ENTREVISTA: Manfred fala sobre expansão da Sicredi

ENTREVISTA: Manfred fala sobre expansão da Sicredi
Emerson Teixeira

O presidente da Sicredi Sul, que integra os estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro e engloba 31 das 108 cooperativas do Sistema Sicredi, Manfred Alfonso Dasenbrock, conversou com a reportagem do Página Um News e portal P1 News, sobre a expansão da Sicredi no Brasil, a participação e a importância da Agroleite para o sistema cooperativista. Até 2021 Manfred presidiu o Sicredi Nacional, encerrou um ciclo de 12 anos na presidência do sistema nacional. Desde 2009 ele é membro do Conselho Mundial das Cooperativas de Crédito (World Council of Credit Unions – Woccu, no original em inglês). Quanto a Sicredi Campos Gerais e Grande Curitiba, ele destacou que dentro do sistema figura entre o top 10, num universo de 108 cooperativas.
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P1 – Hoje o senhor é responsável por Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, o que diferencia esses três estados em relação aos demais que a Sicredi tem atuação?

Manfred – No passado a legislação brasileira só permitia formação de cooperativas centrais por estado, era o Sicredi Rio Grande do Sul, Sicredi Santa Catarina, Sicredi Paraná e o Sicredi São Paulo, que eram cooperativas centrais de crédito rural, vencida essa etapa foi possível fazer fusões de centrais, o Sicredi era organizado em apenas quatro centrais, o Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e a partir da melhoria da legislação foi possível fazer a união das centrais, o Rio Grande do Sul se uniu com Minas Gerais, Espirito Santo, nós nos unimos com São Paulo e Rio de Janeiro, Mato Grosso se uniu com Pará, Amazonas, Tocantins, depois veio uma outra central chamada Norte Nordeste, além da Brasil Central, que tem sede em Goiana e atende Tocantins, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal, a central chamada Norte Nordeste, com sede em João Pessoa congrega dez estados, e com isso nós formamos um confederação com cinco centrais, no passado seriam todos os estados mais o distrito federal. Foi um avanço na legislação que permitiu essa formação de uma confederação que hoje congrega mais de seis milhões de associados nas 108 cooperativas e cada uma delas tem uma área que nós chamamos de responsabilidade, ou seja, nos municípios que integram o estatuto social da cooperativa aquela cooperativa é responsável, não tem outra cooperativa do Sicredi competindo com ela mesmo, Castro, Ponta Grossa, Carambeí, quem é responsável pelo Sicredi aqui é o Sicredi Campos Gerais, que ampliou seu nome para Grande Curitiba e atua na região da capital. Esse é o nosso modelo que tem hoje mais de 35 mil colaboradores e tem uma rede de mais de duas mil agências. Nos três estados que coordenamos, até semana passada, temos 840 agências, toda semana estamos inaugurando uma agência nova, especialmente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, que estão em franca expansão, no Paraná em termos de agência já está bastante consolidado, mas muitas melhorias em muitos municípios, inclusive sendo atendidos municípios pequenos, estamos formatando um modelo de agência para atender comunidades, municípios com dois, três mil habitantes, porque é uma situação financeira da comunidade, em cidades maiores, precisamos ter uma rede de três a dez agências. Em cidades pequenas você tem um ponto que é chamado de atendimento, mas tem uma cooperativa responsável por isso. Esse é o nosso modelo, é um modelo mutual, nós somos cooperativa e tem um banco, que é o Banco Sicredi, esse banco faz a interferência com o mercado financeiro, mas o mais relevante é ser cooperativa, atendemos pelo jeito cooperativo de ser. O resultado dessa cooperativa, na virada do ano é fechado o balanço nas assembleias e dada destinação, uma parte totalizada, outra parte decide distribuir, nós chamamos de sobras, e com isso nós vamos gerando nossas fortalezas. O nosso diferencial é ser altamente profissionalizado, temos nosso quadro de lideranças sendo formado a partir dos associados, que formam o conselho de administração, esse conselho contrata uma diretoria executiva, aqui por exemplo, temos o Fred [Popke Ferdinand van der Vinne] presidente do Conselho, o Marcio, a Leila e a Tilene, que formam a diretoria executiva. Temos um investimento grande em profissionalização, toda essa responsabilidade segregada do conselho de administração da diretoria, não se confunde, e tem também um papel muito grande, damos muita atenção a análise de crédito, com isso, temos uma inadimplência relativamente baixa em relação ao mercado, pelo zelo que nós temos em relação a liberação de crédito, muito conectado, por exemplo aqui, com uma cooperativa agroindustrial, por exemplo aqui, a Castrolanda, que têm dentro do seu quadro agrônomos, veterinários e zootecnistas e pegando só o exemplo da intercooperação relevante que é um projeto, digamos, de uma leiteria, se ele tiver um projeto sendo feito por um bom zootecnista, um bom veterinário, e conectado com a cooperativa na hora de entregar a produção, ele tem um risco minimizado, e com isso melhora a segurança e a capacidade de retorno desse recurso que não é da cooperativa, mas é de um outro sócio que confiou no Sicredi esse recurso, o olhar mutual exige muita responsabilidade, muita transparência, a construção da confiança é diária. Os momentos numa feira como essa [Agroleite] são relevantes para a Sicredi, porque permite que o associado venha falar com o presidente, com o diretor, de uma forma informal, mais clara, com transparência, permite responder perguntas, fazer perguntas também e assim como uma reunião de prestação de contas, podemos chamar assim também. A máxima da mutualidade é a cooperação e na medida em que você coopera com a organização você também está ajudando a girar a economia local, porque esse recurso fica na comunidade, o recurso é aplicado, a riqueza também, o bem-estar e a geração de emprego, tudo isso para nós é muito nobre e muito virtuoso nesse contexto.

