Agência Estadual de Notícias
O ano de 2020 ficará marcado pela entrega, pelo Governo do Estado, de uma das obras mais difíceis e emblemáticas da Região Metropolitana de Curitiba: a revitalização da Rodovia da Uva, em Colombo. A intervenção demorou dez anos e reuniu uma salada de imbróglios judiciais, quatro contratos, falência, abandono, furtos e inúmeros outros vai e vens.
A modernização da via tinha toda a receita para não sair do papel e ainda encontrou um ano com pandemia e ciclone-bomba, depois de um 2018 de greve dos caminhoneiros com pontos de paralisação na pista, mas uma força-tarefa conseguiu finalizar os trabalhos em julho e entregar uma nova rodovia de maneira definitiva para a população.
“Até que enfim melhorou, depois de tantos anos. Ninguém nem acreditava mais que isso pudesse sair do papel”, afirma o aposentado Vitorino dos Santos, que mora há mais de 30 anos em Colombo, resumindo o sentimento geral de uma população que chegou a se acostumar com a probabilidade do quase.
Para resolver a questão, o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR) investiu o equivalente a R$ 37,7 milhões no Lote 2 (que vai do Contorno Norte até o entroncamento com a Rua Orlando Ceccon) da Rodovia da Uva (PR-417). Esses recursos foram usados para contratar uma empresa responsável por finalizar as obras iniciadas em 2011 e outra para executar viadutos.
O primeiro combo, de R$ 33,4 milhões, contemplou 6,2 quilômetros de pavimentação, sendo 4,9 quilômetros de pistas triplas em cada sentido e 1,36 quilômetro de recuperação no perímetro urbano, ciclovia, calçadas, drenagem, muros de contenção, semáforos, iluminação, canteiro central e sinalização horizontal e vertical.
O segundo, de R$ 4,3 milhões, consistiu em dois viadutos paralelos com 41 metros de extensão cada na entrada da Avenida Santos Dumont, junto com os novos acessos aos bairros da região: Parque do Embu, Jardim Santa Fé, Itajacuru e vários outros. Esse acesso revitalizado, um pouco à frente do início do Contorno Norte, foi idealizado para garantir segurança no tráfego.
“A Rodovia da Uva é simbólica para o Paraná e para a Região Metropolitana de Curitiba. As obras ali se arrastavam há anos. Os nossos técnicos trabalharam arduamente nos últimos 30 meses para resolver as questões pendentes e conseguimos concluir o que ainda restava”, afirma o governador Carlos Massa Ratinho Junior. “Com as três pistas destravamos o fluxo entre as duas cidades e levamos mais segurança para a população”.
HISTÓRIA – A história da revitalização da rodovia que tem o nome da fruta do brasão de Colombo é permeada de dificuldades e envolveu, como um todo, investimento de cerca de R$ 50 milhões do Estado. Ela é tão antiga e cheia de retalhos que mesmo atualmente, seis meses depois da entrega, ainda gera trabalho intenso de conclusão dos processos.
As primeiras máquinas entraram na pista simples com acostamento em fevereiro de 2010. Foi feita a terraplanagem de alguns pontos e a empresa que venceu a licitação da época abandonou o canteiro. O Governo do Estado abriu uma nova concorrência e em setembro de 2013 máquinas de outra companhia voltaram a pisar na Uva.
Essa empreiteira chegou a desenhar 20% do trecho, inclusive com a implementação de algumas camadas asfálticas, mas ela faliu durante a última grande crise econômica.
Após a nova reviravolta, foi feita uma nova licitação e em maio de 2018 as obras voltaram a andar, mas ainda com dificuldades por conta de desapropriações que ficaram sem resolução e de muros incompletos que tiveram parte da estrutura de ferragens furtada. A operação deveria levar um ano, mas atrasou um pouco.
Nesse meio tempo também foi idealizada a licitação adicional dos viadutos do acesso a Santos Dumont para resolver o histórico de acidentes do trecho. Eles começaram a ser construídos em novembro daquele ano e acabaram mais ou menos junto com a obra da pista.
Segundo o secretário e Infraestrutura e Logística, Sandro Alex, a missão do Estado era terminar esse projeto e entregar mais qualidade de vida para a população.
“A Rodovia da Uva revitalizada é uma conquista de todos os paranaenses. Estamos entregando grandes obras na Região Metropolitana de Curitiba, que é a área mais populosa do Estado e que precisa de muita infraestrutura”, acrescenta. “E, ao mesmo tempo, viabilizando outras, como a Rodovia dos Minérios e as novas trincheiras em Campo Largo. O trabalho não vai parar”.
