Da redação
Se não bastasse o drama enfrentado pelo tratamento contínuo de hemodiálise, pacientes de Castro, Piraí do Sul, Sengés, Arapoti, Jaguariaíva estão sendo submetidos à enfrentar três vezes na semana uma longa viagem até a cidade de Telêmaco Borba, para atendimento. A situação ocorre desde o início do mês de julho, após o fim do contrato entre o Estado e uma clínica da cidade de Castro que prestava atendimento aos pacientes.
Na quarta-feira (12), ao retornar do tratamento, após mais de duas horas de viagem, perto das 22 horas, a paciente Aurora Maria Gusmão Cruz passou mal e caiu no corredor do ônibus. Sua filha que a acompanhava durante o tratamento precisou acionar o socorro do SAMU que estabilizou a paciente e a levou para atendimento na UPA de Castro. Giovana, filha de Aurora, conta que a situação está precária, nas últimas três vezes a mãe dela fez hemodiálise em Telêmaco Borba e passou mal, situação que não ocorria quando o tratamento era feito em Castro.
“Tudo lá é diferente, entra quem quiser nas salas, a gente vê todo o procedimento deles, as enfermeiras pegam os aparelhos sem luva, passam no jaleco e vão para outro paciente, está horrível, é muito cansativo para eles irem e voltarem, mais de duas horas de viagem, principalmente depois que saem da hemodiálise. Não estou avacalhando, nem falando mal, mas estou vendo o que está acontecendo porque sou eu que acompanho minha mãe desde o momento que ela começou a fazer o tratamento lá em Telêmaco. Não é só ela que passa mal no ônibus, tem o Seu Francisco que já vem com oxigênio, às vezes ela não passa bem também; a Dona Cleusi, Dona Maria, enfim, quase todos os pacientes, nós pedimos que a hemodiálise volte para Castro ou fosse para Ponta Grossa, porque lá [Telêmaco Borba] está muito difícil mesmo, o procedimento de lá não é igual ao que era feito aqui, eles não tiram o peso direito, não falam direito e tem a falta de higiene. Nós pedimos socorro para as autoridades que possam fazer alguma coisa pelos pacientes, porque é muito cansativo para os pacientes e aos acompanhantes”, desabafa Giovana.
Outra situação apontada pela filha da paciente é quanto a necessidade de ter um profissional da área de enfermagem para acompanhar as viagens e para prestar atendimento aos pacientes que passam mal durante o trajeto.
Uma paciente que preferiu não se identificar relata que foram pegos de surpresa com a mudança. “Quando nos informaram que a hemodiálise em Castro fecharia no último dia 30 de junho, nós achamos que seria algo bem diferente, foi comentado que seria um hospital no centro de Telêmaco, uma clínica grande, mas nada disso aconteceu, o local é afastado, é na entrada, em Harmonia, todos os pacientes, não só de Castro, tem paciente de Sengés, Arapoti, Jaguariaíva, é uma situação que estamos pedindo socorro para as autoridades, que possam fazer alguma coisa por nós, porque as nossas vidas estão em jogo. São duas horas de viagem, tem pacientes que passam mal na viagem, como ontem aconteceu, quando precisamos parar em Tibagi para uma paciente ser atendida numa farmácia. Medicaram ali para seguirmos viagem, mas se acontecesse algo pior? Quem iria pode socorrer? Ninguém! Eu tenho a pressão muito baixa, ontem [semana passada] eu sai da máquina com a pressão baixa e daí enfrentar duas horas de viagem, numa pista simples, numa estrada perigosa, e chegarmos em casa por volta das 10, 11 horas da noite, não jantamos, fazemos apenas um lanche lá, que o pessoal da clínica fornece, mas é um pãozinho, para enfrentar duas horas de viagem. Não está sendo fácil, nós pedimos socorro para que a hemodiálise volte para Castro. Falo por todos os pacientes, pedimos socorro, por favor, que o tratamento volte para Castro”, clama.
Entenda o caso
No mês de junho encerrou o contrato da clínica localizada em Castro com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Por decisão da empresa, o contrato não foi renovado. Um dos motivos seria a defasagem nos valores pagos aos prestadores de serviços que tem como base a tabela do SUS, uma situação que se arrasta por anos.
Diante dessa situação, só restou aos 38 pacientes de Castro e região, embarcarem no ônibus cedido pela Secretaria Municipal de Castro e encarar aproximadamente 109 quilômetros e quase duas horas de viagem só de ida até a cidade de Telêmaco Borba, para dar sequência ao tratamento.
Situações semelhantes vivem pacientes de municípios vizinhos já citados na matéria. Foi relatada à reportagem a história de um paciente de Sengés, que enfrenta em torno de 200 quilômetros só de ida e mais de três horas de viagem até Telêmaco Borba e para piorar, ele é uma pessoa com deficiência, não possui braços e pernas.