Colônia Terra Nova comemora 90 anos

Colônia Terra Nova comemora 90 anos

Emerson Teixeira*

Nos próximos dias 8 e 9 de julho será realizada uma ampla programação para comemorar os 90 anos da Colônia Terra Nova, colonizada e desbravada por imigrantes alemães e fundada no ano de 1933 pela Companhia de Colonização no Estrangeiro (Berlim) em parceria com o Consulado Alemão em Curitiba. Juntos adquiriram a fazenda Garcez pertencente ao Dr. Jeronimo Cabral Pereira do Amaral, que foi inteiramente dividida em lotes, que eram vendidos aos imigrantes alemães.

A programação que traz como slogan ‘um brinde a tradição’ inicia às 10 horas e será realizada no Clube Recreativo e Cultural 25 de julho, regada à gastronomia tradicional alemã e danças típicas. Durante a programação de comemoração também serão realizadas salas temáticas sobre a “Contribuição de Terra Nova na produção de leite e a sustentabilidade” e “Brincadeiras de ontem e de hoje”. Também está prevista exposição de fotografias antigas “Terra Nova 90 anos” e a História sobre a Escola de Terra Nova. Será realizada uma homenagem as professoras Alice Hoffmann, 86 anos e Gudula Maus, 85 anos. Ambas foram professoras por longa data na colônia e formaram várias gerações.

Os visitantes poderão conferir os produtos típicos nas barraquinhas que estarão comercializando waffel, apfelstrudel, curry wurst, além de lanches salgados, bolo, tortas, chopp, refrigerante, café, chá, chocolate quente.

O historiador e neto de imigrantes, Alexandre Hubert, conta que seu avô chegou na colônia em 1934, já seus pais nasceram no Brasil. A paixão por história levou ao curso da faculdade de história e mergulhar nas pesquisas sobre a caminhada dos imigrantes que povoaram as terras que se tornaram a Colônia Terra Nova, distante cerca de 12 quilômetros da cidade de Castro.

“Muitos foram os motivos que levaram famílias alemãs a abandonar a Alemanha. O país da época era tomado por uma onda de desemprego, em decorrência da crise financeira mundial (quebra da bolsa de valores em 1929). A ascensão do movimento nacional-socialista com Hitler a sua frente também foi um motivo para que alemães descontentes deixassem seu país. A condição para emigrar ao Brasil era a de se dedicar a agricultura. Fato é que quem veio era sapateiro, padeiro, alfaiate, engenheiro, bancário, bombeiro, comerciante, capitão de navio, botânico, cantor lírico, açougueiro. De aproximadamente 120 famílias que constituíram a colônia Terra Nova, apenas um pequeno número tinha tido noções de agricultura, à qual foram submetidos aqui”, narra.

História
O historiador lembra que a lei brasileira de 1934 regulava a entrada de estrangeiros que atendessem exclusivamente a necessidade de serviços agrícolas. “A fazenda Garcez foi dividida em 2 partes: Terra Nova Garcez e Terra Nova Maracanã. Para a parte Garcez eram destinados os imigrantes alemães. Terra Nova Maracanã recebeu reimigrantes, vindos de Santa Catarina. A colônia tinha uma administração, e o gerenciamento principal pelo Sr. Consul Aeldert. A administração auxiliava os colonos com alimentos, sementes e adubos para o plantio. A ideia inicial era que os colonos reimigrantes de Santa Catarina auxiliassem os novos imigrantes na nova vida. Uma vez que já tinham adquirido algumas noções de agricultura”, conta.

Cooperativa
Em 1936 fundou-se a cooperativa mista Garcez. O colono podia assim levar o excedente de sua produção, principalmente manteiga, à cooperativa e lá também adquirir outros produtos. Após 31 anos de funcionamento, em 1967 a Cooperativa Mista Garcez foi diluída e cada sócio ingressou individualmente na Cooperativa Batavo. A produção de leite constituiu a base econômica das famílias de Terra Nova durante várias décadas e prevalece até hoje, ao lado da produção agrícola, de milho, trigo, soja e feijão. Outra fonte de renda de grande importância para muitas famílias durante muitas décadas foi a produção de vinho, que era comercializado em Castro e Ponta Grossa.

Proibido falar alemão
Em 1945 com a queda da Alemanha e o término da 2ª Guerra Mundial, a colônia sofreu graves consequências. “Os funcionários da administração da colônia e o Consul Aeldert tiveram que abandonar suas funções e voltar à Alemanha. Muitos colonos também abandonaram seus lotes e voltaram para a Alemanha ou foram atrás de melhores condições de vida em cidades como Curitiba e São Paulo. A Lei de Nacionalização de 1938 mostrou toda a sua rigidez depois de 1945”. Neste período Alexandre lembra que foi proibido falar alemão, ao menos na escola e em público.

Colonos
O período de adaptação dos imigrantes na nova terra foi de muita dificuldade, só em 1975 a colônia recebeu luz elétrica. De aproximadamente 120 famílias vindas inicialmente, apenas 70 famílias permaneceram na colônia. Ainda hoje o alemão é falado em muitas famílias. Na igreja muitas orações e cânticos são na língua de origem dos colonos.

Fé e educação
No ano de 1934, o imigrante alemão Padre Ludwig Laufenberg chegou a colônia para atender os colonos e motivou a construção de uma igreja, que foi inaugurada em 1937, a Igreja de Terra Nova.
Desde o início houve grande preocupação com a educação das crianças. Alguns colonos lecionavam os principais conhecimentos sobre a língua alemã, matemática, história e geografia. Logo se construiu o prédio da Escola juntamente com o Clube.

Atualmente
90 anos se passaram e a colônia está organizada através da Comunidade Santa Terezinha, a União Católica, a Associação dos Moradores e a Associação de Preservação da História e Ecologia de Terra Nova, que engloba o Museu de Terra Nova, o Clube Recreativo e Cultural 25 de julho e o grupo folclórico típico alemão “Sonnenstrahl”.

*Com Alexandre Hubert

Redação Página 1

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