Da assessoria
Caso não garantam reserva alimentar suficiente e de qualidade para abastecer os cochos, produtores de carne e de leite dos estados do Sul do Brasil (incluindo parte do MS), podem amargar prejuízos safra após safra. No ciclo 2019/2020 a estiagem deixou sequelas marcantes e a previsão é de novo déficit hídrico de dezembro até o final do primeiro trimestre de 2021, o que pode novamente impactar boa parte de um rebanho bovino que totaliza 27 milhões de cabeças (PPM/IBGE/2017) – contando somente os estados da Região Sul. Na incerteza de se apostar apenas no milho para ensilagem – em função da previsão de poucas chuvas – a alternativa vem sendo incluir no sistema produtivo o cultivo de materiais mais rústicos para silagem, com boa adaptação às condições de pouca pluviosidade ou de escassa reserva de água no solo.
Para se juntar ao binômio pasto e silagem de milho, como fonte de volumoso, uma das opções mais indicadas é o sorgo. “Quem produz leite ou carne no Sul do Brasil deve repensar a gestão de volumoso na fazenda para fazer frente às intempéries que a cada ano comprometem seus resultados financeiros. Além da silagem de milho, que efetivamente é melhor, o pecuarista deve, por uma questão de segurança alimentar, reservar uma área para produzir silagem de sorgo forrageiro”, sugere Willian Sawa, diretor da Latina Sementes, com sede em Foz do Iguaçu e distribuidora da genética AgricomSeeds para a América do Sul.
Segundo ele, a planta é muito mais resistente ao déficit hídrico e oferece uma silagem de baixo custo: “Para produzir um quilo de silagem do sorgo gigante boliviano, por exemplo, o produtor da Região Sul vai desembolsar, no máximo R$ 0,05, incluindo sementes e todo o serviço contratado para plantio e colheita; praticamente um terço do custo de uma silagem de milho”.
No que se refere ao sorgo gigante boliviano, em experimentos realizados no Paraná pela G12 Agro Consultoria, sob a coordenação do engenheiro agrônomo Igor Quirrenbach, o material conseguiu uma produção de 105 t/ha de massa verde quando plantado na safra de verão (ao longo de 134 dias) e de 50 t/ha na safra de inverno/safrinha (ciclo de 115 dias). “Na pecuária de corte, por exemplo, um hectare cultivado com o sorgo gigante pode alimentar até oito unidades animal (ua)/ha/ano”, garante. O ganho de peso diário (GMD), segundo ele, pode variar entre 0,5 a 1,5 kg, dependendo do nível de suplementação da dieta.
Tendência e janelas
Tudo caminha para que o déficit hídrico permaneça no Sul do País nos próximos meses. Um dos alertas veio de um boletim do Conselho Permanente de Meteorologia Aplicada do RS (Copaaergs) que prevê anomalias climáticas provocadas pelo fenômeno La Niña entre a primavera de 2020 até o verão 2020/2021. O documento indica que mesmo com padrões de chuva mais próximos da média em dezembro, as temperaturas devem permanecer acima do normal, provocando uma evapotranspiração mais intensa.
Para quem pretende adicionar o sorgo como opção de segurança alimentar em volumoso, Willian Sawa avisa que a janela de plantio recomendada fica entre os meses de julho e setembro. “O primeiro corte pode ser feito 115 dias após, mas há a possibilidade de antecipação deste corte em caso de emergência por geadas, por exemplo”, observa. Mas para quem vive hoje a expectativa de ficar sem volumoso até o final do verão, o diretor da Latina Sementes sugere um plantio contingencial. “Considerando a Região Sul, uma semeadura em caráter emergencial pode ser feita, no máximo, até o dia 10 de janeiro”, avisa.
As sementes de sorgo gigante boliviano (Agri 002E) começaram a ser cultivadas no Brasil ao final de 2017. As projeções são de que a extensão de plantio comercial chegue a 120 mil hectares (ha) no ciclo 2020/2021 e pule para 250 mil ha na safra 2021/2022. A versatilidade é o ponto alto do material. Além do uso para silagem é recomendado para pastejo, recomposição de solo, compostagem e produção de biomassa.
Prejuízos
Ao final de novembro, a ausência de chuvas em Santa Catarina já comprometia a produção de milho para a silagem, a ponto de produtores decidirem pelo abate de vacas leiteiras com receio de que falte comida para os animais em 2021. Os pecuaristas do Sul do Brasil têm ainda fresco na memória os prejuízos provocados pela estiagem na última safra. Entre dezembro de 2019 e março de 2020, só o Rio Grande do Sul amargou uma redução de 114,3 milhões de litros em sua produção leiteira, representando uma queda de 8,9% do esperado para o período e uma perda de R$ 137 milhões para a economia gaúcha. Como a baixa pluviosidade provocou queda na produção e nos atributos das lavouras de milho, isso terminou comprometendo a qualidade da silagem estocada.
Com relação à bovinocultura de corte, os efeitos mais rápidos da estiagem puderam ser sentidos na perda de condição corporal das fêmeas, comprometendo as taxas de prenhez. Fica claro que os maiores reflexos serão percebidos mais à frente, através de efeitos “negativos no futuro desempenho da progênie, atrasando a idade à puberdade e reduzindo a fertilidade das fêmeas”. Com relação aos machos, há previsão de que a estiagem “afetará o desenvolvimento e a composição corporal, implicando em menores rendimentos de carcaças e graus de acabamento, mesmo quando submetidos a altos níveis nutricionais durante a recria e a terminação”.