P1 – Antes se pensava em cooperativa como algo ligado muito a área rural e isso mudou, a mentalidade é outra, inclusive a Sicredi está nos 27 estados brasileiros?

Manfred – Sim, nós estamos presentes em todos os estados brasileiros. A nossa origem é rural, quando o Padre Theodor Amstad, trouxe em 1902 esse modelo da Alemanha para o Brasil, a lei permitia criar Caixas Rurais, então éramos uma Caixa Rural, seguindo o princípio “Raiffeisen”, surgido na Alemanha, em 1862, voltado aos agricultores mais pobres. A legislação se modernizou somente agora nos anos 2000 e permitiu ser uma cooperativa aberta para todos, chamada livre admissão, essa cooperativa aberta para todos, fez com que potencializasse e reforçasse um ponto forte, o agro é um ponto forte nosso e nós reforçamos ele na medida que mantemos o foco nessa caminhada, mas também temos hoje o maior número de associados que são os ‘não agro’ em termos de números, são profissionais liberais, empregadas domésticas, motoristas de táxi, cidadãos diversos, isso permite uma estabilidade nos depósitos, no fluxo de recursos também, porque o agro é muito dependente de safras, quando ele colhe, ele comercializa, ele tem um excedente, e quando vai plantar é o período que ele não tem e precisa do recurso, a estabilidade é gerada a partir dessa amplitude maior do quadro social e de estar no campo, mas também estar na cidade.

P1 – O Sicredi no Paraná é formado por quantos grupos, e a exemplo do Sicredi Campos Gerais, existem quantos outros?

Manfred – No total 25. Somos 21 cooperativas regionais, quatro são chamadas de cooperativas mutuas, são 21 regiões organizadas com área de responsabilidade de cada cooperativa. No passado esse número era maior, mas elas se fundiram e hoje são esses grupos regionais que fazem essa diferença.

P1 – Com relação ao Agroleite, qual a visão que o Sicredi tem dessa feira, totalmente tecnificada, com o know how de ser a maior da America Latina?

Manfred – Nós estamos muito felizes de ser parceiro, de estarmos juntos desde a fundação do movimento, vamos chamar assim, um movimento que cresceu, os líderes se entusiasmaram, o entusiasmo gera essa proximidade, esse interesse e o que nós vimos aqui também muitas crianças, jovens, estudantes, técnicos, veterinários, empolgados, é uma forma diferenciada de ser, como citada a questão da América Latina, mostra sua pujança, pela história, pela origem da comunidade, seu povo, a sua luta, a bravura e superação, pra nós do Sicredi, conviver nesse espírito de feira é a máxima da cooperação, estamos próximos dos associados, da liderança, temos encontros extraordinários, que em outros ambientes teria que marcar agenda, aqui eles são ocasionais, então feiras, elas tem esse chamado dia de campo, e o dia de campo é pé no chão, e esse pé no chão é o jeito Sicredi de ser e construir a confiança de estar junto, cooperando também com o entusiasmo dos organizadores e da comunidade também.

