EDITORIAL: ENTRE TARIFAS E INCERTEZAS GLOBAIS

0 8

O setor madeireiro brasileiro, particularmente o de compensados, vive um momento crítico que pode redesenhar sua participação no comércio internacional. A decisão dos Estados Unidos de impor tarifas de até 50% sobre a madeira brasileira, somada à investigação antidumping em curso na União Europeia, não apenas abala a confiança dos exportadores, como ameaça diretamente milhares de empregos e empresas que sustentam a economia de cidades inteiras — como Carambeí, no Paraná.
A ofensiva norte-americana, embora politicamente motivada, tem consequências muito concretas. Empresas como a Madeireira Brandes, que dedicavam parte significativa de sua produção ao mercado dos EUA, já relatam perdas expressivas com o cancelamento de pedidos. Trata-se de um impacto direto, imediato e desestruturante, que compromete o planejamento e a saúde financeira de empreendimentos que mantêm em funcionamento cadeias produtivas complexas.
O quadro europeu não é menos preocupante. A investigação iniciada pelo bloco, com base em acusações de venda de madeira compensada brasileira a preços inferiores ao custo de produção, pode culminar na imposição de taxas adicionais. Isso significaria fechar a principal porta de saída do produto brasileiro, num momento em que os produtores buscavam justamente intensificar as exportações à Europa para compensar a retração americana. A situação é emblemática: quando uma porta se fecha, a outra ameaça se trancar por dentro.
A dependência externa do setor – 95% da produção da Madeireira Brandes é voltada à exportação – revela uma vulnerabilidade estrutural. Estados como o Paraná, que respondem por quase metade das exportações brasileiras de madeira para os EUA, podem sentir os efeitos dessa retração de maneira mais acentuada. Os reflexos econômicos locais, especialmente em municípios com forte presença do setor madeireiro, tendem a ser severos e duradouros.
A atuação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), embora pontual, é vital. Cabe ao governo brasileiro mobilizar canais diplomáticos e técnicos para contestar medidas que se configurem como barreiras comerciais injustas. A orientação às empresas para que colaborem com a investigação europeia é essencial, já que o silêncio ou a omissão pode custar caro: a aplicação das chamadas “melhores informações disponíveis” pelas autoridades estrangeiras geralmente resulta em penalizações ainda mais severas.
Num cenário global cada vez mais protecionista, o Brasil precisa fortalecer suas políticas de defesa comercial e ampliar o diálogo com seus principais parceiros. Ao mesmo tempo, é preciso repensar estratégias de diversificação de mercados e agregar valor à produção, reduzindo a dependência de matérias-primas in natura e o risco de choques externos.

Participe da comunidade no WhatsApp do PáginaUm News e receba as principais notícias dos campos gerais direto na palma da sua mão.

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.