De TCC a jornal regional respeitado

De TCC a jornal regional respeitado

Helcio Kovaleski
Especial Página Um News

No início, era apenas um trabalho de conclusão de curso (TCC, na sigla acadêmica) para coroar a trajetória de quatro anos em um curso então pioneiro na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG): Comunicação Social/Jornalismo. E que cumpriu o seu roteiro tradicional: definição do objeto e da forma do trabalho (se monografia ou produto; se jornal impresso, rádio, televisão ou revistaa), escolha da professora-orientadora, pesquisa de campo, leitura de livros, orientações e mais orientações, elaboração do projeto, idas e vindas, arremates, fechamento, entrega para a professora, apresentação do trabalho para uma banca de professores e, por fim, aprovação – seguida da formatura dos alunos envolvidos. Por suas características peculiares e por se tratar de um produto jornalístico que vislumbrava um futuro, considerando a pesquisa realizada em campo, o projeto foi aplicado à prática. Eis que criou asas, decolou e, ao longo de árduos e implacáveis 31 anos, passou por etapas, por momentos de glória e outros de dificuldades, e chega a 2020 com um nome consolidado na praça e com muitas histórias para contar, além, é claro, da sua própria – que inclui o fato incontornável de ter se tornado, de fato, o único veículo dos Campos Gerais com alcance regional, não somente porque é distribuído na maioria das cidades da região, mas também porque exerce influência, principalmente política, nessas cidades.
Está-se falando do jornal castrense Página Um News, que completa 31 anos no dia 1º de outubro. Seu início remonta ao ano de 1989, quando ainda era um TCC elaborado pelos então acadêmicos Renato Oliveira, Sandra Czechar, Sandro Adriano Carrilho e Ana Maria Tonial (já falecida), que integravam a lendária primeira turma de Comunicação Social/Jornalismo. O projeto foi orientado pela professora Vanessa Saboia Zappia e, na banca, recebeu como nota média 90,9.
Para contar um pouco dos primórdios dessa trajetória, a reportagem entrevistou a professora Vanessa e os jornalistas Renato, Sandra e Sandro – que acabou se tornando o único proprietário do Página Um que mais tarde passou a chamar-se Página Um News. Todos relembram aspectos do projeto e falam sobre o fato de que, provavelmente, esse tenha sido o único TCC do hoje denominado curso de Jornalismo da UEPG que de fato se consolidou economicamente.

Identificação
Vanessa Zappia, que foi coordenadora e também chefe do Departamento do curso e se aposentou em 2014, lembra que o Página Um foi o único projeto da primeira turma de Jornalismo a se consolidar. “A equipe vislumbrou um nicho de mercado em Castro e identificou as necessidades da população por informação local com precisão”, afirma. “A identificação precisa da necessidade de informações locais bem trabalhadas da população e, no atendimento dessa necessidade, a identificação do jornal com a sua região” foram aspectos que, na sua avaliação, contribuíram para o sucesso da empreitada do Página Um.
Mas ela lembra que o curso de Jornalismo também teve outros exemplos de trabalhos de conclusão de curso que tiveram sucesso, como livros-reportagem “editados e lançados no mercado”. “Tivemos produtos em rádio e TV que foram exibidos, monografias premiadas, enfim, uma produção de boa qualidade”, observa.

‘Desbravadores’
“Trinta e um anos se passaram. Muitos dados se perdem com o tempo. Mas eu acredito que, como todo projeto, este foi interessante pelo fato de que, ao mesmo tempo em que trabalhávamos em sala de aula, com informações muito vagas, fomos a campo numa cidade que, com exceção do Renato [que é natural de Castro], todos desconheciam o dia a dia, a rotina, o que era a imprensa de lá, como que era a comunidade, como eram os políticos”, conta Sandro Adriano Carrilho. “De qualquer forma, fomos pra lá naquele ímpeto de praticamente recém-formados buscar informações e implantar um jornal, um projeto de jornal em uma cidade onde já havia um jornal”, observa.
De acordo com Carrilho, ele e os demais colegas foram “desbravadores”. “E todo o conhecimento que a gente tinha – pelo menos o pessoal que trabalhava no projeto – era teórico, de dentro de sala de aula. Quando fomos a campo é que descobrimos que a teoria não é bem assim”, relata.

Viabilidade
Sandra Czechar, que depois de casada acrescentou Gardinal ao seu sobrenome, conta que, logo após se formar, trabalhou durante quase 25 anos como editora de televisão (24 anos na Rede Paranaense de Comunicação, RPC, e cinco meses na Rede Massa). Ela cota que gostou de participar do projeto porque ele “tinha condição de virar realidade, e era numa cidade que não tinha jornal, mesmo, que precisava de um jornal”. “Então, fizemos algo que era real, não foi feito só pra pegar canudo, mas porque era algo necessário. Tinha um objetivo de verdade”, aponta.
“Foi muito bacana porque viajávamos juntos os quatro participantes, nossa amizade ficou melhor, a gente fortaleceu tudo isso, e aprendemos um monte. Porque uma coisa é você fazer um projeto na teoria, outra é fazer um projeto na prática, onde você vai, conversa com as pessoas na realidade pra saber se aquela cidade precisa, qual é a viabilidade daquilo, qual é a parte econômica”, observa Sandra.

Participação popular
Para Renato Oliveira, que, além e jornalista, é funcionário público estadual aposentado, mas ainda colabora esporadicamente com o Página Um News, ter participado do TCC foi “trabalhoso, instigante e prazeroso”. “Consumiu dias e até noites de minha pesquisa. A única certeza era de que o jornal impresso (entre o rádio e a televisão) era o projeto que pretendia defender no TCC”, afirma. Ele conta que, antes mesmo de cursar Jornalismo, já se “aventurava” a escrever para jornais da região, como “O Tibagi”, de Telêmaco Borba, “Jornal da Manhã”, de Ponta Grossa, “Correio de Notícias”, de Curitiba, e “O Bravo”, de Castro, entre outros periódicos. “Na época, em Castro, o único jornal impresso que circulava era ‘O Bravo’, fundado por Ronie Cardoso Filho [ex-prefeito da cidade] e Rogério Mainardes. Tinha uma linha editorial voltada para a Cultura e a política local”, relata. Já o Página Um, segundo Renato, tinha como premissa trabalhar com notícias que tivessem impacto no cotidiano das pessoas. “Tanto assim que um dos setores dedicava espaço especial para o setor rural. A economia local na época girava em torno da agricultura, daí a abertura do Caderno Rural, que ocupava quatro páginas centrais com entrevistas e notícias desse setor, além da cobertura do esporte amador, aspectos sociais e própria política da cidade”, afirma.
Renato observa que o Página Um priorizava a participação popular, através de enquetes. “Primeiro, que todas as camadas sociais tinham acesso ao jornal. No início, era cobrado um valor ínfimo de cada exemplar. Depois, o jornal passou a ser distribuído de forma gratuita. A intenção era de que o jornal fosse acessível de fato, na prática. Chamava a atenção o próprio layout, que tinha uma padronização diferente do que já se tinha visto em Castro. A capa trazia uma foto destacada do assunto principal que a mancheteava. A linguagem sempre foi direta, simples, sem palavras rebuscadas ou textos longos”, lembra.

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