MELHORIAS – O gerente de posto Douglas Cabral trabalha na Rodovia da Uva há 11 anos, praticamente todo o tempo da obra. Ele afirma que essa demanda estava represada há 20 anos. “Tinha apenas a pista que ia e a que voltava, com estacionamento ruim, com histórico de acidentes, lombadas. Era terrível para virar, vindo ou indo para Curitiba. E tinha muito congestionamento, era impossível não pegar”, afirma. “Ela melhorou demais a vida em Colombo”.
Valdecir Bonfim, motorista de ônibus há 24 anos, destaca que as pessoas tentavam até desviar a Rodovia da Uva nos anos recentes. “Tem muitas empresas na região, muito tráfego. Antes era um fervo nos horários de pico, parava tudo. À tarde, se pudesse não sair de casa, era melhor não sair. Deixar os bairros para entrar na rodovia não era fácil. Agora tem trincheira, semáforo, sinalização. Facilitou”, afirma.
“Antigamente se perdia muito tempo na Rodovia da Uva. Pegava um caminhão na frente e podia esquecer, não dava para ultrapassar 20 km/h, demorava 30 minutos para andar alguns quilômetros. Agora em 10 minutos você completa o trecho inteiro que já está revitalizado”, afirma Adalto Oliveira, que também é motorista de ônibus. “E é uma obra fundamental porque é uma ligação importante com Curitiba”.
Ariane Michalski, que trabalha em uma loja de MDF e material de decoração, comemora a fluidez do trânsito. “As pessoas estão se conscientizando dessa nova rodovia, já há fluidez, não tem mais paralisação”, completa.
Ela ainda destaca os benefícios acessórios da revitalização. “As pessoas usam muito a ciclovia, por exemplo, principalmente agora durante a pandemia, em que a recomendação é fazer exercício ao ar livre. Isso foi facilitado pela iluminação. Tem gente o tempo todo na rodovia”.
Os moradores de Colombo corroboram, ainda, as melhorias com as calçadas, a ciclovia e a iluminação. “Antigamente tinha que andar no acostamento, tudo cheio de buraco. E antes também não tinha iluminação, agora ficou bem melhor”, acrescenta o aposentado Ricardo Socher.
Valmir dos Santos é um dos usuários da ciclovia, que compreende todo o trecho revitalizado. O espaço exclusivo fica do lado direito da pista de quem vai de Colombo a Curitiba. “Para quem usa bicicleta ficou 100% melhor, antigamente não tinha nada, só um acostamento ruim, e era preciso andar no meio dos carros”, completa
Para a diarista Paulina Chalamay Tavares o principal benefício é a interrupção de uma rotina de acidentes. Ela mora no Embu, bairro vizinho à Rodovia da Uva, há 25 anos. “Antes era muito perigoso. Muita gente perdeu a vida nessa pista. Agora, depois da duplicação, ficou melhor. É um pedido de anos que finalmente saiu do papel”, arremata. “E para pegar ônibus também melhorou. É tudo mais fácil, mais rápido, mais seguro”.
NOVO LOTE – O DER-PR trabalha nesse momento em cima do projeto executivo de duplicação do Lote 1 da Rodovia da Uva, que começa ao lado da Paróquia Santa Cândida, em Curitiba, e vai até o entroncamento com o Contorno Norte. Esse trecho de 4,2 quilômetros deverá ter interseções em desnível, como viadutos ou trincheiras, nas confluências entre outras rodovias e uma rotatória na região do bairro Santa Cândida, projetando fluxo contínuo de veículos. O documento deve ficar pronto em fevereiro.
CONTORNO NORTE – Também está em fase de Estudo de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) o projeto de estender o Contorno Norte da Rodovia da Uva até a BR-116. A coordenação é do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). O levantamento deve ficar pronto na metade do ano que vem.
REGIÃO METROPOLITANA – Está em fase de projeto, ainda, a duplicação da PR-506, no município de Campina Grande do Sul. O trecho inicia no quilômetro 21,7 da rodovia, na altura da interseção da PR-506 com a BR-116, próximo a Quatro Barras, e segue por aproximadamente 8,1 quilômetros em direção ao perímetro urbano da cidade. Ele ficará pronto em junho de 2021.
O desenho do traçado deverá considerar a influência do tráfego gerado pelo Hospital Angelina Caron e pelo Corpo de Bombeiros, presentes no trecho, e propor soluções para resolver a questão dos acessos a esses locais, levando em conta sua interferência nas margens da PR-506.