Bianca Martins
No início desta semana, o anúncio da Cooperativa Agroindustrial Frísia de que estava suspensa a recepção de milho em todas as suas unidades até dia 15 de abril, refletiu o problema da falta de armazéns para acomodar a safra deste ano. O déficit previsto é de 117 milhões de toneladas, frente aos 90 milhões do ano passado. O diretor do Grupo Calpar, ex-presidente e atual diretor da Aliança Internacional do Milho entre Brasil, Estados Unidos e Argentina (Maizall) e presidente da Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos (CSEAG), Paulo Bertolini, já havia alertado sobre ‘o caos por falta de armazéns’ em matéria publicada em 17 de fevereiro, no Página Um News. A medida da cooperativa deve-se à alta produtividade de grãos e a falta de espaço para receber a produção. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), seriam necessários cerca de R$ 15 bilhões por ano para impedir que o déficit de armazenagem continuasse a crescer no Brasil.
Com a notícia da suspensão, Bertolini disse que a medida só confirmou o que vem sendo exposto e debatido nas duas últimas décadas e reiterou que se não houver recursos para financiamento, a falta de armazéns pode incidir diretamente no preço. “É uma bola cantada já há muito tempo e o caos ia acontecer e aconteceu. Isso faz com que haja uma pressão sobre vendas. Quem não ter lugar para armazenar começa a oferecer o produto no mercado e o produto cai preço. Então a queda nos preços das comodities está em função, em boa parte, por falta de local de armazenagem. É um problema sério, que o agricultor vai perder. O agricultor perdendo renda, ele investe menos e acaba tendo efeito dominó em toda a cadeia do agro”, analisou.
Para o presidente da Cooperativa de Transportes Autônomos de Castro (Coopertrac), Rodney Larocca, a princípio, isso não refletirá no mercado de transportes de cargas, porque, apesar da suspensão na Cooperativa Frísia em relação ao milho, a soja continua sendo entregue. Ele reconhece que a produção de grãos vem crescendo acima do esperado e que isso precisa ser revisto pelas cooperativas, principalmente, em relação ao armazenamento. “A produção cresceu, o transporte cresceu, mas estamos atrasados com estradas e armazéns. É preciso investimento em armazenagem para acompanhar a alta na produção. Veja, não falta caminhão para transportar, mas daí falta espaço para estocar. Por enquanto estamos cumprindo os contratos. Hoje as empresas fazem agendamento, ajuda a se programar, mas não tem janela para o produtor. Acho que as cooperativas precisam atender a demanda”, avaliou.
Por outro lado, a Cooperativa Castrolanda não deve suspender o recebimento de grãos, pelo menos por enquanto. Ao Página Um News, a gerente executiva de negócios agrícola, Tatiane Bugallo, afirmou que tudo está dentro da normalidade. “A Castrolanda está operando normalmente com relação a recepção e estocagem de grãos. Esta é com certeza uma safra de alta produtividade, mas estamos operando dentro da normalidade e da nossa programação para receber as produções e o incremento de produtividade dos nossos cooperados”.
Perdas
Aliado à falta de incentivo e ao caos anunciado pela falta de armazenagem, a perda de produção deve ser de pelo menos 37 milhões de toneladas e os que mais vão sentir este impacto, de acordo com Bertolini, serão os pequenos e médio produtores. “As perdas de grãos no Brasil é de 37 milhões de toneladas ao longo da cadeia toda, desde o pé da planta ao processamento final. Quem vai perder? Todo mundo perde, mas quem está mais sujeito a esse impacto são os pequenos e médios produtores. O grande, tem outras vias para poder enfrentar esse problema”, observou.
Foto: Coopertrac