Da Assessoria
A partir desta quarta-feira (8) até dezembro de 2021 a imagem de São José entalhada em madeira que pertencia a antiga igreja-matriz da Diocese ficará exposta na nave principal da Catedral Sant’Ana. A exposição refere-se ao Ano de São José, convocado pelo Papa Francisco, neste último dia 8, para celebrar os 150 anos da declaração do esposo de Maria como Padroeiro da Igreja Católica.
Em fotografias tiradas no interior da antiga catedral, a imagem de São José aparecia em um dos altares laterais. Ela veio da Europa, é toda em madeira e estava no acervo, exposta para visitação nas visitas guiadas. Agora, ficará à mostra na nave principal. “A devoção a São José de que essa imagem era testemunha, que percorreu todo o século XIX e XX, certamente, aumentou muito com a proclamação do papa Pio IX de São José como padroeiro universal de toda a Igreja Católica. Proclamação que havia sido feita em momentos difíceis para a Igreja e para o mundo”, comenta o pároco da Paróquia/Catedral Sant’Ana, padre Antônio Ivan de Campos.
“Na igreja do século XIX cresceu muito a devoção. Não é à toa que muitos seminários do século XX trazem o nome de São José”, acrescenta o pároco, citando que a imagem será colocada em um lugar bastante especial. “Ainda vamos localizá-lo melhor dentro da igreja porque essa resolução do papa nos pegou de surpresa. Só a trouxemos para a parte superior, onde ficará exposta para todos os fiéis. Trataremos de cuidar muito bem da imagem, por ser peça do acervo, e, de fomentar a devoção a São José durante este ano, neste tempo de pandemia, de sofrimento, para que nós tenhamos da parte de Deus mais esse poderoso intercessor, que olha para todos nós. Intercessor que sai do silêncio da parte interna do nosso museu para mais uma vez cumprir uma missão visualizar as graças de Deus”, destaca padre Ivan.
O título de Padroeiro da Igreja foi concedido pelo decreto Quemadmodum Deus, assinado em 8 de dezembro de 1870, pelo Beato Pio IX. Na Carta apostólica ‘Patris corde – Com coração de Pai’, publicada por ocasião dos 150 anos da declaração, o Papa Francisco descreve São José: “pai amado, pai na ternura, na obediência e no acolhimento; pai com coragem criativa, trabalhador, sempre na sombra”.
Além de convocar o ano especial dedicado a São José, até 8 de dezembro de 2021, o Papa Francisco anunciou a relativa concessão do ‘dom de Indulgências especiais’.
Carta Apostólica
A Carta apostólica traz os sinais da pandemia da Covid-19, que – escreve Francisco – nos fez compreender a importância das pessoas comuns, aquelas que, distantes dos holofotes, exercitam todos os dias paciência e infundem esperança, semeando corresponsabilidade. Justamente como São José, “o homem que passa desapercebido, o homem da presença cotidiana discreta e escondida”.
E mesmo assim, o seu é “um protagonismo sem paralelo na história da salvação”. Com efeito, São José expressou concretamente a sua paternidade ao ter convertido a sua vocação humana “na oblação sobre-humana de si mesmo ao serviço do Messias”. E por isto ele “foi sempre muito amado pelo povo cristão”
Nele, “Jesus viu a ternura de Deus”, que “nos faz aceitar a nossa fraqueza”, através da qual se realiza a maior parte dos desígnios divinos. Deus, de fato, “não nos condena, mas nos acolhe, nos abraça, nos ampara e nos perdoa”. José é pai também na obediência a Deus: com o seu ‘fiat’, salva Maria e Jesus e ensina a seu Filho a “fazer a vontade do Pai”, cooperando “ao grande mistério da Redenção”.
