Mãe conta emocionada como ocorreu a morte do filho em solo ucraniano

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Sandro Adriano Carrilho

Desde a morte em combate do brasileiro Murilo Lopes Santos, 26 anos, pelas tropas russas em Kremica, na Ucrânia, e não em Zaporizhzhia, como a reportagem havia noticiado, nenhuma informação oficial foi repassada pelas autoridades, sejam elas ucranianas ou até mesmo brasileiras.
Foi preciso que um outro soldado, brasileiro de São Paulo, identificado como Guilherme, amigo de Murilo e ferido em combate na mesma missão, entrasse em contato por telefone com Rosangela Pavin Santos, mãe do combatente castrense, na manhã desta terça-feira (9), informando da situação e como Murilo agiu com heroísmo. Nas palavras de Guilherme, ditas à reportagem por Rosangela, “Murilo tomou à frente na defesa do grupo de dez soldados, após ser surpreendido com granadas em um bunker que estavam. Era o último dia de missão, todos haviam baixado a guarda”, disse a mãe, emocionada. Foi nesse momento em que ele foi morto, ao lado de um soldado de nacionalidade australiana. O dia era sexta-feira (5), o horário 3h30 na Ucrânia e 8h30 da manhã, no Brasil.

Sepultamento
Como era a intenção de Murilo permanecer na Ucrânia, após o fim da guerra, por amar aquele país, Rosangela entendeu que o melhor a ser feito é que ele seja sepultado em solo ucraniano. Nesse sentido, ficou acordado entre Guilherme e Rosangela, que uma vídeochamada será feita, futuramente, para que a família dê o último adeus ao filho morto em combate.

Na segunda-feira
Ainda na segunda-feira (8), quando Rosangela concedeu ao Página Um News a sua primeira entrevista, ela não escondia a tristeza e a dor pela morte do filho, como também o desespero pela falta de notícias.
Perguntada como ficou sabendo da morte de Murilo, respondeu que por volta das 11 horas de sexta-feira (5) recebeu ligação telefônica de um militar, que falava português com sotaque estrangeiro. Ele informava que Murilo havia morrido em combate por volta das 8h30 da manhã (horário de Brasília), 3h30 em Zaporizhzhia, após sofrerem fortes bombardeios. Murilo participava de uma missão com outros cinco soldados, sendo que outro soldado também havia morrido, além de quatro feridos, notícia que foi atualizada posteriormente.
Quanto a última vez que havia falado com o filho, a mãe disse que foi na terça-feira da semana passada, 2 de julho, por mensagem. “Murilo falava bem pouco, era difícil a comunicação, pessoa fechada, mas sempre dizia que estava feliz, que havia escolhido aquele país para ficar, amava a Ucrânia”.

5º Esquadrão
Rosangela também esteve na manhã de segunda-feira (8) no 5º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, onde Murilo serviu por um ano e meio, até ser dispensado. Foi atendida por um oficial, que informou que nada poderia ser feito quanto a questão do Murilo, pois ele era civil, já não pertencia mais ao Exército Brasileiro.
“Em conversas com outras mães que perderam filhos em combate, a informação que se tem é que as autoridades de lá [ucranianas] prometem, mas que o corpo não vem, nem as cinzas. A minha luta agora é pelo meu filho. Eu vou continuar, não vou conseguir parar. Queria já ter ido para a Ucrânia!”, disse Rosangela antes de concordar com o sepultamento de Murilo na Ucrânia.

Desejo
Murilo se alistou voluntariamente e chegou à Ucrânia no dia 3 de novembro de 2022, motivado pelo desejo de lutar ao lado das forças ucranianas contra a invasão russa. O conflito, que começou em 24 de fevereiro de 2022, continua sem previsão de término, com ataques intensos por terra, ar e mar.
Apesar de sempre ter sido contra a decisão do filho, Rosangela disse que não conseguiu impedir sua ida para aquele país, pois acreditava que a escolha refletia a essência dele.
Murilo deixa o pai Neiton, a mãe Rosangela, irmã Yasmin – 10 anos -, além de avós, amigos e muita saudade.

Missa

Para lembrar a memória de Murilo que viveu boa parte de sua vida em Castro, além de Arapoti, missa será celebrada na Matriz de Sant’ Ana, às 19 horas dessa quinta-feira (11). Todos estão convidados.



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