Produção de cogumelos no Paraná mais que dobra em uma década e consolida Castro como principal polo do Estado

Com clima favorável e produção em larga escala, município dos Campos Gerais lidera colheita paranaense; Estado alcançou 982 toneladas em 2024

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Da Redação*

Castro – O Paraná transformou a realidade da produção de cogumelos nos últimos dez anos, com crescimento de 106% no volume colhido. Dados do Departamento de Economia Rural (Deral) mostram que os produtores paranaenses colheram 982 toneladas em 2024, contra pouco menos da metade em 2014. O avanço é ainda mais significativo porque o levantamento atual considera apenas as variedades champignon e shitake, enquanto o estudo anterior incluía um número maior de tipos de fungos.

Duas regiões concentram 89% de toda a produção estadual: a Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e os Campos Gerais. Neste cenário, Castro se destaca como o maior produtor de cogumelos do Paraná, com 262.500 quilos colhidos na safra 2023/2024, liderando com folga a produção regional e estadual. Na região se destaca ainda Palmeira, com 63 mil quilos, a nível estadual, municípios da RMC, como São José dos Pinhais (246.200 kg) e Tijucas do Sul (184.000 kg). Ao todo, a RMC produziu 545.220 quilos, enquanto os Campos Gerais somaram 334.661 quilos.

O crescimento da atividade está diretamente ligado à organização de pequenos produtores em cooperativas, ao investimento em qualidade, à certificação orgânica e à venda de cogumelos in natura, acompanhando o aumento do consumo. O clima também é fator decisivo: a produção exige ambientes frios e úmidos, característica típica das cidades da RMC e dos Campos Gerais. Em regiões mais quentes, a necessidade de refrigeração intensa muda o perfil da atividade, favorecendo grandes produtores com maior capacidade de investimento.

Nos Campos Gerais, especialmente em Castro, o setor apresenta um perfil distinto, com produção em larga escala. É o caso do produtor Helder Rosário, que colhe cerca de 18 toneladas de cogumelos por mês, sendo 16 toneladas das variedades Paris e Portobello in natura e duas toneladas de champignon em conserva. “Antigamente eu só vendia cozido, mas hoje é inviável. Com o cozimento, o cogumelo perde peso e valor. O mercado hoje quer produto fresco”, afirma. Segundo ele, a mudança acompanha a busca dos consumidores por alimentos mais saudáveis e a concorrência com cogumelos importados, principalmente da China, vendidos a preços mais baixos.

A força da produção também está ligada à agricultura familiar. De acordo com a Agência Nacional de Produtores de Cogumelo (ANP), cerca de 80% dos produtores brasileiros são micro e pequenos agricultores familiares. O setor conta ainda com incentivos fiscais: cogumelos in natura são isentos de ICMS, PIS e Cofins, enquanto os industrializados pagam 12% de ICMS e 4% de PIS/Cofins.

Sergio Brito é presidente da Cooperativa Agroindustrial de Produtores de Cogumelos e Demais Produtos de Tijucas do Sul e Região (Coopertijucas). Foto: Ricardo Ribeiro/AEN

Apesar do potencial, a produção é considerada delicada e exige conhecimento técnico e investimento em climatização. “Encontrei pessoas que começaram sozinhas e tiveram grandes problemas por falta de conhecimento. Tiveram doenças na produção, muita perda e acabaram desistindo”, relata Sergio Brito, presidente da Cooperativa Agroindustrial de Produtores de Cogumelos e Demais Produtos de Tijucas do Sul e Região (Coopertijucas). Criada em 2013, a cooperativa reúne hoje 40 produtores e comercializa cerca de nove toneladas de cogumelos por mês.

Entre os exemplos de sucesso está a produtora Fátima Ribeiro, de Tijucas do Sul, que conciliava a profissão de cabeleireira com o cultivo de shitake. Após investir em capacitação e migrar do cultivo em toras de madeira para o sistema em blocos, passou a colher 200 quilos por semana, com lucro médio de R$ 3 mil mensais. A produção possui selo de produto 100% orgânico do IDR-Paraná, agregando valor e ampliando o acesso ao mercado.

Embora o shitake cresça em popularidade, o champignon segue como o queridinho das prateleiras: representou 95% de toda a produção de cogumelos do Paraná em 2024, impulsionado pelo menor tempo de colheita e pela forte presença no mercado de conservas.

Para especialistas, a modernização do setor foi decisiva para o avanço do Estado. O produtor holandês Bennie Berens, com mais de 30 anos de experiência, destaca o papel do Paraná como fornecedor nacional de insumos. Em Castro, a empresa Compobras, presidida por Jan Haasjes, tornou-se referência na produção de composto para cogumelos, distribuído para todo o Brasil.

O pioneiro nacional na produção de insumo alerta para os futuros desafios na produção de cogumelos. “Pequenos produtores têm instalações precárias e precisam de uma renovação a fim aumentar a produtividade e melhorar a qualidade e constância na produção. Os produtores maiores deveriam pensar em modernização das instalações, para poder mecanizar parte do trabalho”, destaca Haasjes.

Os desafios para a comercialização do fungo não estão apenas no cultivo, mas também na logística de transporte. “Boa parte dos cogumelos são distribuídos para fora do Estado. Isso traz custo de transporte refrigerado e demora para chegar ao destino. Muitas vezes deparamos com supermercados que não tem uma cadeia de frios para produtos hortifrutigranjeiros”, explica Jan Haasjes. Segundo eles, a expansão do setor está em andamento e as perspectivas de futuro são boas.

*Com AEN

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