Título que desafia a coerência pública

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A decisão da Câmara Municipal de Jaguariaíva de conceder o título de Cidadão Honorário ao deputado estadual Moacyr Fadel levanta um debate inevitável sobre ética, coerência e o papel simbólico das homenagens públicas. O parlamentar, que recentemente confessou ter recebido propina no chamado “caso do jaquetão”, firmou um acordo com o Ministério Público que extinguiu o processo criminal mediante reparação financeira. Ainda assim, sua trajetória foi enaltecida em plenário como exemplo de contribuição política e de serviços prestados à cidade.
Conceder honrarias é prerrogativa legítima do Legislativo, mas também é um ato de representação moral. Quando a homenagem ignora fatos recentes de confissão de corrupção, ela transmite uma mensagem confusa à sociedade — a de que a ética pode ser relativizada conforme o prestígio ou a conveniência política. A unanimidade na votação apenas reforça como o corporativismo e o alinhamento partidário ainda se sobrepõem, muitas vezes, ao senso de responsabilidade pública.
É fato que Fadel mantém influência política na região e, ao longo dos anos, direcionou recursos e apoio a municípios como Jaguariaíva. Mas é igualmente fato que o reconhecimento de mérito público exige não apenas resultados administrativos, e sim conduta exemplar. Ao homenagear quem admitiu um crime contra a administração pública, a Câmara local desvaloriza o próprio sentido de cidadania e compromete a credibilidade do título que concede.
O título de Cidadão Honorário deveria representar orgulho, não controvérsia. Jaguariaíva perdeu a chance de reafirmar o compromisso com a moralidade pública — e, ao fazê-lo, prestou uma homenagem que, para muitos, soa mais como contradição do que como honra.

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