Exemplo
Ao mesmo tempo, José é “pai no acolhimento”, porque “acolhe Maria sem colocar condições prévias”, um gesto importante ainda hoje – afirma Francisco – “neste mundo onde é patente a violência psicológica, verbal e física contra a mulher”. Mas o esposo de Maria é também aquele que, confiante no Senhor, acolhe na sua vida os acontecimentos que não compreende com um protagonismo “corajoso e forte”, que deriva “da fortaleza que nos vem do Espírito Santo”.
Através de São José, é como se Deus nos repetisse: “Não tenhais medo!”, porque “a fé dá significado a todos os acontecimentos, sejam eles felizes ou tristes”. O acolhimento praticado pelo pai de Jesus “convida-nos a receber os outros, sem exclusões, tal como são”, com “uma predileção especial pelos mais frágeis”.
‘Patris corde’ evidencia, ainda, a coragem criativa de São José, “o qual sabe transformar um problema numa oportunidade, antepondo sempre a sua confiança na Providência”. Ele enfrenta os “problemas concretos” da sua Família, exatamente como fazem as outras famílias do mundo, em especial aquelas migrantes. Protetor de Jesus e de Maria, José “não pode deixar de ser o Guardião da Igreja”, da sua maternidade e do Corpo de Cristo: todo necessitado é “o Menino” que José continua a guardar e de quem se pode aprender a “amar a Igreja e os pobres”.
A dignidade do trabalho
Honesto carpinteiro, o esposo de Maria nos ensina também “o valor, a dignidade e a alegria” de “comer o pão fruto do próprio trabalho”. Esta acepção do pai de Jesus oferece ao Papa a ocasião para lançar um apelo a favor do trabalho, que se tornou uma “urgente questão social” até mesmo nos países com certo nível de bem-estar.
“É necessário tomar renovada consciência do significado do trabalho que dignifica”, escreve Francisco, que “torna-se participação na própria obra da salvação” e “oportunidade de realização” para si mesmos e para a própria família, “núcleo originário da sociedade”. Eis então a exortação que o Pontífice faz a todos para “redescobrir o valor, a importância e a necessidade do trabalho”, para “dar origem a uma nova «normalidade», em que ninguém seja excluído”. Em especial, diante do agravar-se do desemprego por causa da pandemia da Covid-19, o Papa pede a todos que se empenhem para que se possa dizer: ”Nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho!”
“Não se nasce pai, torna-se tal”
“Não se nasce pai, torna-se tal”, afirma ainda Francisco, porque “se cuida responsavelmente” de um filho assumindo a responsabilidade pela sua vida. Infelizmente, na sociedade atual, “muitas vezes os filhos parecem ser órfãos de pai” que sejam capazes de “introduzir o filho na experiência da vida”, sem prendê-lo “nem subjugá-lo”, mas tornando-o “capaz de opções, de liberdade, de partir”.
Neste sentido, José recebeu o apelativo de “castíssimo”, que é “o contrário da posse”: ele, com efeito, “soube amar de maneira extraordinariamente livre”, “soube descentralizar-se” para colocar no centro da sua vida Jesus e Maria. A sua felicidade está no “dom de si mesmo”: nunca frustrado e sempre confiante, José permanece em silêncio, sem lamentações, mas realizando “gestos concretos de confiança”. A sua figura, portanto, é exemplar, evidencia o Papa, num mundo que “precisa de pais e rejeita os dominadores”, rejeita quem confunde “autoridade com autoritarismo, serviço com servilismo, confronto com opressão, caridade com assistencialismo, força com destruição”.
Na décima nota, ‘Patris corde’ revela também um hábito da vida de Francisco: todos os dias, o Pontífice reza uma oração ao Esposo de Maria “tirada dum livro francês de devoções, do século XIX, da Congregação das Religiosas de Jesus e Maria”. Trata-se de uma oração que “expressa devoção e confiança” a São José, mas também “certo desafio”, explica o Papa, porque se conclui com estas palavras: “Que não se diga que eu Vos invoquei em vão, e dado que tudo podeis junto de Jesus e Maria, mostrai-me que a vossa bondade é tão grande como o vosso poder”.