Manoel Santiago, um castrense voluntário na II Guerra Mundial

Manoel Santiago, um castrense voluntário na II Guerra Mundial

Cleucimara Santiago

Mais de 25 mil brasileiros militares, homens e mulheres, partiram rumo aos campos de batalha na Itália para a II Guerra.

Nascido em 31 de dezembro de 1920, o soldado castrense Manoel Santiago da Silva, aos 23 anos de idade, filho do 1º tenente de Cavalaria, José Santiago da Silva e de sua esposa Maria Mokroski da Silva, sendo seus avós paternos, os pernambucanos Auspicio Santiago da Silva e Maria Bispo de Carvalho da Silva, e maternos Gregorio Mokroski, ferroviário, nascido na Polônia, e Sophia Mokroski nascida na Ucrânia, foi voluntário para o combate.

Em 8 de fevereiro de 1945, Manoel Santiago da Silva, identidade 1G-315797, CRP/FEB (Centro de Recompletamento de Pessoal – DP – Depósito de pessoal), partiu de madrugada do Rio de Janeiro, no 5º e último Escalão da FEB (Força Expedicionária Brasileira) ao encontro do desconhecido para lutar com os países aliados contra os países do Eixo. A bordo do General Meiggs, sob o comando do Tenente-Coronel Ibá Jobim Meireles, partiram 5.128 homens, sendo 247 oficiais, 4.835 praças e 46 diversos, em uma viagem que demorou 15 dias. Atravessar o oceano Atlântico em tempos de guerra, era uma tarefa muito arriscada, uma viagem dura, principalmente pela intensa movimentação dos famosos submarinos alemães. A tropa embarcada além de ter que se adaptar ao clima, a alimentação (que era adocicada), ao espaço apertado do porão do navio, treinos de abandono da embarcação, exercícios constantes, deveria estar sempre pronta para qualquer emergência.

Na Itália, nossos ‘pracinhas’ enfrentam o seu primeiro inimigo ‘o frio intenso da Europa’, somados a ele, os uniformes brasileiros inadequados para o clima, uma terra desconhecida, idiomas diferentes, a difamação feita dos brasileiros pelo exército alemão e os uniformes cedidos pelos americanos que eram bem maiores que os tamanhos dos brasileiros.

Mesmo com tantas adversidades, em 21 de fevereiro de 1945, um dia antes da chegada dos reforços 5º Escalão, a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária realiza a histórica tomada de Monte Castelo, um relevante marco em que muitos brasileiros tombaram em combate.

Em 22 de fevereiro de 1945, o 5º Escalão da FEB chega a Nápoles e por ferrovia seguem para Agnaro, pequena localidade próxima ao subúrbio napolitano de Bagnoli. Santiago e seus companheiros de guerra enfrentaram longas caminhadas, acamparam em Montefalcone. De lá seguiram para Livorno, os dias eram intensos na região de Pisa, Luca, Rigoli, lutaram na frente da Linha Gótica nas imediações dos Apeninos Tosco-Emilianos, nas montanhas entre o Estado da Toscana e da Emilia-Romagna.

Santiago lutou bravamente, fez a ‘cobra fumar’, viveu os horrores da guerra, viu amigos seus tombarem ao seu lado, viu a fome, a miséria, a destruição, e pôr fim a vitória dos países aliados, em um misto de tristeza por tudo visto e vivido e de alegria pelo fim do combate sangrento, que lhe deixou sequelas pelo resto de sua vida. O frio intenso lhe causou ‘Pés de trincheira’, no lado esquerdo. As botas fornecidas pelo exército americano, de números maiores do que as usadas pelos brasileiros, preenchidas com jornais velhos para ludibriar o frio, não impediam que os pés expostos por longas horas a umidade, congelassem com o frio e a neve. Não havia tempo para tratar os pés, depois de muitas vezes horas na mesma posição em valas, era preciso seguir em frente em longas caminhadas no conflito mais letal da história da humanidade.

Em 28 de agosto de 1945, Santiago deixa Nápoles a bordo do navio ‘Duque de Caxias’. Em 3 de setembro, o navio ‘Duque de Caxias’ passa pelo porto de Lisboa e o III Batalhão do Depósito de Pessoal desfila. Em 17 de setembro de 1945, o Soldado Santiago e seus companheiros de batalha, finalmente pisam em solo brasileiro, mais precisamente no Rio de Janeiro, deixando para trás 465 brasileiros mortos em solo italiano e trazendo a memória dos horrores vividos e a esperança de um mundo melhor. Em 19 de setembro de 1945 a tropa desfila pela então Capital da República.

Pela atuação, o soldado Santiago recebeu condecorações como a Medalha de Campanha da FEB, Medalha do Mérito Força Expedicionária Brasileira, entre outras. Após ao retorno da Guerra continuou a carreira militar, mas devido a complicações com os pés, entrou para reserva em 12 de março de 1953, recebendo algumas promoções depois. O pé de trincheira, evoluiu para gangrena. Inicialmente amputou o dedão do pé, mais parte a metade do pé, depois foi um pedaço da perna abaixo do joelho, e por fim mais um pedaço acima do joelho. Manoel Santiago usava uma prótese mecânica, que causava dor, sensibilidade e constantemente era preciso trocar.

Manoel Santiago faleceu em Castro, no dia 16 de fevereiro de 2002, onde foi enterrado com honras militares, deixando uma enorme lacuna em nossos corações.

Fontes: Muitos dos relatos de guerra foram contados por ele a sua neta Cleucimara Santiago, que guardou as anotações, além de documentos que pertenceram a Manoel Santiago. Como fonte de pesquisa ainda, visitas aos registros do Museu dos Ex-combatentes da Força Expedicionária Brasileira na II Guerra Mundial em Caxias do Sul- RS e Museu da Força Expedicionária Brasileira no Rio de Janeiro – RJ.

Redação Página 1

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