EDITORIAL: Justiça à Prova

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No dia 6 de junho, Castro viverá mais um capítulo em um dos episódios mais impactantes de sua história recente: a reconstituição da morte do empresário Guilherme de Quadros Becher. O procedimento, que será dividido em duas etapas, promete lançar luz sobre os acontecimentos trágicos da tarde de 20 de novembro de 2024 e poderá definir os rumos da investigação que envolve o ex-presidente da Câmara Municipal, Miguel Zahdi Neto.
A reprodução simulada do crime é mais do que um ato técnico – é um marco simbólico do compromisso das instituições com a elucidação da verdade. Ao reunir a família da vítima, o investigado, informantes, representantes da Criminalística, Polícia Civil, Ministério Público e advogados das partes, esse processo ganha peso e significado, especialmente por tratar-se de crime violento com envolvimento direto de uma figura política de destaque.
A tensão em torno do caso é compreensível. A vítima era um empresário conhecido em Ponta Grossa; o suspeito, um político influente e herdeiro de um clã com histórico no Executivo e no Legislativo paranaense. A morte de Guilherme, em circunstâncias ainda nebulosas, acentuou a desconfiança da população quanto à imparcialidade da apuração inicial, especialmente pelo fato de o acusado ter sido liberado após alegar legítima defesa, com base em depoimentos de testemunhas próximas a ele.
A reconstituição, neste sentido, é uma oportunidade valiosa para restabelecer a confiança pública. É durante esse procedimento que os investigadores confrontam versões com provas materiais, analisam trajetórias de disparos, movimentações e reações das partes envolvidas. Ainda permanece em sigilo, por exemplo, o número exato de tiros que atingiram a vítima — uma informação crucial para compreender se houve ou não excesso na suposta legítima defesa. Essa omissão, segundo os advogados da família Becher, visa preservar a integridade da investigação, mas também alimenta o clamor por transparência.
O caso também levanta questionamentos mais amplos: como alguém com antecedentes teve porte de arma concedido pela Polícia Federal? Como garantir que investigações que envolvem autoridades públicas ocorram sem interferências? A reprodução simulada será, portanto, uma peça-chave para responder a essas e outras perguntas que rondam o imaginário coletivo da população castrense.
Independentemente da responsabilidade criminal que venha a ser atribuída, o essencial é que a justiça seja feita — com rigor técnico, imparcialidade e respeito às vítimas e à sociedade. Não se pode permitir que a morte de um cidadão caia no esquecimento ou seja abafada por conexões políticas.
Em tempos de descrédito nas instituições, é dever das autoridades demonstrar que a lei vale para todos. A reconstituição do dia 6 não é apenas um passo no inquérito — é um teste para a Justiça. E toda a cidade estará atenta.

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