Castro inaugura primeiro robô de ordenha Lely A5 Next da América Latina e abre nova era na pecuária leiteira
Tecnologia instalada na propriedade do produtor Albert Jan Geert Strijker já mostra aumento de produtividade e redução da dependência de mão de obra em plena Capital Nacional do Leite
Emerson Teixeira
Castro, a Capital Nacional do Leite, acaba de alcançar mais um protagonismo ao receber o primeiro robô de ordenha Lely A5 Next instalado na América Latina. O equipamento começou a operar em 18 de outubro na propriedade do produtor Albert Jan Geert Strijker, a Chácara Jardim do Éden, na localidade de Santa Rita, região do Abapan, e marca um salto tecnológico para a pecuária leiteira dos Campos Gerais. Com 170 vacas em lactação, a fazenda familiar – conduzida por Albert e por sua mãe – já observa ganhos expressivos de produtividade, melhores indicadores de saúde do rebanho e alívio nas demandas de trabalho.
Segundo o produtor, a decisão de investir no robô veio da crescente dificuldade em encontrar mão de obra especializada. “O principal motivo é a dificuldade da mão de obra. Mão de obra qualificada e quantidade de mão de obra, porque tá cada vez mais difícil e escasso. Já faz uns dois meses que eu tô tentando achar um funcionário, não aparece, não consigo. A gente se obriga a pegar a piazada, trabalha uns dois meses e abandona. Acha que não precisa trabalhar, é só receber”, relata.
A rotina pesada de ordenhas também pesou na escolha pela automação. “A rotina é das cinco até as nove ordenhando. Daí o tempo fica curto para fazer os outros serviços. As três horas da tarde, ordenha de novo até acabar o dia. Daí nesse meio tempo, lidar com a lavoura, cuidar de bezerro e os outros serviços, planejamento, gestão”, afirma.
Com a entrada do A5 Next, a operação ganhou fluidez. “Agora deu uma aliviada um pouco, porque ainda temos umas vacas na ordenha convencional, mas é uma hora de serviço e tá pronto. Nós temos mais tempo livre para conseguir manter o serviço em ordem, sobrou um pouco mais de tempo para nós capricharmos um pouco mais na chácara. E com menos gente, mas já diminuiu mão de obra”.

Produtividade
A expectativa da família Strijker era de um aumento de cerca de 5 litros por vaca. O resultado, porém, superou o previsto. “O pessoal da Lely fala em 10% ou 15% de aumento. Nós esperávamos pelo menos 5 litros por vaca. Fomos surpreendidos, já no segundo dia aumentou 8 litros nas Jersey e 7 nas Holandesas, agora, ao passar dos dias, ele se manteve com 7 litros de aumento por cabeça”, explica.
Além do volume, o robô passou a fornecer dados em tempo real sobre saúde, qualidade do leite e comportamento dos animais. “Mostrando o cio das vacas que nós não vimos… inseminei. Coisa que nós não iamos ver, já deu uma ajuda boa”.
Tecnologia
Para Albert, a automação será cada vez mais indispensável. “Pois olha, no caminho que nós estamos andando com a mão de obra desse tipo, tô achando que vai ser meio que principal, nós vamos precisar cada vez mais da tecnologia. Porque sem isso aí, eu acho que vai parar”.
A adaptação ao novo sistema veio acompanhada de receios iniciais. “No começo nós estávamos meio com medo, depois que eles [equipe da Lely] foram embora, o medo aumentou [risos]. Mas não teve nada assim de bicho de sete cabeças, tá tudo fácil. O robô liga pra gente, ele avisa: ‘Ó, tô parado, vem ver aqui’. Quando não consegue resolver, você liga pra equipe da Lely e resolve em 5 minutos”.
Alguns ajustes fizeram parte da rotina dos primeiros dias. “A ração, as vacas não estavam vencendo comer, a ordenha tava muito rápida, o cocho encheu e o robô avisou”, conta, lembrando que são regulações normais de adaptação.
O impacto no esforço físico foi imediato. “Aliviou já o lombo da turma, estamos trabalhando bem menos. Eu também. Preocupa um pouco mais a cabeça, porque você tem que tá sempre atento ali, mas já aliviou”.
Parceira fundamental na rotina da fazenda, sua mãe também assumiu papel decisivo. “A mãe é o braço direito. Ela mora na propriedade. Um dia o robô avisou que uma vaca não saía lá de dentro, ela foi lá e tocou a vaca de noite”.
Ponto de encontro da América Latina
A instalação do equipamento movimentou especialistas de vários países. “Teve o pessoal da América Latina inteira aqui: Argentina, Uruguai. de Minas [Gerais], São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Chile”, relata Albert.
O A5 Next trouxe avanços significativos em relação às versões anteriores. “Ele ganhou uma câmera no braço pra enxergar melhor ou encaixar melhor a teteira, o software melhorou e o filtro também, agora não precisa mais filtro de papel, é de inox, ele mesmo se lava. Não precisa trocar, é mais sustentabilidade”.
Investimento
O produtor financiou o equipamento em dez anos, via Sicredi. “Investimento bastante pesado, que se paga. Nas minhas contas ele precisava de 4.8 litros por vaca pra se pagar. Então ele já deu esse retorno, pra se pagar em 10 anos se paga”. A oscilação no preço do leite, porém, exige atenção. “Agora deu uma baixada no preço do leite e a conta mudou, mas a princípio é isso”.

Robô mais inteligente
Segundo Natali Schllemer, médica-veterinária e gerente geral do Lely Center Carambeí, o A5 Next representa uma evolução marcante. “Ele veio com algumas melhorias que deixam o sistema mais inteligente, mais preciso e mais automático, traz um novo sistema operacional, mais rápido, mais seguro, preparado para novas atualizações”.
A tecnologia inclui câmera acoplada ao laser para detecção e mensuração de tetos, filtro de inox totalmente automático e melhorias nos baldinhos de separação de leite. “Ou seja, ele é um robô ainda mais eficiente e mais automático”.
Natali ressalta que a tecnologia atende tanto pequenas quanto grandes propriedades. “Em propriedades menores, traz mais tempo e qualidade de vida, já em fazendas maiores, oferece escalabilidade, garante produtividade e consistência”.
O bem-estar animal também é destaque. “A vaca monta a própria rotina, o processo é padronizado e o robô coleta diversos dados durante a ordenha, qualquer alteração na saúde do animal é rapidamente percebida”.

Marco histórico
Além de ser o primeiro A5 Next do continente, a instalação marca o início da era dos robôs de ordenha no município. “É um marco importante porque ele não só é o primeiro A5Next instalado na América Latina, então ele marca a chegada oficial dessa nova geração aqui no nosso país, mas também porque é o primeiro robô de Ordenha que nós temos na cidade de Castro, que é um dos maiores polos da pecuária leiteira no Brasil”, afirma Natali.
O processo contou com técnicos da Holanda, do suporte latino-americano e das equipes locais. “Mas o processo em si não difere muito, começa antes da venda, com planejamento de layout, projeto, seleção dos animais e segue com treinamentos e acompanhamento após o início da operação”.