Após casar com mulher trans, rapaz é agredido e desaparece em Castro

Após casar com mulher trans, rapaz é agredido e desaparece em Castro

Cleucimara Santiago

As fotos de casamento e os momentos felizes compartilhados em redes sociais em pouco tempo se tornaram motivo de dor e desespero. A história triste nos mostra o quanto precisamos evoluir para nos tornarmos mais humanos, dignos de dizermos que fomos criados a imagem e semelhança de Deus.
Mayka Wogue e Gabriel Guilherme Pereira se conheceram em janeiro deste ano, quando Mayka realizava um trabalho social. Da amizade, nasceu o amor e eles resolveram casar e ser felizes, como é de direito de todo o ser humano.
O jovem Gabriel, natural de Joinville – Santa Catarina, vem de um histórico de problemas familiares, segundo Mayka: “desde o início ele se mostrou educado, gentil e ao mesmo tempo amedrontado. Relatou os traumas de infância, os pais dependentes químicos, os abusos sexuais por parte do tio, as agressões físicas cometidas pelo avô até ser enviado a um abrigo, onde permaneceu até os 18 anos. Atingindo a maioridade foi abandonado à própria sorte, sem ter apoio da família, ficou vagando de lugar em lugar em busca de um porto seguro”.
Mas, o que poderia ser o porto seguro, o início de uma vida feliz, se tornou apenas mais um capítulo dessa história de vida cheia de incertezas e intolerância contra a diversidade sexual.
“Infelizmente, desde o início, Gabriel recebeu ataques verbais e bullying por estarmos juntos, no início eram apenas xingamentos. Quando entrou em contato com seus familiares informando que estava bem e que iríamos nos casar, a irmã o agrediu ferozmente com palavras indizíveis e bloqueou o contato”, conta Mayka, e prossegue: “com a proximidade de nosso casamento, os ataques se tornaram mais ferozes, três agressões físicas e ataques em grupos de Facebook e WhatsApp, chegando inclusive dois grupos de motoboys promoverem feroz campanha e boicote à nosso estabelecimento”.
Gabriel e Mayka casaram no dia primeiro de novembro, como todo casal de noivos sonhador, registraram o momento e compartilharam a alegria em suas redes sociais. “Ele estava radiante e em todo momento fazia planos para o futuro, inclusive sobre adoção, dizia que tínhamos de trabalhar bastante para adotarmos crianças de abrigos, principalmente se fossem negras e/ou com alguma necessidade especial, pois sabia como era ser abandonado”, descreve Mayka.
Após o casamento, Gabriel foi coagido e ameaçado. “Ele recebeu duas ameaças de morte em frente à nossa casa. Na segunda-feira, nove de novembro, passamos o dia bem, cuidando de nossos afazeres e planejando como seriam as festividades de final de ano, inclusive ele comentava que seria o primeiro ano que teria um natal em família. Perto das 18 horas saiu até a frente de nossa casa e não mais foi visto”.
“Solícito, sempre se propôs a fazer pequenos bicos para conseguir dinheiro para se alimentar e pagar um lugar seguro para passar a noite, quando começamos a nos relacionar e viemos morar juntos, raramente saia sozinho, ficava sempre em casa e se empenhava em auxiliar em todas as atividades domésticas e de nosso pequeno comércio”, desabafa Mayka com a voz embargada.
Um boletim de ocorrência do desaparecimento foi registrado na 43ª Delegacia Regional de Polícia de Castro. Mayka não consegue dormir, preocupada com Gabriel e pede ajuda para localizá-lo.
“Iniciamos as buscas quando demos por sua falta, logo que se tornou público recebemos informações que esteve em Piraí do Sul, com ferimentos no rosto e a perna sangrando, lá pedia carona até São Paulo, pois corria risco de vida”, comenta Mayka.
Relato semelhante foi feito por um caminhoneiro na cidade de Itararé, que conta que lhe pagou um café e deu um pouco de dinheiro para seguir viagem. Segundo o caminhoneiro, Gabriel estava assustado e dizia estar indo para São Paulo.

Homofobia é crime
Leis de criminalização da homofobia e identidade de gênero têm sido amplamente debatidas e pauta nas campanhas eleitorais. Por falta de edição de lei específica, desde de junho de 2019, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o crime de homofobia, ou de “preconceito contra orientação sexual” deve ser equiparado ao de racismo. As diferentes formas de orientação sexual ou a identidade de gênero não devem, jamais, ser motivo para o tratamento degradante e desrespeitoso de um ser humano. Em qualquer forma de discriminação, seja agressão física ou psicológica, é importante registrar um Boletim de Ocorrência, ou ainda denunciar pelo 190 (Polícia Militar) ou pelo Disque 100 (Departamento de Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos).

Século XXI
É uma marca triste que em 2020, pleno século XXI, ainda tenhamos que fazer leis, contra a violência, intolerância, brutalidade, falta de compreensão. Leis que defendam os direitos das pessoas viveram suas próprias vidas e serem felizes, como e com quem desejarem. Nos julgamos donos da vida dos outros e queremos que vivam conforme a nossa verdade ou aquilo que julgamos certo.

Redação Página 1

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