EDITORIAL: “MURILO NÃO VOLTOU DA GUERRA”

0 40

Há um ano, Castro conhecia o nome de um de seus filhos de forma dolorosa e definitiva: Murilo Lopes Santos, 25 anos, ex-militar, morreu em combate na guerra da Ucrânia. Desde então, sua mãe, Rosângela Pavin Santos, tem vivido entre a dor da perda e a ausência de respostas, num luto que carrega não apenas a saudade, mas também o peso do silêncio do Estado brasileiro.
Murilo não foi à guerra por dinheiro, como tantos se apressaram em julgar. Foi movido por ideais, por um senso de justiça que o atravessava desde cedo. Ainda jovem, serviu o Exército em Castro e, mesmo dispensado, manteve-se fiel à vida militar, estudando, ministrando cursos e buscando propósito em cada passo. Quando decidiu embarcar para a Ucrânia, levou consigo mais do que equipamentos: carregava convicções profundas e uma crença de que poderia, de alguma forma, fazer a diferença.
O que se seguiu à sua morte, no entanto, foi o completo apagamento institucional. Nenhum comunicado oficial. Nenhum apoio direto. Nenhuma entrega formal de seus documentos. A mãe, em pleno século XXI, precisou contar com a boa vontade de amigos para receber os poucos pertences do filho — enquanto tentava, por conta própria, organizar uma viagem ao túmulo em Kiev. Nem o básico lhe foi garantido.
A história de Murilo revela mais do que a face humana de uma guerra distante. Ela expõe a negligência com que o país trata seus cidadãos que, por decisão própria ou vocação, cruzam fronteiras em conflitos que não envolvem diretamente o Brasil, mas que tocam, sim, valores universais como liberdade, dignidade e justiça. A omissão de autoridades diante de casos como esse aprofunda o abismo entre o discurso oficial e a realidade vivida por famílias dilaceradas.
A guerra o levou. O silêncio, contudo, permanece!

Participe da comunidade no WhatsApp do PáginaUm News e receba as principais notícias dos campos gerais direto na palma da sua mão.

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.