Retorno de alunos da rede pública às escolas é discutido na Assembleia Legislativa

Retorno de alunos da rede pública às escolas é discutido na Assembleia Legislativa

Da Assessoria

Os impactos do longo período de permanência longe das salas de aula e os efeitos na socialização e no desenvolvimento pedagógico e neurológico das crianças e adolescentes paranaenses foram apresentados em uma audiência pública promovida pelo deputado Homero Marchese (PROS) na tarde desta quinta-feira (8), de maneira remota, a partir da Assembleia Legislativa do Paraná. 

“Embora a rede privada tenha autorizado a volta às aulas, a rede pública continua fechada. Mesmo que a principio fosse uma forma prudente de se evitar os contágios, é importante dizer que já é tempo necessário voltar às aulas, de forma segura”, declarou o parlamentar que convidou especialistas em educação e saúde para o encontro. 

“Em defesa da saúde mental de nossas crianças e de uma sociedade que tenha a educação como prioridade este evento foi programado”, afirmou Marchese. O deputado Soldado Fruet (PROS) também acompanhou a audiência publica, assim como as vereadoras de Curitiba, Indiara Barbosa e Amália Tortato, além do vereador de Maringá, Rafael Roza. 

Pediatria

Para falar do ponto de vista pediátrico sobre a permanência prolongada das crianças em casa (desde março de 2020), o chefe do Departamento de Pediatria do Hospital de Clínicas do Paraná da UFPR, Rubens Cat, foi escalado. Segundo ele “poucas evidências científicas justificaram o fechamento em massa das escolas. O Brasil é o país que mais tempo mantém as crianças fechadas”. 

O pediatra destacou que cerca de 30% das crianças brasileiras apresenta depressão e outras doenças psíquicas. “São 20 milhões de crianças com alterações graves, que precisam de atendimento profissional, mas principalmente voltar ao convívio social. Queremos que as escolas que consigam aplicar os protocolos de segurança retornem às aulas e isto não depende de dinheiro, mas sim de vontade”, ponderou. 

Rubens Cat afirmou ainda que o ambiente escolar é mais seguro do que o domiciliar. “A chance de uma criança pegar o vírus dentro da escola é 100 vezes menor do que nas redondezas dela. A criança não é vilã dentro das casas, quem contamina os idosos são os adultos, muito mais do que as crianças”, disse. 

“As crianças têm defesas que os adultos não têm. As crianças têm muito menos receptores do vírus que os adultos. As crianças têm muitas gripes, o que estimula suas defesas e quando elas entram em contato com o Coronavírus, suas células imunológicas são ativadas. O mesmo acontece por causa da alta taxa de vacinação das crianças brasileiras, 15 em média até o primeiro ano de vida”, explicou o médico. 

Infectologia

Para a epidemiologista Maria Esther Graff, as crianças não são os principais vetores deste vírus. “Elas são menos sintomáticas e transmitem muito menos. Hoje, 90% dos casos de Covid nas escolas são trazidos por adultos, que são os transmissores, não as crianças. O risco da saúde mental é muito maior que o de uma criança contrair Covid na escola, algo que será cobrado daqui a dez anos”, alertou. 

“Precisamos ter um monitoramento que comprove uma vigilância ativa em cada escola para o controle de infecção, que sejam executados pelos próprios profissionais das escolas, um comitê de saúde que deve ser nomeado pelos gestores das escolas públicas. É preciso ter um controle que estabeleça a origem dos casos de contaminação, para ajudar a estabelecer os índices nas escolas”, disse Maria Esther.  

Psiquiatria

Filipe Figueiredo, psiquiatra da infância e adolescência, reforçou que a saúde mental de uma geração está em risco e os efeitos são imprevisíveis. “Um lockdown sem escola presencial não é adequado para a saúde mental de crianças e adolescentes, com diferenças entre as faixas etárias. Para crianças presas em casa, este impacto de privação da socialização é muito prejudicial”, frisou. 

