EDITORIAL: Seis Anos Sem Voz: A Justiça que Falha em Castro

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Há feridas que o tempo não cura. Há silêncios que gritam. E há mortes que, mesmo seis anos depois, continuam implorando por justiça. Em 6 de junho de 2019, o médico Luiz Felipe Fiorillo foi brutalmente assassinado ao sair do consultório, em pleno centro de Castro. Um crime covarde, sem chance de defesa, que chocou uma cidade inteira e escancarou o abismo entre o que se espera do sistema judiciário e o que, de fato, ele tem entregado.
Fiorillo não era apenas um nome conhecido — era um símbolo de dedicação e serviço à comunidade. Por mais de quatro décadas, atendeu gerações de castrenses com competência e humanidade, tanto no setor privado quanto no SUS. Seu assassinato, portanto, não vitimou apenas uma família: desestruturou parte da identidade social de uma cidade que viu, perplexa, um de seus filhos mais respeitados ser abatido pelas costas, sem que isso até hoje tenha gerado qualquer consequência efetiva.
Desde então, o que se seguiu foi um triste roteiro de omissões, lentidão processual e investigações frágeis. Um suspeito foi preso, sim — mas solto por falta de provas consistentes. O mandante do crime, até hoje, sequer foi identificado. A primeira audiência de instrução está marcada apenas para julho de 2026. Isso mesmo: sete anos após o assassinato. Um prazo que mais parece uma sentença de impunidade do que um cronograma judicial minimamente aceitável.
A morosidade, como aponta o advogado da família, João Maria de Goes Junior, é apenas parte de um quadro mais sombrio: a constante troca de delegados, a falta de continuidade nas investigações, a ausência de diligências fundamentais — como a perícia do celular da vítima — e a completa falta de comunicação entre as autoridades e a família, revelam um sistema que parece ter desistido de resolver o caso.
E o que fica para os filhos de Fiorillo? Dor, revolta e uma esperança que insiste em não morrer, mas que se alimenta cada vez mais de migalhas. A lembrança do pai avô, médico, cidadão ativo; o nascimento de uma neta exatamente um ano após o crime, num triste contraste entre vida e morte; e a dolorosa constatação de que, no Brasil, o tempo corre contra as vítimas, nunca contra os criminosos.
Quando o Estado falha em entregar justiça, falha também em sua função mais essencial: proteger a vida e a dignidade dos cidadãos. A impunidade se torna cúmplice silenciosa do crime. Se seis anos não bastaram para garantir um julgamento, quantos mais serão necessários para que o assassinato de Luiz Felipe Fiorillo deixe de ser apenas mais um número nas estatísticas da barbárie?
Castro não esqueceu. E não deve esquecer. Porque lembrar é também cobrar. E neste aniversário de silêncio, o que se exige das autoridades não é piedade, mas responsabilidade. A justiça que falha em vida, falha também em memória. E essa falha, em uma cidade marcada pela dor, será lembrada até que alguém finalmente responda: quem mandou matar Luiz Felipe Fiorillo? E por quê?

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