Ponta Grossa alerta sobre colapso da saúde

Ponta Grossa alerta sobre colapso da saúde

Cleucimara Santiago

Ponta Grossa – A prefeita de Ponta Grossa, Elizabeth Schmidt, em coletiva de imprensa, compara o atual momento crítico da cidade a cenário de guerra e faz alerta para colapso na saúde. “Nosso alerta hoje é para uma situação de colapso assustador, no atual ritmo de contágio e agravamento dos casos. Com a escassez de meios para atendimento a essa demanda, teremos dias de grande tristeza e dor, com aumento significativo no número de mortos em nossa cidade e região”, declarou a chefe do executivo.

A coletiva aconteceu na manhã de quinta-feira (11), no Centro de Música, e contou com a presença de dirigentes da saúde pública local e regional e gestores de hospitais privados que atuam no enfrentamento à pandemia da Covid-19, que apresentaram os dados mais recentes sobre a doença em Ponta Grossa e explicaram porque estamos vivendo o momento mais crítico da pandemia.
A prefeita, ainda, informou que na noite de quarta-feira (10), a Upa Santa Paula precisou ser fechada para novos atendimentos devido ao grande número de pacientes que já estavam em acolhimento na unidade. A UPA Santa Paula é a porta de entrada para os casos mais agressivos, porém, esgotou há muito sua capacidade de receber e encaminhar pacientes e, em medida de emergência, alguns postos de saúde, os antigos CAS, foram transformados em unidades de referência para atendimento Covid. A prefeita fez um pedido e um alerta. “Meu primeiro e especial pedido a cada um: fique em casa, só saia se for indispensável. Mesmo pequenos acidentes ou ferimentos, neste momento, estão impactando os serviços de saúde que já estão comprometidos. Não crie desculpas ou justificativas, todos os recursos da saúde estão sendo utilizados. Não há margens”.

Imunização, prevenção e atendimento

Elizabeth informou que a cidade está trabalhando em três frentes distintas ao mesmo tempo: imunização, prevenção e atendimento. Sobre a imunização da população, ela lamentou que infelizmente não depende apenas da vontade do executivo, mas do fornecimento de vacinas, e afirmou que a prefeitura está lutando para que sejam adquiridas, para acelerar o processo. A cidade está preparada para a vacinação, entre as medidas anunciadas, o Centro de Eventos será transformado em ponto principal das ações de vacinação drive-tru. A Estação Arte e o prédio do Restaurante Popular para vacinação em quem não optar pelo sistema drive-tru. E, desde que haja doses e equipes disponíveis, alternativas estão sendo estudadas.

Sobre a prevenção, Elizabeth ressaltou que a cidade vem atuando fortemente, com medidas que visam a restrição de circulação de pessoas, proibindo aglomerações e recomendando distanciamento e isolamento, e reforçou o pedido de “só saia de casa se for indispensável. Proteja sua vida, de sua família e de sua comunidade. Não há preço que pague uma vida. Não há negócio que compense o luto de tanta gente. Medidas como o uso de máscaras, o distanciamento físico e a permanência em ambientes seguros têm baixo custo e alta efetividade (…)”

Em referência ao atendimento hospitalar e pré-hospitalar, a prefeita explicou que foi necessário remanejamentos. “Por conta da elevada procura, tivemos que remover pessoal de outras unidades, algumas das quais tiveram atividades temporariamente suspensas. Estamos finalizando a UPA Santana, que receberá casos de urgência e emergência e permitirá que novos espaços sejam utilizados no Hospital Municipal Amadeu Puppi. Os trabalhos têm sido intensos e constantes, e tão logo sejam concluídos teremos esse movimento”, disse.

Hospitais de campanha

“Soluções simplistas e supostamente ideais, como abrir novos hospitais, ou instalar hospitais de campanha, são inviáveis neste momento: não há pessoal médico, suprimentos, medicamentos e nem mesmo oxigênio para atender a novas instalações hospitalares. Os hospitais da cidade, que estão conosco neste momento, também estão com seus recursos todos empregados, como veremos a seguir. Além do mais, nossa estrutura hospitalar suporta também pacientes de uma região importante do Paraná, habitada por quase 600 mil pessoas. E, em muitas das cidades ao nosso redor não há cuidados intensivos e de suporte à vida,” alertou a prefeita.

