SETOR MADEIREIRO EM ALERTA – Tarifas dos EUA e investigação da União Europeia ameaçam exportações brasileiras
Empresas como a Madeireira Brandes, de Carambeí, já sofrem com cancelamentos de pedidos e risco de colapso no mercado internacional
Emerson Teixeira
Carambeí – O setor madeireiro brasileiro, especialmente o de compensados, enfrenta um cenário de incerteza e apreensão. Duas frentes de batalha comercial, uma nos Estados Unidos e outra na União Europeia, ameaçam impactar significativamente as exportações e a saúde financeira das empresas do segmento. A decisão do governo norte-americano de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, somada à recente abertura de uma investigação antidumping pela Comissão Europeia, coloca o setor em estado de alerta máximo.
A medida imposta pelo presidente Donald Trump, que incide diretamente sobre produtos como compensado, madeira serrada, molduras de pinus e painéis processados, gerou preocupação imediata entre os exportadores brasileiros. Empresas que tinham nos EUA um mercado estratégico agora veem suas operações comprometidas. A Madeireira Brandes, localizada em Carambeí, no Paraná, é um exemplo claro desse impacto.
Em entrevista ao Página Um News, Thiago Brandes, gerente da Madeireira Brandes, detalhou a situação. “Nosso mercado nos EUA era em torno de 15%, em torno de 180 toneladas, 300 m3 ao mês de compensado, mas com a taxação esse valor vai zerar, ninguém vai comprar nada. Pedidos previamente fechados já foram cancelados, o que representa em média $80.000 ao mês”.
Paralelamente à barreira americana, o setor madeireiro brasileiro se vê às voltas com uma investigação antidumping iniciada pela União Europeia. A queixa, apresentada pelo “Softwood Plywood Consortium”, aponta para a suposta venda de madeira compensada brasileira abaixo do preço de custo no mercado europeu. Essa acusação, se confirmada, pode resultar na aplicação de taxas adicionais, dificultando ainda mais o acesso a um dos principais mercados para o compensado de pinus brasileiro.
Thiago Brandes ressaltou a ironia da situação: “O nosso maior cliente é a Europa, então o mercado dos EUA não vai influenciar por hora. Só que a União Europeia entrou com um processo antidumping contra o Brasil no compensado de pinus, o foco de todos os produtores para sobreviver era aumentar as vendas nos EUA”. Ele complementou: “Na prática, os produtores europeus acusam os produtores brasileiros de vender os produtos abaixo do preço de custo na Europa, e querem uma taxa nos produtos brasileiros para proteger a produção local”. A investigação está em andamento, com auditorias já realizadas em algumas empresas brasileiras e um julgamento marcado para outubro.

Dupla Ameaça
A combinação das tarifas americanas e da investigação antidumping europeia cria um cenário de dupla ameaça para o setor. A Madeireira Brandes, por exemplo, exporta 95% de sua produção de compensado para os mercados europeu e americano, com apenas 5% destinado ao mercado interno. Com 150 funcionários em Carambeí, a empresa reflete a vulnerabilidade de muitas outras no país.
“Confirmando os dois, vai ser um quebra-quebra generalizado”, alertou Thiago Brandes, expressando a preocupação que se estende a grandes players do mercado, como Sudati e Guararapes. A dependência de mercados externos e a simultaneidade das barreiras comerciais impõem um desafio sem precedentes para a indústria.
Governo
Diante desse quadro, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) tem atuado para apoiar os exportadores brasileiros. Em um despacho enviado pela Coordenadora de Apoio ao Exportador, Compliance e Apoio Jurídico, Elisa de Ananias Fraga, o MDIC informou sobre o início da investigação antidumping da UE e orientou as empresas sobre os procedimentos e prazos para cooperação. O documento destaca a possibilidade de limitação do número de produtores a serem investigados por meio de amostragem e a importância de fornecer as informações solicitadas dentro do prazo de sete dias.
O MDIC também alertou para a indicação de que os níveis de dumping nas exportações brasileiras de madeira compensada para a UE situar-se-iam entre 87% e 131%, margem que pode ser usada como melhor informação disponível pela autoridade europeia em caso de não cooperação.
Paraná
O Estado é um dos maiores exportadores de madeira para os Estados Unidos, especialmente de compensado, madeira serrada e molduras de pinus, fundamentais para a construção civil norte-americana. Dados da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) apontam que aproximadamente 40% dessa madeira provém do estado.
Em 2025, os estados do Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) exportaram juntos US$ 1,37 bilhão em produtos de madeira para os EUA, representando 86,5% do total exportado pelo Brasil nesse setor.