Luana Dias
Ao longo dessa semana a reportagem do Página Um News foi procurada por usuárias da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Castro, que relataram situações, segundo elas, ocorridas no último final de semana. O primeiro caso é o de uma criança, de seis anos de idade, que há cerca de dez dias sofreu um acidente e teve parte de um dedo da mão amputada. A mãe levou o menino para fazer os curativos, recomendados pelo médico, em postos de saúde do município entre a segunda e a sexta-feira, no sábado e no domingo, porém, o único lugar, do Sistema Único de Saúde, aberto para realizar o procedimento na cidade é a UPA.
Como trabalhou domingo ao longo do dia, a mãe da criança a levou na UPA por volta das 17 horas para realizar o curativo, no entanto, quando chegou ao local recebeu a informação de que os curativos eram feitos somente até as 11h30. No dia anterior, porém, ela não foi informada sobre esse horário, assim como, segundo ela, não existiam informativos sobre a condição na UPA. Após ser questionada sobre o fato de não estarem abertas outras unidades para realizar o procedimento, a atendente a encaminhou para a triagem, onde a mãe da criança conversou com três enfermeiras. Elas confirmaram o horário (de 11h30) para curativos, e afirmaram que não poderiam fazê-lo porque estavam trabalhando em uma emergência. Inclusive, teriam convidado a mãe para entrar no local de atendimento e conferir o fato. A mãe, no entanto, se recusou, tentou atendimento em uma farmácia, onde também não conseguiu, devido à pandemia. Ao voltar à UPA, foi convidada a esperar, por conta da já citada emergência. Ela então gravou um vídeo, curto, onde mostra duas pessoas na recepção da Unidade, e um ambiente aparentemente calmo. Ela questiona, sobretudo, se eram necessárias as três profissionais para o atendimento emergencial.
“A atendente me disse que não tinha ninguém para fazer o curativo, que não faziam mais depois das 11h30 e mandou conversar na triagem, lá tinham três enfermeiras e as três disseram que não faziam curativo, questionei o fato de ser o único lugar onde se pode ir no final de semana, uma delas confirmou que só era feito pela manhã, até 11h30, comentei que ninguém tinha me avisado, e não havia comunicados no local. Ela me mandou aguardar, que estavam com emergência, sem nem ter feito a minha ficha, fiquei ali esperando uns cinco minutos, mas vi que não tinha ninguém na UPA, estava tudo calmo, saí para tentar fazer na farmácia, também não fizeram por causa da pandemia, e afirmaram que era só na UPA mesmo, voltei lá e gravei, não tinha ninguém, estava tudo clamo. Questionei a atendente, ela chamou uma enfermeira, que me mandou entrar para ver que ela estava com emergência, de infarto, ai questionei: como ia expor meu filho lá dentro, correndo riscos? A enfermeira então respondeu: se você quiser fazer o curativo, você espera! Com três enfermeiras para tratar de uma emergência só, acabei indo embora e fazendo o curativo em casa”, descreveu a mãe do paciente.
Ao conversar com a reportagem, ela desabafou, e disse considerar descaso a forma como foi tratada. “Não informam nada e apenas pedem para aguardar. Muitas vezes você entra lá dentro e encontra profissionais mexendo no celular, olhando redes sociais, é essa a emergência em certas situações”, destaca.
Outra situação descrita à reportagem, também foi vivenciada por uma mãe, que levou sua filha de sete anos à Unidade, com sintomas de gripe e com dor de garganta. Segundo a genitora da criança, quando chegou à sala de atendimento, foi questionada pelo médico se a criança de fato estava doente. “Você acha que uma mãe vai levar seu filho a uma Unidade de Pronto Atendimento, em plena pandemia, se o filho de fato não estiver doente?”, questionou ela, ao descrever o atendimento. A mesma mulher, que pediu para não ser identificada na matéria, teria presenciado outra paciente, que foi ao local com sintomas de gripe, ter o atendimento negado.
A reportagem conversou com a secretária de Saúde de Castro, Maria Lidia Kravutschke, para quem as situações foram descritas, conforme relatado pelas mães. A secretária afirmou que negar atendimento é crime, e que a afirmação de que a paciente saiu sem ser atendida do local, não procede. Ela confirmou o horário para a realização de curativos aos domingos, porém, disse que existem informativos no local. “Nós temos muitos pacientes que fazem curativos durante a semana. Os que precisam, sabem da rotina. Essa mãe deve ser um curativo temporário. Nós esterilizamos materiais, o UPA tem um fluxo. Pacientes são orientados porque de manhã tem menos pessoas”, finalizou.