P1 – Como toda grande empresa tem suas filiais, suas representações, como está a Sicredi Campos Gerais para o Sicredi, de uma forma geral, em questão de números, ou até mesmo em questão de espaço, de associados e colaboradores?

Manfred – A Sicredi Campos Gerais, dentro do sistema, figura entre o top dez, vamos chamar assim, num universo de 108 cooperativas. Ela tem um diferencial muito grande que é sua capacidade de geração de atendimento e resultados, ela vem se diferenciando nos últimos anos com um crescimento acima da média do sistema, portanto, dentro do estado ela está entre as quatro cooperativas em termos de destaque e no sistema Sicredi e ocupa um lugar de muito respeito, não tanto pelos números, mas pelas frentes que ela abraça, pela forma com que o presidente Fred e seu conselho encaram os desafios, com um espírito muito inovador, receptor as inovações, da forma que a diretoria executiva também encara e trata os seus colaboradores, com muito respeito e muita conexão, inclusive com o pacto global, com esse olhar de inclusão, diversidade, igualdade de gênero, tudo isso é algo muito percebido aqui na Sicredi Campos Gerais, que tem hoje uma rede de 40 agências, e uma área de responsabilidade importante que é Curitiba e região metropolitana para desenvolver e está fazendo com muita maestria, nos orgulhamos muito em ter a Sicredi Campos Gerais e Curitiba fazendo esse trabalho, que inclusive agora reformulou o estatuto, mudou a nomenclatura, agora é Campos Gerais e Grande Curitiba, isso é um esforço do pertencimento, diz, olha, estamos juntos, fazemos parte desse contexto, realmente nos orgulha demais, por estarmos próximos, o Fred é nosso conselheiro da Central, traz contribuições importantes, opiniões muito objetivas da forma empreendedora que eles atuam, isso é uma forma de construir, de fazer junto essa caminhada.

P1 – Com a presença em 27 estados, qual seria o próximo passo para a Sicredi, existe a possibilidade da expansão internacional?

Manfred – Existem parcerias, nós temos hoje o banco cooperativo holandês, o Rabobank, que é um parceiro nosso, do banco, em termos de participação acionaria, de trocas de tecnologias. O Banco Mundial também, nós temos interface com fundo de investimento francês, com fundo de investimento alemão, são oportunidades que geram além de trocas que temos com o Conselho Mundial das Cooperativas, é um intercambio de experiências, mas não de ter uma agência, por exemplo, no Paraguai, na Argentina, nessa natureza não, porque somos uma sociedade de pessoas reguladas pelo Banco Central do Brasil. Nesse conceito de estar presente nos estados, o nosso desafio é ter uma ocupação maior de mercado, para chegar aos números europeus, que falam em 20, 25 por cento da economia, nós temos municípios que nós já atingimos isso, Castro é um deles, nós já temos hoje números melhores que os europeus em várias cidades. Temos desafios internos enormes pela frente, temos hoje seis milhões de associados, podemos chegar a 20 milhões, é um crescimento que almejamos ao longo da caminhada, não só com a formação de agências, mas também com acesso as novas tecnologias que estão disponíveis e vão criando interfaces extraordinárias, conquistar novos espaços e ser acima de tudo um instrumento para a comunidade de agregação de renda, de bem estar e geração de riqueza, que gera conforto, segurança e educação e saúde acima de tudo, é um esforço coletivo, uma Castrolanda por exemplo, ela vai potencializando, as oportunidades vão surgindo com base nos desafios de mercado e com isso acima de tudo, vamos construindo um mundo melhor, acima de tudo, de paz.

“Temos desafios internos enormes pela frente, temos hoje seis milhões de associados, podemos chegar a
20 milhões, é um crescimento que almejamos ao longo da caminhada (…)

*Fotos: Daiane Taborda

Redação Página 1

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