Cleucimara Santiago
Especial Página Um News
Um bate-papo com amigos, as paqueras da adolescência, um saboroso lanche, as compras do dia-a-dia, sejam fatos antigos ou atuais, todo castrense tem uma boa lembrança ou história para contar sobre a principal avenida da cidade, ‘a Dr Jorge’.
A rua hoje denominada de Dr. Jorge Xavier da Silva é histórica, já foi Rua das Tropas e Rua do Comércio. Seu início vem do Pouso do Iapó, foi a trilha feita pelas patas de mulas que passavam desde a Água Suja, onde saciavam a sede, até o início da travessia pelo vau do Iapó. Os ranchos dos tropeiros que se ergueram ao lado do caminho deram-lhe o aspecto de rua, a “Rua das Tropas”. Mesmo sem placas, assim era identificada para diferençar de outros desvios que se faziam para o rio.
Muitos anos se passaram do pouso para a freguesia e o caminho principal para o vau era pela Rua das Tropas, até que a freguesia foi transformada em vila.
E quando a Rua das Tropas já alcançava o máximo desenvolvimento comercial, tendo em vista que o comércio a retalho se concentrava justamente por onde corria o maior movimento de tropeiros, os camaristas, como eram denominados os vereadores, resolveram batizá-la como Rua do Comércio, colocando placas em certas esquinas. A nova designação durou até o quase o fim do século XIX, precisamente após a morte de Jorge Xavier da Silva, conforme registros da Casa de Cultura.
Quem foi Dr. Jorge?
Jorge Xavier da Silva, era filho de Generosa Carneiro Monte Carmelo e do capitão David Antônio Xavier da Silva, tendo como irmãos Virgílio, Manoel, Paulino, Libania, Pedro, Maria das Dores, Anna, Roberta e Francisco Xavier da Silva. Este último foi advogado, promotor, juiz, vereador, prefeito, deputado, senador, presidente do estado do Paraná por três mandato (o que equivale a governador).
Jorge, nascido e criado na Fazenda Caxambu em Castro, de propriedade de seu avô, o rico português Francisco Xavier da Silva, 3º maior criador de animais em Castro (Santana do Iapó) em meados de 1820, com negócios em Sorocaba e um armazém de fazenda seca, na Rua das Tropas, conforme descrito em seu inventário.
Por conhecimento popular e conforme informações constantes na Casa de Cultura, sabe-se que Jorge cursava o último ano de medicina quando resolveu visitar sua terra natal, Castro e não mais retornou para conclusão do curso. Como a cidade não dispunha de médicos, Jorge começou a atender com muito carinho e dedicação quem necessitava dos recursos da medicina, logo alcançando grande simpatia e prestigio da população.
O escritor Oney Borba, relata em seu documentário: “Como era dado ao vício do jogo e Castro era um afamado centro de jogatina, Jorge foi ficando, clinicando, operando, jogando. Quando era solicitado profissionalmente, largava tudo imediatamente e saia correndo para atender seus pacientes.”
Mas, Jorge faleceu precocemente, conforme dados de sua certidão de óbito, Dr. Jorge faleceu em sua residência, a rua do Comércio, as cinco horas da manhã do dia 6 de julho de 1895, aos 47 anos, de causas naturais provavelmente de pancreatite, era solteiro e não deixou testamento.
Embora a certidão de óbito conste solteiro, a descendência de Dr. Jorge é grande, a reportagem do Pagina Um encontrou registros em cartório, do nascimento de suas filhas: Anna Xavier da Silva, nascida em 24 de abril de 1879, filha de Jorge Xavier da Silva e Ignácia Ferreira da Silva. Anna casou com Benecdito Alves Pereira em 6 de agosto de 1896 e tiveram 12 filhos.
E Aurora Xavier da Silva, nascida em 24 de agosto de 1888, filha de Jorge Xavier da Silva e Conceição Ferreira de Araújo. Aurora casou com Victorio Galeto em 04 de julho de 1908 e tiveram 13 filhos.
A castrense Inez Maria Sommer, bisneta de Dr. Jorge, residente hoje em Curitiba conta que sua avó Aurora foi criada por uma tia no casarão da Dr. Jorge, estudou no Colégio São José, foi uma moça muito fina e educada, tocava piano, casou com o músico e funcionário público Victório Galetto, e recebeu como herança, o casarão, que hoje não existe mais.
O falecimento de Dr. Jorge, deixou uma enorme lacuna nos corações dos castrenses, uma grande multidão acompanhou o sepultamento até o cemitério municipal para prestar as homenagens ao valoroso homem e profissional. Em sua homenagem, a rua do Comércio passou a ser denominada Rua Dr. Jorge Xavier da Silva, conforme documento oficial:
No dia 10 de julho de 1895, em sessão extraordinária da Câmara Municipal, compareceu o prefeito Olegário Rodrigues de Macedo e informou à câmara que havia falecido o Dr. Jorge Xavier da Silva, tecendo sobre o fato copiosa adjetivação dos méritos profissionais do falecido que em vida portava-se generosamente com o povo que o tinha como verdadeiro pai.
Sua comunicação emocionou não somente os camaristas como também a numerosa assistência que ali comparecera. Terminados os aplausos às palavras do prefeito Olegário, o camarista Eduardo Torres Pereira indicou e foi aprovada pela Câmara a proposta: “Paço da Câmara Municipal, aos dez dias do mês de julho de mil oitocentos e noventa e cinco: proponho que a rua denominada do Comércio, nesta cidade, em homenagem ao ilustre morto Doutor Jorge Xavier da Silva tomasse o seu nome para exemplo dos coevos e vindouros, autorizando desde já a câmara, seu ilustre prefeito que denominasse a referida rua com o nome do distinto médico falecido, ficando por isso denominada a rua do comércio com o título de rua Dr. Jorge Xavier da Silva, ordenando a mesma Câmara que o cidadão prefeito municipal ordene em ato contínuo a mudança dos letreiros da mesma rua pelo atual”. O prefeito consultou a câmara e esta foi unânime da aprovação da proposta do camarista Torres, mandando que imediatamente fosse posta em execução. Secretariou a sessão o camarista Amantino Rodrigues de Andrade que redigiu a ata, a qual, no início constou a presença dos camaristas Eduardo Torres Pereira, Guilherme Gaertner, Bernardo Manoel da Silva, Sérgio Villela.
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