Rafael Gustavo Pomim Lopes
Entre os muitos nomes do modernismo brasileiro, destaca-se o da artista plástica paulista Tarsila do Amaral, conhecida por inaugurar o movimento antropofágico no país, bem como integrar o memorável Grupo dos Cinco da Arte Moderna Brasileira ao lado de Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade.
No acervo de suas obras, está o quadro ‘Na estação’, do francês ‘A gare’, pintado em 1925, o qual descreve uma estação de trem específica, a estação de Jaguariaíva, na região dos Campos Gerais.
Em 1920, uma fábrica de processamento de carne do rico industrial italiano Conde Francesco Matarazzo (1854-1937) foi inaugurada atrás da estação, para facilitar o transporte de carne bovina e suína em vagões refrigerados para São Paulo. Ao descrever a fábrica, caracterizada pela fachada serrilhada, no centro da composição, ladeada pela chaminé à esquerda e um poste de sinalização à direita, Tarsila do Amaral faz uma conexão entre a indústria pecuária referida em algumas de suas paisagens rurais, como no quadro ‘Paisagem com touro I’ também de 1925, e a modernização das grandes cidades do Brasil através da ferrovia. Neste caso, Tarsila do Amaral escolheu uma disposição vertical, interceptada por linhas pretas lisas, que servem como delineadores entre áreas de cor e também como representações de modernas construções em metal: trilhos ferroviários, sinalizadores, janelas e rodas de trem.
Tarsila do Amaral reduziu os edifícios e veículos à geometria elementar, compactando as formas achatadas como peças de quebra-cabeça para construir um todo coerente. A superfície gradeada é pontuada por círculos, que representam as placas de sinalização, as rodas, as luzes da rua, uniformemente espalhadas pela cena. O trem em si parece quase de brinquedo, pequeno em comparação com os edifícios e as estruturas circundantes, e atravessa a parte inferior da composição. Não há uma multidão de passageiros, nem maquinistas; Tarsila do Amaral pinta apenas os edifícios e as estruturas que abrigam e transportam pessoas. Trilhos de aço, cinza e tetos marrons enferrujados são intercalados por edifícios cor-de-rosa, janelas e rodas azul-claro e amarelas, e placas de sinalização vermelhas. Duas pequenas palmeiras à direita são o único indício da localização tropical. A clareza do design e a tecnologia em perfeito funcionamento apontam para a modernidade do Brasil e para o rápido avanço da posição do país no mundo industrializado.
Técnica
O quadro em questão tem como técnica óleo sobre tela mede 84,5 x 65 centímetros e pertence ao acervo de um colecionador particular de São Paulo. Recentemente, esteve em exposição entre 120 obras da artista na mostra ‘Tarsila Popular’, com curadoria de Adriano Pedrosa e Fernando Oliva, que levou mais de 400 mil pessoas ao Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) de abril a julho de 2019.
*Rafael Gustavo Pomim Lopes é historiador e membro da Academia de Letras dos Campos Gerais.