Castro se despede do diretor do Depen, Elerson de Lima, que deixa o cargo após quase seis anos à frente da cadeia pública

Policial penal destacou divergências na política de ressocialização e recebeu homenagens de autoridades pela transformação da unidade; ele seguirá morando e trabalhando em Castro

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Emerson Teixeira

A cidade de Castro se despede do diretor do Departamento Penitenciário (Depen) do município, Elerson de Lima, que deixou o comando da Cadeia Pública após quase seis anos no cargo. A mudança, segundo o próprio servidor, decorre de divergências com a coordenação regional de Ponta Grossa quanto às diretrizes de ressocialização dos internos. Apesar da saída, Lima permanecerá residindo em Castro, cidade que adotou, onde fixou família e continuará atuando como policial penal na escala regular da corporação.

Em conversa com a reportagem do Página Um News, ele afirmou que a decisão foi tomada “após o pensamento de ressocialização da pessoa privada de liberdade de minha parte ser prioridade e no momento não ser por parte da coordenação regional de Ponta Grossa”. Para Lima, o trabalho de reintegração dos custodiados é essencial. “No meu entender a pessoa presa deve trabalhar, estudar… ocupar a cabeça. Pagar o que deve para a sociedade, não somente ficando reclusa, mas também financeiramente. Fazendo com que a Cadeia Pública se torne autossustentável”, disse.

Ao relembrar sua chegada à unidade, em 2019, ele destacou o estado crítico em que encontrou a estrutura. “Quando vim para Castro, peguei uma cadeia sucateada, onde ninguém queria assumir, um verdadeiro ‘lixo’, uma das piores do Paraná. lembro que quando cheguei pensei em dar meia volta e voltar embora. Mas com muito trabalho, dedicação e perseverança consegui juntamente com a equipe que formei transformar em uma unidade modelo”, afirmou.

Ele também reforça a importância da ressocialização como compromisso do sistema penitenciário. “Tento passar para a sociedade que no Brasil não há pena de morte, nem prisão perpétua. Então a pessoa privada de liberdade um dia voltará para sociedade, nossa missão como policial penal é tentar fazer essa pessoa voltar melhor, com trabalho, estudo, cursos”, enfatiza.

Além da atuação profissional, Lima destacou que sua permanência em Castro mudou sua vida pessoal. “Há 3 anos conheci a pessoa com a qual casei, Karina de Albuquerque Carvalho, e constituí família aqui. Tivemos nossa filha Maria Antônia, que hoje está com 3 meses”, contou. Ele disse ainda que muitos duvidavam que seria possível realizar ações estruturais importantes, como a retirada dos veículos abandonados no entorno da cadeia. “Tirei mais de 60 carros, 90 motos”, afirmou.

Legado e números da gestão

A Cadeia Pública de Castro abriga atualmente 155 pessoas privadas de liberdade. Quando Lima assumiu o cargo, não havia qualquer remição de pena por trabalho. Hoje, a unidade registra 75 remições internas em atividades como barbearia, limpeza, manutenção e horta. Além disso, empresas locais empregam internos: 12 trabalham na Pontarollo Feijão, 17 na Construtora Campos Gerais, um na Panificadora Bandolim, dois na Cozinha Bandolim e dois na Ciaccol, que atua no setor esportivo. Nessas funções externas, além da remição, os custodiados recebem salário.

Em 2023, Lima foi homenageado pela Câmara Municipal com uma Moção de Congratulações pelo trabalho desenvolvido à frente da unidade.

Repercussão

A saída de Elerson gerou manifestações de reconhecimento por parte de autoridades municipais e do Judiciário.

O secretário de Governo, Ricardo Cardoso Filho, destacou em nota oficial o impacto da gestão. “A Prefeitura de Castro lamenta a saída de Elerson Lima da direção do Depen no município, decisão tomada por opção pessoal. Ao longo dos anos, sua atuação séria, dedicada e profundamente comprometida trouxe avanços significativos para a cadeia pública”, afirmou. Cardoso ressaltou ainda os projetos sociais implementados e a parceria com o município. “Desejamos êxito em seus novos caminhos, certos de que seu legado permanecerá como referência de gestão e compromisso público”.

O juiz da Vara Criminal de Castro, Gyordano B. W. Bordignon, também lamentou a decisão. “A saída do Sr. Elerson de Lima da Direção da Cadeia Pública de Castro é muito preocupante, dada a envergadura de sua atuação, organização, competência e abnegação são apenas algumas de suas características”, declarou. O magistrado destacou que a unidade se tornou referência nacional em ressocialização, com panificadora e projetos profissionalizantes. “É realmente difícil imaginar a Cadeia Pública de Castro sem o firme comando e dinamismo do Sr. Elerson de Lima, digno dos mais bravos cumprimentos pelo exercício de seu mister”.

Em sua despedida, Lima agradeceu aos parceiros institucionais e reforçou sua postura de perseverança. “Sonhos foram feitos para serem realizados! Não deixo ninguém destruir meus sonhos, e não os realizo pisando nas pessoas”, escreveu.

Natural de Ponta Grossa, o policial penal disse sentir gratidão por sua trajetória em Castro. “Fui muito bem acolhido. Hoje sou realizado como pessoa. Tenho uma família linda que amo demais”, afirmou.

Mesmo deixando o comando, Elerson seguirá trabalhando na cidade na escala 24h x 72h, mantendo vínculos com a comunidade que adotou como lar.

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