Temas como sustentabilidade na produção, mercado externo e déficit na capacidade de armazenagem de grãos pautaram o debate entre sete lideranças do setor na manhã desta quinta-feira (10) no Painel do Agro, durante o Agroleite 2023, em Castro (PR). O debate, organizado pelo Grupo Calpar, reuniu mais de 300 pessoas na plateia e integrou o Programa Mais Milho da Associação de Produtores de Milho (Abramilho) e teve transmissão ao vivo pelo Canal Rural, com o tema ‘O Futuro do Agronegócio no Brasil’. Ex-ministros da Agricultura, o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária e o presidente da Cargill Brasil, entre outras lideranças, estiveram no palco de discussões.
Mercado externo
Ministro da Agricultura e Reforma Agrária entre 1990 e 1992, Antônio Cabrera, destacou a importância de desburocratizar a liberação de recursos públicos para financiar o agronegócio e ressaltou o crescimento na produção de grãos, em especial do milho, no Brasil, já que o país pode se tornar o maior exportador do mundo neste ano. “Precisamos aumentar a utilização do milho na alimentação dentro do país. Nos Estados Unidos, diz-se que o milho está no sangue. Aqui podemos ampliar o consumo interno”, afirmou.
Para ele, o país também precisa criar novos acordos comerciais externos.
“É incrível a perseverança do produtor brasileiro. Vamos liderar as exportações de milho sem nenhum acordo internacional”, disse.
Caos logístico
Paulo Sousa, presidente da Cargill Brasil, destacou que o mundo precisa do Brasil para se alimentar. “Não existe outro país com o potencial do agro brasileiro. A capacidade de plantar duas safras por ano, a tecnologia, o clima, tudo está a nosso favor”, completou. Segundo ele, um grande desafio é agregar mais valor ao milho produzido aqui, além de abrir mercado externo.
O presidente da multinacional também pontuou questões como sustentabilidade e gargalo logístico. “São as dores do crescimento. Os ganhos logísticos no Brasil nos últimos dez anos foram brutais, se o milho hoje é competitivo no Norte do Mato Grosso é porque a logística melhorou muito, mas tem que melhorar mais ainda”, acentuou, sugerindo que o investimento em ferrovias seja maior.
“A ferrovia é ambientalmente correta e, economicamente, não fazer [ferrovia] é burrice”.
Déficit na armazenagem
Paulo Bertolini, vice-presidente da Associação Brasile
ira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e diretor do Grupo Calpar, elencou prejuízos trazidos pelo déficit de mais de 118 milhões de toneladas ao ano na capacidade estática de armazenagem, como o aumento no custo do frete e as perdas na qualidade do produto. Ele reforçou a importância de mais investimentos na estrutura dentro da fazenda.
“O produtor rural está entendendo que armazenagem é uma etapa importante do negócio dele e o nosso desafio é ter dinheiro suficiente pra fazer esse investimento”.
Outro ex-ministro da Agricultura e Pecuária, Neri Geller atuou em 2014 na pasta e, no debate, enumerou avanços obtidos pelo governo na última década, como a criação do Plano de Construção de Armazéns (PCA) dentro do Plano Safra. “A liberdade econômica é extremamente necessária, mas a atuação do governo no momento certo é também muito importante”, frisou, apontando que ainda é necessário avançar na equalização das taxas de juros dos financiamentos públicos. “Precisamos encontrar fendas no orçamento pra trazer mais recursos para a armazenagem”, indicou. Ele também defendeu que o caminho para o avanço do agronegócio brasileiro deve passar pela capacidade de industrializar a produção antes de vendê-la.
“Ser o maior exportador de milho não é só o que nos orgulha muito, mas sim ver as cooperativas agregando valor a ele”.
Juros e Sustentabilidade
O presidente da Frente Parlamentar do Agronegócio, deputado federal Pedro Lupion, também defendeu a redução nas taxas de juros para o produtor rural. “Temos a maior agricultura do mundo sem, efetivamente, um subsídio público. Vai comparar com o que acontece nos outros países: concorrentes que têm apoio público. O que temos no Brasil é a necessidade de equalização de juros para fazer transações brasileiras mais baratas e aumentar o montante de recursos”, colocou.
Lupion também falou sobre a reforma tributária, frisando que ela “não pode inviabilizar a produção brasileira”, e lamentou que a imagem do país, internacionalmente, ainda seja negativa quando o assunto é sustentabilidade.
“O Brasil é o único lugar do mundo que pode triplicar a produção de alimentos sem desmatamento. Existe um crescimento de ativismo ambiental criando problemas inimagináveis, apesar de a legislação brasileira ser a mais rígida do mundo”.
Cooperativismo
José Roberto Ricken, presidente do Sistema Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná), também participou do debate e falou sobre estratégias para ampliar a demanda por produtos no mercado interno. “Precisamos transformar grãos em proteína animal e abrir mercado. Nosso problema não é produção. É criar demanda”.
Para o diretor-presidente da Cooperativa Castrolanda, anfitriã do Agroleite, o desafio logístico ainda é um dos principais entraves no crescimento do setor. “O agricultor é muito resiliente. Todo dia temos que enfrentar muitos obstáculos, principalmente os criados pelos nossos governantes. O desafio logístico no país é gigantesco, não temos estradas para o escoamento dos produtos. O Brasil está na contramão, tirando trens de rodovias e colocando nas estradas”, questionou Willem Bowman. “Temos que fazer com que a produção chegue aos portos com custo menor para que sejamos de fato eficientes na exportação. Estamos nos tornando a cozinha do mundo e temos que colocar esse alimento para ser consumido mundo afora”.
O Painel do Agro
Um dos eventos mais disputados do Agroleite, o Painel do Agro firmou sua tradição ao chegar à terceira edição com o Pavilhão de Palestras cheio. Com mediação do diretor executivo da Abramilho, Glauber Silveira, e do jornalista e diretor de Conteúdo do Canal Rural Giovani Ferreira, durou duas horas e contou com apoio do Sistema Faep/Senar.