Luana Dias
O centro da cidade de Castro tem imóveis com mais de 150 anos. Só a presença deles já confere à cidade, que está em pleno desenvolvimento, característica única. Trata-se de um cenário que mistura história e preservação, com a contemporaneidade dos novos empreendimentos e residências que chegam ao município, com elementos da arquitetura moderna. Alguns desses imóveis são, inclusive, tombados pelo Patrimônio Cultural do Estado do Paraná, e existe um projeto em andamento para a regularização do tombamento de alguns outros. Mas, um empresário castrense, dotado de visão de futuro, vem investindo na preservação de casas muito antigas que estão na área central, e que depois dos investimentos e de uma repaginação que respeita características originais, tornam-se potenciais pontos comerciais que embelezam e dão originalidade à cidade.
Ao todo, Cláudio Kugler já adquiriu quatro imóveis com essas características, além do hotel de sua família, que também é o resultado da repaginação de uma área antiga, onde já havia funcionado um empreendimento do mesmo setor. Dois desses imóveis estão entre os que foram tombados oficialmente.
A primeira edificação antiga restaurada pelo empresário abrigou o inesquecível Cine Plaza, que ao longo de quase 35 anos foi uma das principais atrações culturais do município. O imóvel, cuja construção começou em abril de 1957, foi inaugurado, como cinema, em setembro de 1958, e, depois de permanecer fechado por muitos anos, estava em um terreno abandonado e com a estrutura do teto muito comprometida quando surgiu a oportunidade de Kugler o adquirir. Foram necessários alguns meses de obra para que o prédio estivesse pronto para abrigar a moderna agência bancária que é hoje. No entanto, lá ainda está a primeira sala de cinema da cidade, inclusive com equipamentos de projeção originais.
O segundo imóvel antigo adquirido e restaurado por Cláudio Kugler hoje também abriga uma agência bancária moderna, cujas instalações chamam atenção pela beleza da arquitetura e preservação das características originais, de uma casa que começou a ser construída em 1862 e que está entre as que foram tombadas pelo Patrimônio do Estado. Foram mais de dois anos de obras e mesmo após a restauração, a casa, que tem paredes de pedra, guarda muitas das referências iniciais. Sua edificação, segundo informações da Coordenação do Patrimônio Cultural (CPC) da Secretaria de Estado da Comunicação e da Cultura, é obra de um escravo a quem foi prometida alforria em troca do trabalho. Porém, quando concluiu a casa, ele não só não teria sido liberto, como foi vendido para continuar a trabalhar em construções.
De acordo com Cláudio Kugler, oportunidades como a de comprar esse imóvel surgiram sem que ele tivesse planejado, no entanto, ele enxergou na oferta, a possibilidade de ajudar a conservar imóveis que fazem parte da história da cidade. “Fechamos o negócio, para depois estudar o que faríamos com o imóvel. Acabou sendo alugado só quando estava praticamente todo reformado. Mas durante a restauração, sempre tivemos a preocupação de manter a fachada e tudo o que podia ser mantido, o mais original possível. Podemos dizer que é um gosto pessoal, que se alinhou com a oportunidade comercial” explica.
Em 2021 uma nova oportunidade bateu à porta de Cláudio Kugler e ele acabou adquirindo um imóvel de 1880 – a casa que foi de João José da Fonseca, e que no século XIX foi destinada tanto para moradia como para o comércio, cuja construção data de uma época em que a economia de Castro movia-se pelas fazendas e comércio das tropas de gado e muares.
Localizado na Praça Manoel Ribas, número 120, o imóvel é igualmente tombado e é especial até para a equipe do Página Um News, afinal, foi o local onde esteve a redação do jornal durante cerca de 20 anos. Além de ter sido a sede onde por quase duas décadas eram produzidas as reportagens, a casa também já foi estúdio de fotografia, imobiliária e lar de mais de uma família. O casarão, como é popularmente conhecido, tem as paredes de taipa, com cerca de 70 a 80 centímetros de largura. Para tornar-se apto e abrigar novamente um estabelecimento comercial, o imóvel está em reforma e deve ter a cobertura concluída até no próximo mês de junho. Quando pronto, o imóvel terá capacidade para abrigar até dois comércios.
Seu restaurador conta alguns detalhes sobre a obra em andamento. “As telhas que serão usadas estão vindo de São Paulo, e seguem o mesmo modelo das que eram usadas originalmente. As paredes originais serão mantidas e todas as janelas também serão no mesmo sistema, mas a casa vai passar a ter acessibilidade”, destaca o empresário.
Por último, Cláudio Kugler adquiriu o antigo botequim e tabacaria da Praça Manoel Ribas. O local onde durante muitos anos os castrenses se reuniram para tomar cerveja e jogar sinuca, também deve passar por repaginação e depois de estudos de viabilidade, pode ser disponibilizado para locação, mas para esse imóvel Kugler ainda não tem planos definidos. Ele possui apenas uma certeza, deverá manter o máximo de características originais possível. “O bar é um projeto de futuro, afinal, tudo o que fazemos deve ter visão de futuro. Estamos estudando o projeto para que não destoe dos demais”, destacou.
Enquanto conversou com a reportagem, o empresário relevou sua motivação para investir em imóveis antigos, e segundo ele, pouco tem a ver com a lucratividade que resulta dos aluguéis. Cláudio Kugler, além de pensar em fazer girar a economia do município, também tem gosto pessoal pela preservação, e, considera os imóveis antigos e históricos de Castro, como sendo patrimônio de quem vive aqui. “Com isso vamos contribuindo um pouco com a cidade e fazendo uma conservação do patrimônio nosso. Não é só porque é patrimônio histórico, mas porque eu gosto disso, e dessa forma ajudamos a conservar o que é nosso. Quando a gente tem um ideal, não pode ver custo. Se eu fosse economizar, teria que derrubar alguns desses imóveis e fazer novos, mas optamos por fazer isso sem pressa e com o objetivo da preservação”.
Projetos contam com a mãozinha especial de uma mente brilhante
Um detalhe especial e que faz parte da restauração dos imóveis adquiridos e repaginados pelo castrense Cláudio Kugler é a participação do amigo e também castrense, Domingos Bongestabs. O arquiteto, que é considerado um dos principais nomes da arquitetura no estado, nasceu em Castro e é amigo pessoal e ex-colega de escola de Cláudio Kugler, e é ele quem assina o projeto de todas as restaurações feitas pelo empresário.
Cláudio Kugler conta que sempre fez questão de chamar o amigo para empregar o mesmo talento que assina projetos como o da Ópera de Arame, da Universidade Livre do Meio Ambiente, do Centro de Pesquisas da Copel (Chapéu Pensador), Edifício da Polícia Federal de Brasília (em parceria com os arquitetos Marcos Prado e Jaime Lerner), Espaço das Américas, Foz do Iguaçu e Câmara Municipal de Castro, para desenvolver as melhorias necessárias nos imóveis que ele vem restaurando. “Além de ser um grande amigo, ele também é um excelente profissional”, finaliza Kugler.