O psiquiatra listou as possíveis consequências: “As crianças em período pré-escolar podem ter um vínculo muito estreito com as mães. No pós lockdown haverá um grande impacto desta separação. As mães que estão trabalhando em casa estão estressadas e pressionadas. A incerteza das agendas de provas e aulas também gera ansiedade nas crianças, fobias generalizadas, transtorno de pânico que serão muito mais agudas quando se abrir as escolas”, alertou. 

Filipe Figueiredo ainda falou dos riscos mais graves, como o suicídio. “Os transtornos depressivos podem causar suicídio no público infanto-juvenil. As crianças estão tendo um ano de perda na aprendizagem social. A escola é onde se dão estes fatores de integração social e nós estamos privando as crianças disto. A tecnologia também pode causar problemas como transtornos de hiperatividade, dislexia e falta de atenção. Crianças com transtornos de neuro-desenvolvimento estão sendo mais prejudicadas e terão mais dificuldade no retorno tardio às escolas”, destacou.  

Movimentos

Michelle Campa Wendler e Aline Leal Kuss são do Movimento Escolas Abertas Paraná, criado para debater a possibilidade de retorno seguro às salas de aula. “Nosso movimento está em vários municípios do Paraná e atende aos anseios de mães e pais que se preocupam com a saúde dos filhos, por isso procura as maneiras mais seguras de reabrir as escolas”, afirmou Michelle Wendler.  

Justificando a reabertura das escolas, Aline Kuss lembrou que uma lei estadual reconhecendo que as escolas prestam serviços essenciais e qualquer medida restritiva deve ser justificada por decisão do governador. “Temos também um decreto que pede a reabertura das escolas, contando que se tomem cuidados, como o máximo de 80% de ocupação das salas e aula. Vários municípios estão com todas as escolas fechadas, apenas Palotina tem parte delas abertas”, afirmou. 

“Temos escolas públicas fechadas há mais de um ano, o que para nós é inaceitável. Podemos ajuizar ações populares. Precisamos de critérios técnicos que justifiquem o fechamento das escolas. Podemos encaminhar petições e ofícios para sermos escutados. Pedimos que a isonomia entre as escolas públicas e privadas seja respeitada. As pessoas devem cobrar dos gestores das escolas, tanto as publicas quanto as privadas, sobre o que está sendo feito para mantê-las abertas”, disse Aline.  

Vanessa Bellei, do Movimento Mães pela Educação explicou que as escolas particulares de Maringá filiadas ao Sindicato dos elEstabelecimentos Particulares de Ensino (Sinepe) conseguem manter aulas presenciais apenas por força de uma liminar concedida pelo Tribunal de Justiça do Paraná. “Ouvimos do prefeito de Maringá que os pais e mães não queriam que as escolas reabrissem. Lutamos pela reabertura de escolas”, explicou.  

Governo do Estado

Adriana Kampa, diretora de Gestão Escolar da Secretaria de Estado da Educação (SEED), afirmou que o Governo do Estado prevê a programação de reabertura das escolas e colégios da rede pública apenas a partir de maio. “Não imaginávamos que o período duraria tanto, nem todos os agravamentos. Aguardamos os índices da Secretaria de Saúde para analisar as possibilidades da volta às aulas. No ano passado avançamos muito no protocolo de biossegurança padronizado, factível e que possa ser acompanhado pela comunidade escolar, tanto da rede privada como pública”, afirmou. 

Segundo a diretora, foram organizadas todas as 2,2 mil escolas estaduais e municipais e, em outubro de 2020, o retorno das atividades complementares nas escolas particulares e nas escolas estaduais nas regiões com baixa ocupação das UTI. “O protocolo garante que as famílias optem pela volta às escolas e acompanhem o cumprimento dos protocolos, como uso de álcool em gel e distanciamento social. Infelizmente em fevereiro, quando era aguardada a volta, tivemos um aumento muito grande seguido do agravamento em março”, disse. 

“Adaptamos este protocolo e hoje é possível uma maior interação dos alunos com os professores de modo virtual, o que não substitui a aula presencial, mas aumenta a segurança de todos. Vendo os índices de ocupação das UTI reduzindo, podemos construir novamente o retorno. A expectativa é muito grande para maio com a chegada das vacinas e a redução dos índices de contagio”, completou Adriana Kampa.

Redação Página 1

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