Casal de médicos testa CoronaVac

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Luana Dias

Dentre os mais de 10 mil voluntários, que participam da fase três de testes da vacina Coronavac, está o casal de médicos castrenses Matilvani Moreira e Lígia Vasconcelos Moreira. Além de contribuir com a pesquisa nesta importante fase do desenvolvimento da vacina, eles, assim como milhares de brasileiros, também estão na expectativa pelos resultados dos testes de eficácia e pela aprovação da vacina.

Na segunda-feira (14), Matilvani recebeu a reportagem em seu consultório e contou um pouco sobre a experiência, além de explicar sobre a vacina, que foi desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o instituto Butantan. De acordo com o médico, ele e a esposa se inscreveram para participar dos testes, como voluntários, após saberem através de um grupo de aplicativo, que para avançar a fase de testes que seria realizada no Brasil necessitava que profissionais da saúde se voluntariassem. “Eu recebi uma mensagem, em um grupo de médios, e soube que estavam precisando de voluntários para participar do protocolo de estudos sobre a vacina Coronavac. Logo que recebei a mensagem eu tive o desejo de participar, achei que deveria contribuir com isso, se não tivesse voluntários, não tinha como desenvolver a vacina e nem aplicar posteriormente”, destacou ele.

Após terem a inscrição aprovada e passarem por diversos exames e entrevistas, ambos tomaram (em datas diferentes) a primeira e a segunda doses do ‘produto de pesquisa’. Assim é chamado o produto aplicado nas fases de teste, já que parte dos voluntários recebe a vacina e outra parte, o chamado placebo. Esse procedimento é necessário, conforme explicou Matilvani, porque em alguns casos fatores psicológicos podem influenciar no resultado dos testes. “Todo trabalho de pesquisa de medicamento precisa ser duplo-cedo randomizado, ou seja, neste caso nem quem está aplicando e nem quem está recebendo o produto, sabe se é a vacina ou o placebo, para controle, por conta do aspecto psicológico. Muitos medicamentos inclusive fazem o efeito placebo, quando se consegue sugestionar o paciente, então precisa desse duplo-cego para se ter certeza que este ou aquele efeito está relacionado à aplicação”, explica.

Após receberem as doses da vacina, os dois castrenses passaram a ser acompanhados por exames periódicos, que devem seguir até o final do próximo ano. “Inicialmente nós íamos lá a cada 15 dias para fazer os exames necessários para controle, pra saber se não estávamos tendo nenhum problema, agora temos uma visita marcada para dia sete de janeiro. Ficaremos ao longo de um ano fazendo exames a cada dois meses, até setembro do próximo ano”, explica.

Segundo o médico, nem ele e nem a esposa tiveram reações consideráveis após aplicação do produto de pesquisa. Matilvani chegou a sentir discreta dor no local da segunda aplicação, mas de acordo com ele, foi passageira. Agora o que resta, além do acompanhamento necessário, é a expectativa pela aprovação da vacina. Para o médico, muito além desse sentimento de espera e de torcida, também fica a experiência de ele e a esposa terem participado do desenvolvimento de um recurso que neste momento, significa esperança para pessoas de todas as partes do mundo. “Eu sinto que estou cumprindo meu papel de médico mais uma vez. Quando fui tomar a primeira dose, sem saber se teria reação e antes de ver que tudo tinha dado certo, senti um pouco de ansiedade, mas depois foi uma satisfação muito grande, saber que participei do desenvolvimento de um remédio como voluntário, e que estou contribuindo para o bem-estar das pessoas, isso é muito gratificante, dá um prazer muito grande. É um sentimento de missão cumprida como médico, e chega a ser um privilégio ter a oportunidade de poder contribuir, neste caso, de uma forma diferente, com a saúde das pessoas”, ressaltou.

Resistência à vacina
Matilvani explicou também que foi motivado a se inscrever como voluntário por perceber que vem crescendo no Brasil, o movimento de resistência à vacina, e por acreditar que pode servir de exemplo para outras pessoas, que não acreditam na eficácia da imunização. O médico ainda falou sobre a importância da vacinação e sobre a responsabilidade acerca da escolha de tomar ou não determinada vacina.
“Me fez pensar muito sobre a resistência que está surgindo e ganhando força nas pessoas, quanto às vacinas. Eu pensava que com a minha atitude talvez despertasse a vontade de as pessoas tomarem a vacina, pelo menos as pessoas próximas a nós, aqui do município. Eu queria mostrar que houve um sacrifício de todos os voluntários, e que agora que foi comprovado que ela funciona, todos nós deveríamos tomar a vacina, porque se todos tomarmos, todos estaremos protegidos, se metade da população não tomar, o vírus vai continuar circulando e mais pessoas vão pagar com a vida por essa escolha. As vacinas representam uma grande revolução para a saúde, a história da saúde publica é uma antes da vacina e outra depois, mas isso não é algo recente. Já tivemos aqui no Brasil a Revolta da Vacina, mas também já tivemos o controle de doenças como o sarampo, a varíola e a poliomielite, através da vacina. Teve uma época que a vacina foi melhor aceita, e de um tempo pra cá cresceu essa resistência, mas a vacina salva vidas, é importante, por isso eu digo, não perca a oportunidade de proteger a sua vida e de sua família. Essa ideia de que existem segundas intenções com a vacina não é verdade, não acreditem em fake news, tomem a vacina porque é a única forma de nos protegermos”, destacou ele.

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