Legislativo castrense começa com dose extra de discussões

Legislativo castrense começa com dose extra de discussões

Cleucimara Santiago

Com novo dia e com uma nova composição de vereadores, a Câmara Municipal de Castro abriu o ano legislativo. A primeira sessão foi realizada na quarta-feira (4), sendo a partir deste ano, esse o novo dia das sessões, sempre às 16 horas.
O pedido de relatórios de vacinados contra a Covid-19, na cidade, do vereador Mauricio Kusdra (PSB), rendeu uma dose extra de discussões já na primeira sessão ordinária da Casa de Leis.
Em pauta da primeira reunião ordinária, dois projetos de leis, vários requerimentos e indicações. A câmara ainda recebeu ofícios de boas-vindas de câmaras da região e do governo do estado, elegeu as comissões de trabalho do ano e prestou homenagem a dois empresários da cidade, falecidos este ano. O padre Márcio Milek também foi lembrado pelo vereador Mauricio Krusda e a morte lamentada.
Na nota de pesar pelo falecimento do empresário Eduardo Alves Rosa, o Dudu, o legislativo ressaltou que foi aprovado título de cidadão honorário e ele nem chegou a receber em mãos devido a pandemia, e infelizmente faleceu antes de ter a honraria, que lhe era de direito.
Na sessão foi ressaltado dos vários títulos que a câmara ainda não entregou e citado como exemplo, o da doutora Rosa Ribeiro, conhecida oftalmologista da cidade.
Tudo corria bem, até surgir o assunto mais polêmico, o Requerimento nº 28/2021 de autoria do vereador Maurício Kusdra que solicitou que fosse oficiado ao prefeito municipal e a secretária municipal de Saúde informações quanto à vacinação contra o Coronavírus. O vereador solicitou cópia da lista de vacinados e a lista dos próximos vacinados. Segundo Kusdra, em sua solicitação o pedido é para dar uma satisfação a população de que o direito do grupo prioritário tem sido respeitado. O vereador lembra, ainda, que está havendo muitos casos de fura filas em todo o país, já tendo ocorrido em dez estados brasileiros, conforme noticiários, e por isso ele ressalta a importância de dar transparência ao processo para não deixar dúvidas que a cidade vem cumprindo o cronograma estabelecido pelo Plano Nacional de vacinação do governo. Embora, o pedido seja de direito e uma coisa simples de se resolver, não foi tratado dessa forma pelo legislativo, que acusou o vereador requerente de deselegante e incoerente.
O vereador Zé Nocera foi o primeiro a puxar a corda da discussão, ao pedir o uso da palavra. Disse que ao seu ver, o pedido era sem nexo, e que lhe parecia mais de fundo político e nada profissional. Nocera alegou, ainda, que a transparência já existe e o requerimento coloca em dúvida o processo, levando a suspeita que existe algo irregular.
Já o vereador Joel Fadel pediu a palavra e alegou que o requerimento é desnecessário, pois a secretária de Saúde tem muito zelo em seu trabalho e a cidade recebeu vacinas a mais e que por si só, isso ter sido tornado público, já dispensa o pedido do Krusda.
O vereador Augusto Beck não deixou por menos e também fez uso da palavra para criticar o colega de legislativo, alegando que o requerimento expõe as pessoas que foram vacinadas.
Jonathan Barros engrossou a lista de opiniões contrárias. O vereador afirmou ter visto os pedidos de satisfação da população nas redes sociais, mas que a prova que não tem má fé por parte do município e a seriedade do processo é o número de vacinados ser maior do que as das doses recebidas. Ele ressaltou, ainda, sobre os fura filas, e que do mesmo modo que a mídia tem mostrado essas pessoas, também tem apresentado que elas têm recebido punições como multas e exonerações. Segundo o vereador, a pandemia já causou muitos desgastes, com abre e fecha, decretos, mortes e onze meses de confinamento. Ele afirma, ainda, que agora começará um novo capítulo que merece atenção e respeito, o desgaste dos professores com o retorno as aulas. Barros afirmou ainda que o requerimento pode expor desnecessariamente as pessoas em redes sociais, “Quem quer contar que tomou, tira foto e conta, publica em suas redes sociais, mas, não pode obrigar quem não quer contar” falou o vereador. E referiu-se ao pedido do colega como deselegante. “Se o vereador [Kusdra] desejar saber quantas doses vieram e quantas foram aplicadas, existem formas mais elegantes de fazer isso”, e ressaltou que Castro recebeu 895 doses e vacinou 913 pessoas.
Gerson Sutil, primeiro secretário da Casa, disse que o requerimento é do vereador que tem prerrogativa para isso, e não da instituição, ‘câmara’, e solicitou a votação em separado. Sutil, tentando usar de sutileza, manifestou-se contrário ao pedido, acusou o colega de incoerente e deselegante, afirmando que o mesmo quer apenas publicidade em redes sociais. “Com todo o respeito, o senhor pode questionar, mas não significa que todos os vereadores têm que concordar”. Ele afirmou que a secretaria cumpriu todos e requisitos e orientações do ministério da Saúde e normatização da vacinação, e acusou o pedido de ser até mesmo ofensivo, sugerindo ao vereador se desejar informações que se dirija pessoalmente a Secretaria de Saúde. “O plano de vacinação de Castro já é encaminhado ao Ministério Público, a Regional de Saúde e o próprio Tribunal de Contas tem essa informação pelo valor gasto com as vacinas”, afirmou Gerson.
“Essa exposição com certeza vai para as redes sociais e nós vereadores não podemos compactuar com isso, pois não sabemos a dimensão que isso pode tomar”.
Sobre o fura filas, Sutil disse se tratar de situações pontuais na mídia e se houver denúncias aos vereadores, sim devem ser investigadas e tomadas as providências necessárias. “O fato da mídia noticiar situações pontuais de fura fila, não quer dizer que devemos ter essa intuição que isso está acontecendo aqui em Castro, e não é motivo para pedir relatórios”.
Mauricio Krusda disse que causou surpresa os questionamentos ao requerimento dele, e o que a câmara não deve ser impedida de fazer os questionamentos. Ele reforçou que não é necessário expor nomes e CPFs e sim os quantitativos por grupos e se não tem problema, não tem porque não divulgar, mas é preciso sanar a duvida da população.

