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O setor agropecuário foi um dos únicos com crescimento no ano passado, com previsão de que continue em alta em 2021. No entanto, as condições climáticas podem reduzir a produção, sobretudo de milho, colocando em risco o abastecimento desse cereal e a cadeia produtiva que dele depende.
O assunto foi discutido nesta quarta-feira (10) em evento online sobre o Cenário Climático e Econômico Agropecuário para o Paraná. “Temos ainda um ambiente bom, de crescimento, apesar de um possível aperto de suprimento, especialmente de um insumo tão fundamental que é o milho”, disse o secretário de Estado da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara.
Além da alimentação animal, o uso de milho na indústria do etanol e outros segmentos é crescente. “Nos próximos anos vamos precisar muito desse cereal, portanto, precisamos fazer tudo para ter produtividade média mais elevada, usar todas as ferramentas para que tenhamos aumento de oferta que sustente uma expansão qualificada na agregação de valor no Brasil e, particularmente, no Paraná”, afirmou.
MENOS OFERTA
Apesar da manifestação de otimismo, Ortigara destacou os problemas enfrentados pelos produtores desde o ano passado, com severa estiagem, seguida de chuvas fortes. “Tivemos um atraso considerável na semeadura da soja e do milho de primavera e, por força disso, retardamos a colheita, o que está empurrando a semeadura de milho safrinha, tão fundamental para o suprimento do Brasil, para um ambiente mais hostil”, reforçou.
A questão climática, unida à doença do enfezamento do milho, provocou no Paraná a redução em pelo menos 20 sacas por hectare comparativamente com a safra passada. A área colhida está, atualmente, em pouco mais de 50%. “A produtividade está surpreendendo para baixo, ainda que seja safra expressiva para o Brasil”, disse.
Com menos oferta, os preços podem ficar mais elevados para a cadeia que tem o milho como matéria-prima, aumentando a preocupação com abastecimento. “É uma pena ter de colocar o pé no freio no momento em que estávamos crescendo quase 3% em suinocultura e em torno de 5% na avicultura, e também na grande expansão, acima de 10%, na produção de peixes de cultivo”, observou o secretário. O mesmo reflexo será sentido na pecuária de corte, no setor lácteo, na produção de ovos e em outros segmentos.
PREÇOS
No Brasil, a estimativa é de 80 milhões de toneladas de milho, que se somam ao estoque de 10,5 milhões de toneladas. “Mas todos os Estados estão com semeadura atrasada”, disse o Ortigara. Grande parte dos agricultores já comprou sementes e insumos e precisa continuar produzindo e assumindo o risco.
“É um aspecto relevante de pouca proteção e de estar sujeito à exposição maior da lavoura ao risco climático, temperatura e umidade, o que faz pressupor produção abaixo de 80 milhões de toneladas, o que pressiona ainda mais o preço”, disse.
Ele analisou que o consumo interno de milho está estimado em torno de 72 milhões de toneladas, pois há boas perspectivas para a venda de proteínas animais ao mercado externo, com os certificados internacionais de área livre da febre aftosa sem vacinação a vários estados, que devem ser concedidos em maio.
“Isso estimula e amplia o esforço de disputar mercados no exterior”, salientou o secretário. Mas o mundo também quer comprar o milho brasileiro. “Temos perspectiva de grande exportação, de grande consumo e isso pode, em função do aperto da oferta, nos levar a ter de importar mais e vai chegar a um preço bastante elevado, o que afeta custos e estreita margens e faz repensar as decisões empresariais.”
LA NIÑA
No mesmo encontro, o agrometeorologista Luiz Renato Lazinski reforçou a informação da influência do fenômeno La Niña, que se caracteriza pelo resfriamento das águas superficiais do Pacífico e reflete no clima e na temperatura mundial. “Além de chuvas abaixo da média, o que observamos são precipitações bastante irregulares. E o La Niña vai persistir até o nosso inverno”, explicou.
Segundo ele, as chuvas em janeiro foram acima da média no Paraná, sobretudo no Oeste, Centro-Oeste e Litoral, com 400 a 500 mm, ou seja, duas vezes e meia a mais do que deveria. “Não foi só o excesso, mas choveu quase todos os dias”, afirmou Lazinski. Em fevereiro, a chuva migrou para o Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. “Isso é típico do La Niña, com períodos que chove demais e períodos que chove de menos.”
Em termos de temperatura, o fenômeno é semelhante. Em janeiro, no Paraná a média foi abaixo do normal para o período. Em fevereiro ficou na média ou abaixo, enquanto no início de março, onde há chuva o frio acompanha. “As irregularidades em termos de chuvas, com tendência abaixo da média, vão persistir pelo menos nos próximos 45 dias”, afirmou. “Vamos ter veranicos um pouco mais prolongados ao longo de toda a safrinha de milho.” Além disso, tanto o milho quanto a soja estarão sujeitos a geadas.