a resposta vem acompanhada de uma risada: ela foi a primeira a apoiar, a dizer vá. Os netos fizeram uma reunião e disseram que eu tinha de ser candidato e, em função disso, eu decidi. Todos eles trabalharam para mim e a maior a alegria deles foi votar no avô”.

Atuação na Câmara de vereadores
Sobre como será a sua atuação na câmara de vereadores, ele é firme na resposta: “As câmaras de vereadores estão muito desacreditadas. Eu vejo o seguinte, vai muito dinheiro para as câmaras de vereadores, 6 % do orçamento é muito dinheiro, as vezes fazem muita gastança, sobra de dinheiro, farra das diárias, curso frio em Foz do Iguaçu. Eu não acredito em cursos, vão é mais para fazer compras do que cursos. Curso o Tribunal de Contas do Paraná dá de graça. Então, eu vou tentar ser um vereador justo. Não vou ser nem situação e nem oposição, eu vou ser eu. Eu vou fiscalizar o prefeito e vou ajudar o prefeito na sua administração. A política mudou hoje em dia, eu sou do tempo em que era radical, ou era contra ou a favor. Hoje eu sou eclético”.
Perguntamos, se com a sua idade e experiência, ele pretende disputar a presidência da câmara de vereadores. “O pessoal pensa que eu tenho essa pretensão, mas eu não vou apresentar chapa. Se tiver um consenso, eu assumiria, mas eu não vou pleitear, porque para mim não pega bem se eu disputar com essa gurizada e acabar perdendo. Para mim não vai pegar bem, não. Só se houver um consenso”.
Zezito conta, ainda, que “eu pretendo pleitear e assumir a comissão de saúde, educação e ação social. Tibagi é uma cidade pronta, tem mais de 80 % de rede de esgoto, luz, água, toda asfaltada ou calçada, moradias boas, mas ainda tem bolsões de pobreza. Bolsões de pobreza na sede e bolsões de pobreza no interior. O prefeito, o Arthur, deve trabalhar muito pelo social. Enquanto existir ainda essa ajuda do governo federal, está resolvendo em partes esse problema, mas a hora que tirar essa ajuda, vai ser uma pandemia de pobreza. E, isso vai refletir em cima do poder público tanto no executivo, quanto no legislativo”. E, continua, “eu vou trabalhar na parte de ação social, na parte de saúde também tem que ter um melhoramento, e na educação eu vou trabalhar no projeto cívico”. Ele acrescenta, ainda, que hoje os jovens não sabem cantar o Hino Nacional, e não conhecem o Hino da Hndependência, Hino da Bandeira, hino do município e que pretende apresentar projeto para que as escolas do município hasteiem a bandeira e cantem os hinos na segundas-feiras, e lamenta que a sede de Tibagi não tenha sido contemplada com um colégio cívico-militar. Sobre o turismo, Zezito recorda que, em sua gestão como prefeito, embelezou a cidade com plantio de flores e árvores, e incentivou o Carnaval que ficou famoso como o melhor do Paraná, mas segundo ele, o carnaval tem que ser repensado, porque hoje não gera tanta renda para a cidade, e é preciso criar novos atrativos para atrair a melhor idade.

Agradecimentos
“Para mim é uma honra estar sendo entrevistado por você, e ser divulgado por um jornal que é muito lido na minha cidade. Através dessa reportagem, eu quero agradecer aqueles que votaram na minha pessoa, que entenderam a minha mensagem, e também aqueles que não votaram, que tiveram outros caminhos. Eu vou ser o vereador de todos. Não é a minha idade que vai criar obstáculos, eu vou ser o mesmo que sempre fui. Vou ser correto, justo, fiscalizando, criando leis e acima de tudo fazer em benefício dessa terra que eu tanto amo e tanto devo”, finaliza.

Estáticas
A reportagem foi buscar junto aos TSE, dados sobre candidatos mais velhos que disputaram as eleições de 2020 nas 5.568 cidades do Brasil. Na faixa etária de 90 a 95 anos, oito pessoas disputaram as eleições, apenas uma foi eleita, sendo ao cargo de prefeito. Já na faixa de 90 a 94 foram vinte candidatos, porém nenhum foi eleito. Na faixa etária de 85 a 89 anos, 121 pessoas disputaram as eleições. Entre prefeito, vice e vereador, nove foram eleitas. Zezito é o mais idoso de todos, tornando-se na estatística geral, a pessoa com mais idade do Brasil eleita ao cargo no legislativo municipal. Esse recorde pertencia a Dona Lourdes, que em 2016 elegeu-se vereadora para o quarto mandato consecutivo em Curitiba, aos 88 anos. Ao terminar o mandato Zezito estará com 94 anos de idade.

Redação Página 1

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