Sem vaga na UTI e sem ambulância para transferência, família foge com paciente da UPA para salvá-lo

Sem vaga na UTI e sem ambulância para transferência, família foge com paciente da UPA para salvá-lo

Luana Dias

A pandemia do novo coronavírus além de ainda não ter acabado, também vem preocupando mais os especialistas, que acreditam estar começando no Brasil a temida segunda onda de contágio. Enquanto isso, muitas pessoas lutam pela vida, e contra um inimigo, que mesmo já tendo sido muito estudado, ainda é bastante desconhecido. Nessa luta, muitos episódios acabam por revelar dificuldades do Sistema Único de Saúde (SUS), e de pessoas que necessitam dele.

Na madrugada de terça-feira (24), por exemplo, um homem de 43 anos de idade acabou tirando os aparelhos que usava por conta própria e saindo às pressas da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Castro, para poder se internar em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de Ponta Grossa. Primeiro o paciente, que é diabético, foi até a unidade, no sábado (21), porque sentia-se mal, tinha febre e outros sintomas de Covid. Segundo uma enfermeira, que é amiga da família e acompanhou o caso, na ocasião ele foi atendido e dispensado para voltar para casa, sem fazer o teste rápido para diagnóstico do coronavírus, pelo fato de não residir em Castro. “Nesse dia já era caso de internamento, por ele ter diabetes e porque essa doença evolui muito rápido em pessoas que têm outros problemas de saúde”, destacou a enfermeira.

A esposa do paciente, que pediu para não ser identificada, também falou com a reportagem e confirmou as informações. Segundo ela, os profissionais da Unidade nem queriam atender ao paciente por ele não ser morador de Castro, mas, após insistência, prestaram atendimento e realizaram o teste do tipo PCR. O resultado, porém, ainda estava disponível na terça-feira.

Na segunda-feira (23) a saúde do homem teria piorado e ele voltou à UPA. Depois de ser atendido e de ter ficado, segundo a enfermeira, cerca de três horas esperando resultado de exames, ele foi colocado em observação e passou a usar oxigênio. A partir do exame de raio X foi constatado que ele tinha 50% de um dos pulmões comprometido. O paciente então entrou para a fila na central de leitos do Estado, porém, não havia previsão de vaga. A família também começou a fazer buscas, entrando em contato com hospitais da região, e conseguiu vaga em uma unidade de Ponta Grossa.

O médico que atendeu o homem, no entanto, disse que não poderia liberar o paciente para a transferência, pelo fato de a vaga não ter sido disponibilizada pela central de leitos. O profissional, segundo testemunhas, entrou em contato com a secretária de Saúde, Maria Lidia Kravutschke, e ela teria afirmado que também não poderia liberar ambulância para fazer o transporte do paciente, pelo mesmo motivo. Porém, como sua saúde estava se agravando, o paciente decidiu, por conta, tirar os aparelhos que usava. Seus familiares então o levaram ao hospital onde haviam conseguido vaga na UTI. A enfermeira que acompanhou a situação também destacou a forma como o homem foi atendido e as demoras, mesmo, segundo ela, não tendo pacientes em espera na Unidade. “O médico que o atendeu era muito estúpido e não estava dando muita atenção, mas o paciente já estava com dificuldade para respirar. A família então optou por transferir ele para Ponta Grossa e conseguiu a vaga. Quando batemos na porta para avisar sobre a transferência, o médico disse não, que tinha que ir para a central de leitos, mas o paciente estava piorando, chegou com 90 de saturação e quando saiu, já estava com 80. Eu pedi para falar com o médico, fomos atrás dele na sala, mas ele insistiu que tinha que ser pela central de leitos, não conseguimos ambulância particular, ele ligou para a secretaria de Saúde, e eu pedi uma ambulância emprestada para ela, expliquei a situação, mas ela disse não, foi então que o paciente arrancou os equipamentos e saiu correndo de dentro da UPA, aí nós levamos para Ponta Grossa, sem oxigênio e correndo risco”, descreveu a enfermeira.

Segundo a esposa, o homem permanecia internado na tarde de terça-feira, com quadro estável de saúde. Mas, ela também destacou a grosseria do médico, e chamou de descaso a falta de atenção e de informações com quais tiveram que lidar. “A saúde dele estava agravando muito rápido e o médico sendo muito grosso. Trataram a gente muito mal”, finalizou ela.

O que diz a secretária de Saúde

A reportagem entrou em contato com a secretária de Saúde do município, Maria Lidia Kravutschke, para ouvir sua versão dos fatos. Em resposta, Maria Lidia enviou a seguinte mensagem: “A Secretaria de Saúde segue todos os protocolos e normas técnicas para Covid-19. O paciente fez todos os exames necessários, recebeu assistência integral com todos os cuidados. Quanto ao transporte de pacientes Covid-19, é realizado pela Equipe do Samu, sendo esse fluxo definido pela Secretaria Estadual de Saúde. Nosso objetivo é assistência ao paciente. Não houve nesse caso, nenhuma negligência da equipe”.

Redação Página 1

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