Eletrovia da Copel dobra número de recargas em 2020

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Agência Estadual de Notícias

Faz pouco mais de dois anos que a Copel inaugurou a maior eletrovia com postos de recarga rápida para carros elétricos do País e o balanço deste período, analisam especialistas, é promissor. Além de ver um aumento significativo no número de abastecimentos, a Companhia vem investindo em pesquisas de mobilidade elétrica que prometem, num futuro próximo, refletir diretamente no consumidor de veículos elétricos. 

A eletrovia paranaense foi inaugurada no final de 2018, com a instalação de 12 postos de recarga ao longo de 730 quilômetros da rodovia BR-277, ligando o extremo leste ao extremo oeste do Estado. O projeto era pioneiro no Brasil, fruto de uma parceria entre a Companhia Paranaense de Energia, a Copel, e Itaipu Binacional. Resultado de um investimento de R$ 5,5 milhões, a Eletrovia promove desde então recargas gratuitas a qualquer usuário que queira abastecer seu veículo elétrico de maneira rápida em qualquer um dos eletropostos.

Como todo projeto de pesquisa e desenvolvimento, a proposta deste era avaliar os resultados para reunir academia e mercado em um objetivo: viabilizar a mobilidade elétrica. “E percebemos que, no que depende de nós, isso está sendo alcançado. Temos resultados muito interessantes”, avalia o superintendente de Smart Grid e Projetos Especiais da Copel, Julio Omori.  

No primeiro ano de operação (2019) os eletropostos da Copel somaram 330 recargas, totalizando um consumo de 2.914 kWh de energia. Em 2020, o número de abastecimentos quase dobrou: foram 600 recargas em toda a eletrovia. A maior parte delas concentrada na estação de Curitiba, localizada no polo da Copel da BR-277, no Mossunguê, com 230 abastecimentos em 2019 e 370 em 2020.  

Já o consumo, este aumentou em cerca de 6,5 vezes em relação ao primeiro ano, totalizando 19 mil kWk. “Isso se deve ao fato de que o total de energia entregue individualmente cresceu, por conta da presença de veículos puramente elétricos com maior capacidade de bateria”, analisa o engenheiro eletricista da Copel Zeno Nadal, responsável pelo projeto da Eletrovia. A média de recargas fica na faixa de 20 kWh, o que dá uma autonomia média ao veículo de 200 km, a um custo estimado de R$ 17 – lembrando que, por enquanto, as recargas não são cobradas do usuário, já que se trata de um projeto de pesquisa e desenvolvimento e os custos são subsidiados com recursos do projeto. 

No entanto, o fator que parece ter impulsionado mais o uso dos eletropostos está relacionado não necessariamente à gratuidade, mas à disponibilidade da recarga rápida: nos eletropostos da Copel, leva-se de meia a uma hora para carregar 80% da bateria do veículo. “Os veículos com baterias de grande capacidade tiveram um aumento expressivo no mercado ao longo de 2020. Em um carregador doméstico, a recarga desses veículos poderia durar de 12h até 24h”, lembra Nadal. 

CRESCIMENTO DE MERCADO

De fato, as vendas de veículos elétricos e híbridos vêm crescendo e batendo recordes no Brasil, embora os modelos ainda componham fatia modesta do mercado da mobilidade (1%). Em 2020, foram vendidos 19.745 veículos eletrificados no país, entre automóveis e comerciais híbridos não plug-in e plug-in (HEV ou PHEV) e os puramente elétricos a bateria (BEV). Em 2019 este número foi de 11.858 – o que representa um aumento de 66,5% nas vendas, mesmo com a pandemia da Covid-19. Os dados são da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Somente entre os carros puramente elétricos, as vendas em 2020 somaram 857 unidades, contra 559 em 2019.  

O Paraná conta hoje com 512 veículos elétricos, segundo o Detran-PR. Em 2019, este número era de 362, o que evidencia um aumento de 70% na frota, seguindo a média de aumento nacional.  

FUTURO DA DEMANDA

Com mais carros elétricos circulando e um mercado que se mostra promissor, a Copel está se preparando para o futuro. “A grande preocupação é com o impacto que a inserção massiva de veículos elétricos possa causar nas redes de distribuição, assim como a necessidade extra de energia. Pesquisas indicam que a maioria das recargas dos veículos elétricos é feita nas residências, durante o período noturno. Isto também acontece com frotas de ônibus e caminhões urbanos (recarga nas garagens). Estas recargas, sob determinadas condições, poderiam causar uma sobrecarga em alimentadores em períodos que são normalmente de baixa demanda”, afirma Julio Omori.  

Antevendo a questão, a Copel realizou em 2018 uma chamada de P&D estratégico especialmente dedicada ao assunto, a chamada 22/18 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). “Desde então temos projetos de pesquisa para o desenvolvimento de sistemas de gestão para as recargas e proposição de novas modalidades tarifárias, que, em conjunto, vão contribuir para a normalização do consumo ao longo das madrugadas, otimizando o uso inteligente da energia. Isto somente é possível com a implantação das redes inteligentes, que já estão sendo realizadas em outro projeto da Copel”, lembra o superintendente.

Além deste P&D, a chamada resultou em outros, que estudam questões relacionadas ao armazenamento de energia em baterias que permitam compartilhamento entre residências e veículos elétricos; estudo de tarifação; implantação do “posto do futuro”, para multiplicação de estações de recarga; e a gestão de produção/consumo pelo lado da demanda, baseada na figura do prosumidor. “É uma junção das palavras producer (produtor) e consumer (consumidor) e seu significa nada mais é que o consumidor que atua ao mesmo tempo como produtor e consumidor. Isso significa que ele irá produzir energia para consumo próprio e para exportação do excedente para a rede de distribuição, sob determinadas condições. Os resultados dos projetos visam a apontar as possíveis soluções, técnicas e regulatórias, para que o relacionamento entre a distribuidora e os prosumidores aconteça de forma harmônica, potencializando os ganhos da geração distribuída com as necessidades de operação das redes e qualidade de energia”, explica o engenheiro Zeno Nadal. 

E O QUE VEM DEPOIS?

Integração. Afinal, estes veículos precisam ter infraestrutura para rodar sem limites. “A diferença do valor do veículo elétrico está diminuindo em relação ao tradicional. A quantidade de veículos vendidos tem aumentado muito e o custo das baterias tem diminuído drasticamente. Vamos ver uma explosão da demanda nos próximos anos”, adianta Omori.

Com isso, além das questões práticas de abastecimento, tarifação e gestão da energia já estudadas nos projetos da Copel, a integração de eletrovias entre os estados do Sul e países vizinhos já é uma realidade muito próxima. “Estamos estudando a colocação de um eletroposto nosso e a Celesc (concessionária de energia de Santa Catarina), dela, na região de Tijucas do Sul/Garuva. Com isso, teremos uma estrutura que permitirá a integração praticamente até o Rio Grande do Sul”, diz.  

A partir dali a CEEE, concessionária do RS, também já aprovou projeto de P&D e assinou contrato de execução para instalar eletropostos no Estado, interligando a BR-101 com o Uruguai. “Lá a rede já é bem robusta, e nós aqui estudamos instalações por meio de Itaipu para interligar nossa eletrovia até Assunción, no Paraguai”, antecipa o superintendente. “Falta muito pouco para termos praticamente todo o Mercosul interligado”.

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