Crônicas dos Campos Gerais: Adoração da Cruz

Crônicas dos Campos Gerais: Adoração da Cruz

Adoração da Cruz

Já escrevi crônica para este projeto, e também incluí em livro inédito narrativas sobre as celebrações da Semana Santa. Mas creio que poderei escrever ainda inúmeros textos, pois é inesgotável a fonte de inspiração que brota nesses momentos tão fortes da Fé Cristã.

Neste ano, impressionei-me com a devoção da Adoração da Cruz. Estava a Igreja de São Cristóvão lotada (bem acima da capacidade de público: 350 pessoas sentadas), na Celebração da Paixão de Cristo, em plena tarde de Sexta-Feira Santa. Uma celebração que durou mais de duas horas, finalizando com a procissão do Cristo Morto, em torno da Praça Frei Elias. Não cheguei a tempo para ocupar assento nas alas dos bancos com genuflexório. Para buscar um espaço com visibilidade, eu e minha irmã, baixinhas, fomos passando entre as pessoas em pé que ocupavam até os halls das três entradas. Ao ver-nos, Seu Tullio, antigo colega e amigo de meu pai, indicou-nos duas cadeiras, surpreendentemente vagas: “Sentem-se nessas cadeiras que eu guardei para vocês”. E riu, animadamente. Sentei-me ao lado de outro colega de meu pai, o Seu Gorte. Vieram-me lembranças da congregação secular dos Vicentinos, dos tempos do Frei Elias, da qual eram membros sempre animados nas celebrações. “Tem muita gente que eu nem conheço…”, comentou, no momento em que o ritual não passa de um desfile para venerar a Santa Cruz que repousa nos braços do celebrante à espera de um beijo, uma reverência ou um toque dos fiéis. As pessoas desfilavam diante de nós, dirigindo-se ao corredor central, para adorá-la. Desfilaram os Bach, os Becher, os Chemin, os Auer, os Mayer, os Motim, os Fontana, os Maravieski. Não vi os Vetorazzi, nem os Burgardt, os Hansen e Constante, nem os Schepak e Marenda, ou os Grachinski, mas certamente estavam presentes descendentes deles que eu nem cheguei a conhecer, ou desfilaram pelo outro lado. Se ocorria “engarrafamento” no desfile, os que passavam pelos que estavam sentados, perguntavam sobre sua saúde, ou da saúde da “tia” acamada, combinavam visitas. Seu Gorte brincou que em poucos dias completaria 19 anos de idade (referia-se a 91 anos, com os algarismos invertidos), e Seu Tullio, com semblante de decepção por não poder inverter também os algarismos da sua idade, declarou que, em abril, completaria 88.

Meu coração órfão pela partida do Avelino Antoniácomi, ano passado, consolou-se com um desfile de Adoração à Cruz que celebrava serenamente a vida ante a tristeza da morte, pela certeza da Ressurreição.

*Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes, Professora de Português e Inglês, residente em Ponta Grossa.

Redação Página 1

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