Doses extras
Embora Castro tenha divulgado que recebeu doses a mais, esse não foi um privilégio único da cidade. Na nota a prefeitura informou que ‘alguns’ frascos vieram com onze doses. Segundo dados da 3ª Regional de Saúde, Castro recebeu 595 doses da Coronavac e 300 doses da AstraZeneca.
O Página Um News consultou os órgãos oficiais do governo e dos fabricantes. A razão da diferença de doses está nas diferentes seringas usadas e na forma correta da aplicação. A vacina desenvolvida pelo laboratório AstraZeneca, da Universidade de Oxford em parceria com a Fiocruz, é uma vacina que deve ser administrada exclusivamente por via intramuscular em esquema de duas doses, de 0,5 ml cada com intervalo de 12 semanas. Cada frasco contém 10 doses, e deve ser usado no máximo em até seis horas depois de aberto. Acontece que após denúncias de desperdício, que começaram no Rio de Janeiro, foi amplamente divulgado que os fabricantes na hora do envaze, calcularam as ampolas do imunizante para uso com seringas comuns, que retém uma quantidade maior de ‘volume morto’. Isto é, em seringas comuns, em média 3% da quantidade do líquido fica retido na seringa, entre o cilindro que contém a vacina e a agulha, após a aplicação. Nas seringas usadas no Paraná para a aplicação, existe um maior aproveitamento, pois para a aplicação do imunizante está sendo utilizado seringas e agulhas de alta eficiência com embolo, que permite usar a vacina com um desperdício muito pequeno, em torno de 0,3%. Assim, sendo Castro que recebeu 30 frascos com dez doses cada, seguindo as orientações corretas de aplicação, usando a seringa da alta eficácia e se conseguisse aplicar as doses dentro do espaço de seis horas depois do frasco aberto, em múltiplo de onze, ampliaria esse número de doses em 10%, tendo um total de 330 doses da AstraZeneca, que somados as 595 doses da Coronavac, imunizariam 925 pessoas. Em um momento crucial, em que a vacinação pode salvar vidas e impedir o colapso do sistema de saúde, evitar o desperdício é essencial.
Após tanta discussão e manifestações contrárias, por nove votos a dois, o requerimento foi rejeitado e a população não terá seus questionamentos respondidos por seus representantes.

A nova câmara
O PSC e o Patriota têm as maiores bancadas do novo legislativo, sendo do PSC, o Professor Jonathan, Joel Zeca, Gerson Sutil, e do Patriota, Neto Fadel Joel Fadel e Ze Nocera. O Podemos possui dois representantes Jhonnathan Flugel e Jovenil. Os demais partidos, conta com um representante cada, sendo Paulinho Farias (PSD), Augusto Beck (PP), Rafael Rabbers (PTC), Cezar do Povo (DEM), Maurício Kusdra (PSB). A diretoria da Casa de Leis, para o biênio 2021-2022, teve uma única chapa inscrita e foi eleita por onze votos a dois, ficando assim composta: presidente Neto Fadel, vice-presidente, Joel Fadel; primeiro-secretário, Gerson Sutil e segundo-secretário, Joel Antonio de Souza.

Redação Página 1

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