Luana Dias
Especial Página Um News
Durante a quinta-feira (3) novas cargas de madeira foram extraídas de propriedades rurais invadidas por grileiros, que estão reivindicando a posse de áreas, na região do São Luiz dos Machados e comunidades adjacentes, como Paina e Quebrada Funda (região do Socavão), no interior do município de Castro. As ações, que foram iniciadas no mês de janeiro e que já foram responsáveis pela retirada de mais de cem toneladas de madeira das áreas, estão desafiando proprietários de terras na região, assim como as autoridades locais, e já mobilizaram entidades, como o Sindicato Rural de Castro. O órgão inclusive, emitiu ofício esta semana e enviou à diversas autoridades municipais e do estado, declarando que há temor pela possiblidade de confrontos armados na região. Segundo produtores locais, de fato já ocorreram princípios de conflitos nas comunidades, e, moradores perceberam a circulação de pessoas desconhecidas pelos residentes, visivelmente armadas.
Além de invadirem e extraírem ilegalmente madeira das propriedades, os grileiros também estão ameaçando, por exemplo, colocarem fogo em máquinas e equipamentos pertencentes as fazendas, intimidando funcionários das propriedades e impediram trabalhadores de uma empresa, que havia comprado parte das madeiras, de continuarem uma estrada (que estava sendo feita justamente para a retirada das madeiras). “Um funcionário da minha propriedade foi acuado, assim como o pessoal que estava trabalhando na estrada, eles entraram, fizeram ameaças e impediram o pessoal de continuarem trabalhando no local. Estavam armados até os dentes”, explicou um dos proprietários de terra, ouvido pela reportagem, e que pediu para não ter o nome divulgado.
De acordo com donos das terras que estão entre as invadidas, propriedades de várias comunidades estão sob ação dos grileiros. Mais de 709 imóveis rurais e cerca de duas mil famílias, entre proprietários e funcionários, comunidades, comércios e a indústria compradora, estariam sendo diretamente afetadas. Os invasores alegam que são donos das áreas, e segundo levantamentos feitos pelos próprios produtores, estão apresentando documentos falsos (matrícula de propriedade das áreas), usados no passado como garantia em transações financeiras, realizadas com instituições bancárias.
As ações foram denunciadas a diferentes autoridades, por meio do ofício destinado pelo Sindicato Rural de Castro. O documento foi encaminhado para as quatro promotorias da Comarca de Castro, aos juízes das Varas Cível e da Fazenda Pública de Castro, da Vara Criminal, da Vara de Família e Sucessões, Infância e Juventude, ao comandante da 3ª Companhia de Polícia Militar do município, ao chefe do Escritório Regional de Ponta Grossa, ao presidente do Tribunal de Justiça do Paraná, ao secretário de Segurança Pública e para o prefeito de Castro. A reportagem também tentou ouvir algumas destas autoridades, no entanto, de acordo com a Polícia Civil de Castro, responsável pelas investigações, o caso ainda não pode ser mencionado à imprensa.
O proprietário ouvido pelo Página Um News na quinta-feira, conversou com a reportagem justamente enquanto ocorria o carregamento ilegal de madeiras na sua propriedade. Ele afirmou que desta vez não foi possível contar com policiamento, mesmo estando ciente de que novas cargas de madeira seriam retiradas da área. Em meados do mês de fevereiro a Polícia Civil interceptou uma venda de mais de cem toneladas de madeira, retirada da mesma área pelos grileiros, e que estava sendo comercializada em uma madeireira de Carambeí. O produtor acredita que cerca de 170 toneladas de madeira farão parte desse segundo carregamento. Toda a madeira, inclusive, já havia sido vendida pelo proprietário, no ano passado. “Estão carregando três ou quatro caminhões de madeira na nossa área hoje. Levamos 18 anos para colher os frutos do trabalho lá, vendemos a madeira no ano passado, e agora o carregamento está sendo feito por essas pessoas”, destacou o proprietário.
Desdobramentos
A primeira abordagem em uma das áreas invadidas ocorreu no dia 4 de janeiro deste ano, quando os grileiros chegaram ao local afirmando que eram os proprietários, e que funcionários que estavam a trabalho deveriam deixar o local. Foram feitos Boletins de Ocorrência, inclusive pela empresa que havia comprado as madeiras do proprietário legítimo, e o mesmo conseguiu provar na justiça, através de documentos, que a área o pertence.
No entanto, os grileiros voltaram ao local armados, e ordenando que ninguém tocasse nas áreas. Os donos das terras entraram com pedido de reintegração de posse, a juíza que atendeu ao caso cedeu a reintegração, porém, os invasores deram início ao corte das madeiras, alegando que a extração não ocorria na mesma área. Os caminhões com a madeira foram abordados e a carga foi apreendida, mas na semana passada os homens retornaram ao local e retomaram a extração.
A área em questão pertence ao entrevistado desde o ano de 2004, antes, porém, pertenceu a uma mesma família por cerca de cem anos. De acordo com o atual proprietário, ao longo desse período não houve registro de situação semelhante, e ninguém havia alegado posse das áreas, além da família que o vendeu os terrenos.