Palmeira perde mais um filho ilustre: Dr. Gabriel Maccagnani Carazzai

Professor e historiador, partiu aos 95 anos de idade

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Odilmar Franco

Palmeira – Dr. Gabriel Maccagnani Carazzai partiu aos 95 anos — e, com ele, encerra-se, com delicadeza e grandeza, um capítulo inteiro da cultura regional. O último de uma geração dos Carazzai. Na sua partida, acende-se aquela luz discreta que só as famílias de boa cepa deixam acesa: a certeza de que o conhecimento, quando cultivado com constância, atravessa gerações e alumia muitos.

Filho do sempre lembrado Professor Ângelo Carazzai — mestre de Latim em Jaguariaíva, que conheceu as vestes do sacerdócio antes de escolher as salas de aula —, Gabriel herdou a vocação do pai. Ensinar, para ele, não era apenas transmitir conteúdos, mas formar pessoas. Irmão das professoras Aura e Chiquinha, cresceu entre cadernos, dicionários e afeto. Dona Chiquinha — embora não jaguariaivense de berço — fez desta terra o seu lar por mais de meio século. Trabalhou incansavelmente pela cidade, sobretudo pela educação: como Inspetora de Ensino, percorreu escolas da sede e do Sertão com caderno e coração, levando orientação, zelo e esperança.

Gabriel tinha um apreço especial pela história — não apenas a disciplina, mas a trama viva das lembranças, dos nomes e dos lugares. Sempre que conversávamos, seu olhar se iluminava ao ouvir um fato resgatado, um sobrenome reencontrado, uma data recolocada no lugar certo. Admirava as histórias porque via nelas um serviço: entender o ontem para honrar o hoje. Era desses ouvintes raros, que devolvem ao narrador a coragem de prosseguir.

Palmeira foi o seu chão amado: ali lecionou, orientou, construiu vínculos e serviu à Prefeitura, deixando a marca de quem trabalha sem barulho e entrega sem alarde. A sala de aula, o gabinete, o corredor do prédio público — todos guardam um pouco do seu passo sereno. Palmeira o reconheceu em vida; agora o agradece em luto. E nós, em Jaguariaíva, guardamos a gratidão pela presença longa e fraterna dos Carazzai na nossa história e nas nossas escolas.

Na família Carazzai, a longevidade sempre veio acompanhada de biblioteca: nonagenários de extrema cultura, afinados com o que Gabriel considerava essencial — a curiosidade que não envelhece. Com ele, despedimo-nos de um senhor da palavra, cortês nos gestos, firme nos princípios e simples na gratidão. Era capaz de celebrar uma boa aula com o mesmo entusiasmo com que celebrava um reencontro antigo na praça.

Escrevo estas linhas como quem arruma uma estante antes de apagar a luz. Entre os livros, ficam as conversas, os conselhos, as anotações à margem. Prometo, em sua honra, continuar nomeando corretamente as pessoas, citando as fontes e respeitando os ausentes — como ele gostava que se fizesse. Porque a memória, para Dr. Gabriel, era uma forma de justiça.

À família, minha solidariedade carinhosa. À comunidade de Palmeira, o reconhecimento: perdemos um mestre, ganhamos um legado. Que Deus o receba com a paz dos justos e a alegria dos que dedicaram a vida a educar. E que, quando voltarmos a contar nossas histórias, possamos ouvi-lo — na lembrança que consola — repetir, em latim e em vida, a sua lição maior: perseverar na virtude e no saber.

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