Falta de compreensão

Elizabeth ressaltou que “proibir a circulação de pessoas durante o dia, impor lockdown absoluto e impedir circulação de veículos são impraticáveis, porque dependem da adesão e compreensão de todos. Muitos parecem não ter compreendido a gravidade da situação. Estamos todos em risco. O uso intensivo dos recursos médicos e hospitalares para atender pacientes de Covid deixou outras áreas descoberta (…)”, concluiu.

Comprometimento extremo da rede hospitalar

O secretário de Saúde, Rodrigo Daniel Manjabosco, apresentou o quadro sobre a situação atual do enfrentamento à pandemia, e ressaltou o visível crescimento de casos de infecção, devido a nova Cepa, muito mais agressiva e tem evolução muito maior. O paciente infectado com a nova Cepa tem carga viral muito superior ao coronavirus normal, transmite mais facilmente o vírus e necessita de muitos mais dias de internamento em hospital, chegando a ficar até 30 dias ocupando leitos, o que causa um comprometimento extremo do número de leitos, sendo isso um sério complicador. Manjabosco falou da preocupação com crescente número de óbitos, sendo o recorde em fevereiro com 92 casos, e março em apenas onze dias já registrou 49 vidas perdidas. Ele alertou, ainda, sobre as novas faixas etárias atingidas e número de letalidade de pessoas cada vez mais jovens e saudáveis. O secretário disse que a Upa da Santa Paula tem capacidade para 20 leitos e hoje conta com 11 pacientes em sala de emergência, 25 em observação com uso de oxigênio, e já houve caso de um paciente esperar na unidade nove dias a vaga em um leito hospitalar. Ee ressaltou que pacientes poderão ter que aguardar em macas e até em cadeiras por uma transferência.

Operário Ferroviário

Devido ao colapso, a secretaria de saúde vai solicitar a suspensão do jogo entre Operário e Coritiba pela quinta rodada do Campeonato Paranaenase, previsto para este sábado (13), no Estádio Germano Krüger. A medida é devido a aglomerações promovidas, principalmente por torcedores.

Sem suporte

O médico Ricardo Zanetti, diretor técnico do Hospital Regional de Ponta Grossa, revelou que “o risco é emitente de não podermos atender pessoas”. Após apresentar dados, frisou que “nós não temos mais como manter suporte ventilatório mecânico para as pessoas” e ressaltou, ainda, que o hospital já está antevendo os casos de mortes materno infantil. “Gestantes poderão entrar em trabalho de parto prematuro, com 29 semanas, devido a trombose na placenta, o que implica em número de leitos UTIs neonatal, para que possamos aumentar o número de vidas salvas,” reforçou.

Regional

Dr Robson Xavier, chefe da 3ª Regional da Saúde ressaltou que a triste realidade não é só de Ponta Grossa, mais extrapola todos os âmbitos, e que os níveis de contágio são resultados do comportamento social de cada um. “Se nós tivéssemos respiradores, hoje, nós não teríamos espaço físico, não teríamos pessoas, não teríamos medicamentos, não teríamos insumos. Essa é a nossa realidade”, e reforçou que sem distanciamento e as medidas sanitárias, não haverá vitória nessa batalha porque os recursos são finitos.

O chefe da regional falou, ainda, que foram reativados hospitais em Telêmaco Borba e Guarapuava e descreveu a situação do Hospital Cruz Vermelha, em Castro. “Há dez dias abrimos dez leitos de UTI e 25 leitos clínicos no hospital em Castro. As 12 horas, nós comunicamos a central de leitos que estavam ativados, duas horas depois, todos estavam ocupados.

Ontem (10), em um esforço hercúleo, abrimos mais sete leitos e em meia hora todos já estavam ocupados”.
Dirigentes dos hospitais Unimed, Bom Jesus e Santa Casa de Ponta Grossa, também relataram as graves condições atuais das suas respectivas unidades hospitalares.

Redação Página 1

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