Neto Fadel mata empresário a tiros em condomínio de luxo: Um ano depois, família Becher cobra justiça

Passados 12 meses, inquérito não foi concluído

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Da Redação

Ponta Grossa – Um ano se passou desde a fatídica tarde de 20 de novembro, mudando para sempre a rotina de duas famílias e marcando a política regional. A discussão que começou como um desentendimento entre vizinhos terminou na morte do empresário Guilherme de Quadros Becher, 34 anos, em um condomínio de chácaras de luxo em Ponta Grossa. O autor dos disparos foi o então presidente da Câmara Municipal de Castro, Miguel Zahdi Neto, conhecido como Neto Fadel, cuja participação na tragédia levou o caso a ganhar repercussão nacional.

Hoje, 12 meses após o crime, o inquérito ainda não foi concluído. A investigação aguarda a finalização do laudo da reconstituição da cena, etapa considerada decisiva para o encerramento do procedimento pela Polícia Civil.

Segundo o advogado da família da vítima, Fernando Madureira, “ainda não foi concluído, está aguardando o laudo sobre a reconstituição do crime”. Ele destaca que, apesar da demora, o ritmo do inquérito não surpreende. “Considerando o acúmulo de serviço e a escassez de funcionários, está dentro da normalidade”.

Mas, para a família Becher, a espera aprofunda a dor. E alimenta a convicção de que a tese de legítima defesa apresentada por Fadel é insustentável. “Considerando as provas produzidas no inquérito policial, não restam dúvidas de que a vítima Guilherme de Quadros Becher foi assassinado pelo acusado Miguel Zahdi Neto, tendo sido alvejado por este com diversos disparos de arma de fogo, sofrendo tiros nas costas e após estar caído ao solo”, afirmou Madureira. “O caso deve ser levado a Júri Popular”, continuou.

Relembre
Um mês após o crime, a família reforçou sua equipe jurídica. O criminalista Fernando Madureira se uniu ao advogado José Jair Baluta, que já acompanhava o caso, para contestar de forma contundente a narrativa apresentada pela defesa do então vereador.

Em entrevista ao Página Um News, Madureira afirmou que a alegação de legítima defesa é, nas suas palavras, “uma farsa”.

Ele reconstrói a cena com detalhes: “No dia dos fatos, a vítima estava em sua residência e efetuou disparos contra o chão. Depois disso, o acusado, acompanhado de mais sete pessoas, foi até a casa da vítima, armado, buscando tirar satisfação.”

Segundo o advogado, no portão da chácara, a mãe e a esposa de Guilherme tentaram impedir a entrada do grupo. “Começaram as ameaças e provocações: chamaram a vítima de ‘bundão’, ‘seu bosta’ e diziam ‘vocês não sabem com quem estão se metendo’”.

Madureira sustenta que Guilherme, ao chegar ao portão, “disparou para o chão, não disparou contra os acusados, não disparou contra a residência do acusado, não disparou contra a criança. Disparou para o chão para espantar os elementos”, afirma.

Autor dos disparos comparece a reconstituição. Foto: Arquivo

 

Segundo ele, ao reagir, Neto Fadel já teria chegado armado e pronto para atirar. “O acusado já estava com a arma engatilhada e descarregou a pistola com 15 tiros contra a vítima, atingindo ao menos seis disparos, inclusive com a vítima já caída no chão. A mãe da vítima implorava para que ele parasse”.

A versão, diz o advogado, derruba a tese de legítima defesa: “Você não pode ir até a casa da pessoa provocar, esperar uma reação e depois descarregar uma arma. Ainda mais com a vítima já caída ao chão”.

Laudos e contradições
A família de Guilherme encomendou um laudo pericial independente, assinado pelo médico perito criminal Vinícius Grachinski. O documento aponta que Becher foi atingido por seis tiros — três pela frente e três pelas costas.

“Por isso, fizemos um laudo particular para esclarecer e juntar no inquérito”, explicou Madureira. “O excesso de tiros, e o fato de ter ferimentos nas costas, descaracteriza a legítima defesa. E pode, em tese, agravar a pena”.

O documento registra que a vítima chegou ao Hospital do Coração Bom Jesus já em parada cardiorrespiratória e morreu às 19h43 de 20 de novembro de 2024. A causa da morte: choque hipovolêmico hemorrágico provocado pelos ferimentos de arma de fogo.
Para a família e seus advogados, a conclusão é inequívoca: “Foi tudo uma farsa montada para tentar se eximir da responsabilidade pelo assassinato covarde e doloso”.

Andamento
A polícia aguarda laudos complementares e a reconstituição do crime. Só então o inquérito será remetido ao Ministério Público, que decidirá pela denúncia ou por novas diligências.

Os advogados de Neto Fadel não foram encontrados.

Linha do tempo: um ano da tragédia

20/11/2024 — O crime
•Discussão entre vizinhos termina com Guilherme Becher baleado em sua chácara.
•Neto Fadel, então presidente da Câmara, assume os disparos.
•Caso repercute nacionalmente devido projeção política do autor.

20–30/11/2024 — As primeiras investigações
•Depoimentos são colhidos.
•Família contesta versão de legítima defesa.
•Advogado José Jair Baluta assume representação da família.

20/12/2024 — Reforço na acusação
•Criminalista Fernando Madureira passa a integrar a equipe jurídica.
•Acusação afirma que a versão de Fadel é “farsa”.

Início de 2025 — Laudos iniciais
•IML entrega laudo de necropsia, mas documento é considerado inconclusivo quanto ao número de disparos.
•Família encomenda perícia independente.

Março de 2025 — Laudo particular
•Perícia aponta seis tiros, incluindo disparos pelas costas.
•Advogados reforçam pedido por júri popular.

Agosto de 2025 — Espera por reconstituição
•Ministério Público solicita diligências adicionais.
•Reconstituição do crime é anunciada, mas demanda mais tempo técnico.

20/11/2025 — Um ano sem conclusão
•Inquérito segue aberto aguardando laudo final.
•Família cobra celeridade e afirma que provas desmontam tese de legítima defesa.
A morte de Guilherme Becher permanece como uma ferida aberta nas famílias envolvidas e na sociedade regional. Um crime que expôs tensões, desmontou narrativas e colocou sob holofotes a responsabilidade de um agente público. Um ano depois, mais do que respostas, a região espera pela mesma coisa que a família: Justiça.

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