Em tempos em que a desconfiança muitas vezes se impõe sobre qualquer gesto humano, o episódio registrado em Sengés nesta semana traz um raro e inspirador contraponto. Durante um trabalho de limpeza realizado pela equipe da Vigilância Sanitária, uma mulher privada de liberdade, participante do projeto Justiça Sem Grades, encontrou e devolveu R$ 8,1 mil em espécie, comprovando na prática que a confiança e a oportunidade podem ser instrumentos tão eficazes quanto qualquer medida punitiva.
O projeto, resultado de uma parceria entre a Polícia Penal do Paraná e a Prefeitura de Sengés, busca promover a reintegração social por meio do trabalho supervisionado de pessoas em cumprimento de pena. Longe de ser apenas uma iniciativa assistencial, o programa aposta na reeducação e na reconstrução de valores, oferecendo a quem errou a chance de provar que é possível retomar o caminho da responsabilidade e da dignidade.
A atitude da participante não apenas devolveu uma quantia em dinheiro, mas simbolizou algo muito mais valioso: a devolução de confiança à sociedade. Sua honestidade reforça a importância de políticas que tratem a execução penal de forma humanizada e que vejam o trabalho como uma ferramenta transformadora. Como destacou a coordenação da Polícia Penal, resultados como esse são a prova de que, quando o Estado oferece acompanhamento e oportunidades reais, o retorno vem em forma de cidadania e respeito.
Projetos como o Justiça Sem Grades demonstram que a ressocialização não é uma utopia. Ela é possível — e necessária — quando há investimento em orientação, vigilância responsável e parceria entre instituições públicas. Em Sengés, o gesto de uma única mulher foi capaz de mostrar que, mesmo entre muros e restrições, a integridade ainda encontra espaço para florescer.
Mais do que um fato isolado, o ocorrido deve servir de exemplo. A sociedade ganha quando deixa de enxergar o preso apenas como alguém a ser punido, e passa a vê-lo como alguém que pode — e deve — ser reintegrado. Afinal, é com gestos como esse que se constrói, aos poucos, uma justiça verdadeiramente sem grades.
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