Justiça marca data da reconstituição do crime que vitimou Guilherme Becher, morto pelo ex-presidente da Câmara de Castro
Sandro A. Carrilho*
Castro (PR) – A aguardada reconstituição da morte do empresário Guilherme de Quadros Becher, ocorrida em 20 de novembro de 2024, em que o autor é o ex-presidente da Câmara Municipal de Castro, Miguel Zahdi Neto – Neto Fadel -, já tem data marcada. Será em 6 de junho, seis meses e meio após o crime, devendo acontecer em duas etapas. Neto Fadel é sobrinho em primeiro grau do ex-prefeito e deputado estadual (por força de liminar) Moacyr Elias Fadel Junior, e comandou a Prefeitura de Castro pelo período de seis meses, no ano de 2024, após licença médica de Alvaro Telles.
A simulação do crime começa ainda pela manhã, às 9 horas, quando a viúva, mãe e pai de Guilherme irão reviver os momentos tristes que resultaram na morte do familiar. Às 14 horas será a vez do acusado e informantes, totalizando seis, descreverem passo a passo como ocorreu esse crime, um dos mais violentos da história de Castro em que um político está envolvido.
Em conversa com o advogado Fernando Madureira, que ao lado do também advogado Jairo Baluta defende os interesses da família Becher, a simulação contará com a presença do Instituto Criminalística, que coordenará os trabalhos, como também do delegado de polícia Luis Gustavo Timossi, dos advogados de acusação e defesa, além de um promotor de Justiça. À tarde o procedimento será o mesmo, podendo ou não a simulação ter a presença de Neto Fadel. A reconstituição é um procedimento previsto no art. 7º do Código de Processo Penal brasileiro, utilizado pela autoridade policial para esclarecer aspectos de um crime, especialmente quando há dúvidas sobre o modus operandi do agente. Este procedimento é facultativo e sua realização depende da complexidade do caso, não podendo o investigado ser obrigado a participar, respeitando o princípio da não autoincriminação.
Com a reconstituição realizada, equipe de investigação, incluindo peritos e policiais, analisa as informações para verificar a compatibilidade entre os depoimentos e as evidências, e identifica possíveis inconsistências nas versões apresentadas. Na sequência, um relatório detalhado é elaborado, incluindo fotografias, vídeos e outras evidências, que servirão como base para as próximas etapas da investigação. Caso a investigação encontre elementos suficientes, o suspeito será indiciado. Com o indiciamento, a Polícia encaminha o inquérito policial ao Ministério Público que analisa e decide se deve oferecer denúncia. Se a denúncia for aceita pelo juiz, é nesse momento que Neto Fadel passa a ser réu em um processo criminal. Todo esse trâmite não levaria menos de seis meses, prevê Madureira.
Tiros
Um detalhe relevante e ainda não divulgado pela Polícia Civil é o número exato de disparos que atingiram Guilherme. O laudo específico com essa informação foi mantido fora do inquérito até o momento. “O laudo com o número de disparos que atingiu a vítima não foi juntado no inquérito para não prejudicar a investigação”, esclareceu o advogado, em reportagem anterior.
No entendimento de Madureira “não houve legítima defesa neste caso. Quem fez a provocação foi o investigado que foi preparado e atirou, cinco vezes ou mais, inclusive quando Guilherme estava caído no solo. Acredito que ele vá a júri popular, com boas chances de ser condenado”. E mais, “o investigado é um sujeito violento, não sei como a Polícia Federal deu a ele porte de arma, com tantos antecedentes”, acrescentou o advogado.
Relembre o caso
Na tarde de 20 de novembro de 2024, o então vereador Miguel Zahdi Neto efetuou disparos que mataram Guilherme de Quadros Becher. A confusão teria começado após o empresário se incomodar com o barulho de um quadriciclo usado por crianças no condomínio. A versão inicial, divulgada pela Polícia Civil, indicava que Guilherme teria disparado contra a residência da família de Neto e, em seguida, sacado duas armas – uma pistola calibre .380 e um revólver .38 – efetuando novos disparos. O então presidente da Câmara teria reagido, também atirando, resultando nos ferimentos fatais.
Neto Fadel apresentou-se voluntariamente à delegacia e foi liberado após o delegado de plantão entender que os disparos ocorreram em legítima defesa. Na ocasião, apenas pessoas ligadas ao acusado foram ouvidas, pois os familiares da vítima ainda se encontravam em estado de choque.
Agora, com o avanço das diligências e a iminente realização da reprodução simulada, o caso entra em nova fase. A expectativa é que a reconstituição ofereça elementos decisivos para que o Ministério Público possa se posicionar sobre eventual denúncia formal. A investigação segue sob responsabilidade da Polícia Civil de Ponta Grossa.
*Com Redação