Caminhoneiros articulam greve pelo país

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Luana Dias

Apesar de não ser unânime na categoria, a proposta de iniciar uma nova paralisação no início da próxima semana está forte entre caminhoneiros de todo Brasil. Já completou três anos a última grande greve dos motoristas de caminhão realizada no país, mas a pauta desta que está em preparação não é muito diferente. O principal item de insatisfação entre os profissionais é o aumento do preço do diesel, mas eles também pretendem protestar pelo fim da Política de Preço de Paridade de Importação (PPI), aplicada pela Petrobras e pela efetividade da lei do piso mínimo de frete, instituída após a paralisação de 2018, mas que ainda está para ser votada no Supremo Tribunal Federal (STF).

Um dos articuladores da paralisação é o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC). Mas, o movimento, que está para iniciar entre o domingo (25), (dia do motorista), e a segunda-feira (26), também conta com o apoio de entidades como a Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB) e Movimento Galera da Boleia da Normatização Pró-Caminhoneiro (GNB). Também há entidades que se posicionaram contra a greve. É o caso, por exemplo, da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) e da Confederação Nacional dos Caminhoneiros e Transportadores Autônomos de Bens e Cargas (Conftac).

Entre os caminhoneiros também as opiniões estão divididas. A reportagem teve acesso a relatos, conversas de grupos e publicações nas redes sociais, tanto de motoristas que pretendem aderir à greve e pausar as atividades, como de profissionais que não têm intenção de participar da paralisação. Alguns também classificam a possível greve, como um movimento sindical. Porém, mesmo no grupo dos que não devem aderir, os caminhoneiros acreditam que a paralisação é legítima e tem motivos para se concretizar.

Por exemplo, Rodney de Melo Larocca que é presidente da Cooperativa de Transportes Autônomos de Castro (Coopertrac), afirmou à reportagem que enquanto representante da Cooperativa não apoia o movimento, mas, como caminhoneiro, considera justa a paralisação e entende como sendo um direito da categoria. “Eu como presidente não sou a favor da greve e nós da Coopertrac não vamos aderir, mas acho que é algo justo. Toda manifestação é um direito de quem vai promover, afinal, itens como o aumento de preços do combustível não impactam somente os caminhoneiros, está caro para todos os consumidores, que estão sendo penalizados de todas as formas”, ressaltou.

Rodney também falou sobre a pauta da possível greve e dos problemas que a categoria enfrenta, e afirmou que se nada mudar, a continuidade da atividade se tornará insustentável para alguns profissionais colegas. “Nós pagamos taxa de importação do combustível, mesmo ele sendo produzido aqui. O combustível vai bruto para fora do país e nós temos que pagar pela importação dele refinado, mas a matéria-prima é daqui, mas essa não é a única dificuldade que enfrentamos, tudo está mais caro, gasolina, gás, produtos de supermercado, energia, além disso, os custos para o caminhoneiro subiram muito, mas o frete não tem preço, em geral, os caminhoneiros não estão nem conseguindo cuidar da manutenção do caminhão, e isso é uma questão de segurança, se continuar como está, em algum momento vai parar tudo de qualquer forma”, disse o caminhoneiro.

O presidente da Coopertrac também contou à reportagem que a maioria dos caminhoneiros com quais ele fala, estão dispostos a aderir à greve. Ele também fez um desabafo, referindo-se às adversidades que a categoria enfrenta para trabalhar, em todas as regiões do Brasil. “O estresse do trabalho hoje é tão grande, devido a esse desiquilíbrio na economia do setor, que o caminhoneiro trabalha pensando se vai conseguir pagar as contas. O consumidor que contrata o frete acredita que está pagando caro, mas o caminhoneiro não está ganhando dinheiro, alguns não estão nem conseguindo se manter. O caminhoneiro é o profissional que não parou, que não ficou em casa nem no início da pandemia, inclusive, perdemos muitos colegas de estrada para o vírus, mas na hora da vacinação não tivemos nenhuma prioridade, por isso a reação do caminhoneiro no Brasil inteiro é uma só”, finalizou.

Foto: Fotoarena / Folhapress

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