Governo do Paraná vai certificar Estrada do Cerne como rota turística, anuncia secretário em Castro

Durante reunião com prefeitos dos Campos Gerais, proposta apresentada por Dr. Reinaldo reacende debate histórico sobre Estrada do Cerne

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Emerson Teixeira

Castro – Um antigo sonho dos moradores dos Campos Gerais voltou à pauta na quinta-feira (7), durante a visita do secretário de Estado do Turismo, Leonaldo Paranhos, ao município de Castro. Em evento com a presença de prefeitos da região e lideranças locais, foi anunciada a certificação da Estrada do Cerne (PR-090) como rota turística do Paraná, o que pode abrir caminho para investimentos em sua pavimentação e reestruturação.

A proposta foi apresentada pelo prefeito Dr. Reinaldo Cardoso, que defendeu a retomada da estrada como instrumento de integração regional e de desenvolvimento econômico. O trecho discutido compreende cerca de 68 quilômetros, ligando o distrito de Abapan, em Castro, ao distrito de Bateias, em Campo Largo, região metropolitana de Curitiba.

“Na nossa história, nós fomos a principal ligação do Norte do Paraná a Curitiba e Paranaguá através da Estrada do Cerne. Com a criação da Rota do Café, aqui ficou isolado, e nós não crescemos”, argumentou o prefeito. Segundo ele, a falta de investimentos nessa ligação rodoviária contribuiu para o atraso no desenvolvimento da região. “A Ferroeste, as ferrovias foram todas pra lá, aqui não ficou nada”, pontuou.

Dr. Reinaldo ainda defendeu o uso do leito já existente para a pavimentação do trecho. “Se fizer um asfaltamento usando o próprio leito, com adequações em locais mais perigosos, o custo gira em torno de R$ 6 milhões por quilômetro. Isso pode atrair os 3 milhões de pessoas que vivem na região metropolitana de Curitiba para o turismo aqui, com impacto direto em nossa economia”, destacou.

Prefeito de Castro, Dr Reinaldo Cardoso, apresenta demanda durante encontro na última semana

 

O secretário de Turismo acolheu o pedido e anunciou que a estrada será certificada como rota turística por meio do Decreto 10.256, assinado pelo governador. “É um trecho de 68 quilômetros. Quando olhamos o valor, é bastante dinheiro, mas temos que considerar o número de cidades e habitantes beneficiados”, afirmou Paranhos.

“Quero aqui fazer um pedido para que rapidamente certifiquemos essa estrada como uma obra de alta relevância ao turismo. Isso garante prioridade na fila de projetos e recursos do Estado”, declarou o secretário, reforçando o apoio de prefeitos, deputados e lideranças regionais. Ele também destacou que o reconhecimento da Estrada do Cerne como uma rota de interesse turístico poderá viabilizar novos eventos e fortalecer o turismo rural e ecológico.

A proposta deverá agora seguir para elaboração de projeto técnico e mobilização política junto ao governo estadual. A expectativa, segundo Reinaldo, é que os municípios da região se unam na construção dessa nova alternativa de integração regional, com foco no turismo e na logística.

Histórica, porém esquecida: Estrada do Cerne

A Rodovia PR-090, conhecida popularmente como Estrada do Cerne, é uma das vias mais tradicionais do Paraná. Com início em Curitiba e término próximo à divisa com o estado de São Paulo, em Alvorada do Sul, a estrada já foi eixo estratégico para o escoamento da produção cafeeira do Norte do estado, especialmente nas décadas de 1940 e 1950.

Inaugurada em setembro de 1940, com obras iniciadas cinco anos antes, a estrada ganhou o nome de “Cerne” em referência ao Rio Cerne, que corta o trecho no km 35. A liberação oficial ao tráfego ocorreu após a conclusão do trecho entre Santa Felicidade e o próprio rio, marcando o início de uma nova era de integração regional.

Durante pelo menos duas décadas, a PR-090 funcionou como a principal rota para a exportação da produção agrícola paranaense, que passou a seguir preferencialmente para o Porto de Paranaguá, deixando de lado o tradicional escoamento pelo Porto de Santos. Os impactos positivos na economia foram imediatos. A estrada impulsionou a instalação de grandes empreendimentos como a fábrica da Klabin S.A., em Telêmaco Borba, a exploração do carvão e a Usina Termelétrica de Figueira, além da usina de açúcar em Porecatu, todos viabilizados pela infraestrutura de transporte e pelo incentivo do interventor Manoel Ribas.

Atualmente, porém, a Estrada do Cerne carrega mais memórias do que movimento. Com cerca de 23% de sua extensão ainda sem pavimentação – o que equivale a aproximadamente 107 quilômetros –, a via apresenta condições precárias, especialmente nos trechos após a saída da Região Metropolitana de Curitiba.

Ao longo de seu traçado, a PR-090 ainda coincide com outros importantes trechos rodoviários: com a PR-151, em Piraí do Sul, em um segmento duplicado de pouco mais de 1 km; com a PR-160, entre Ventania e Curiúva; e com a BR-369, entre Jataizinho e Ibiporã.

A perda de protagonismo da Estrada do Cerne começou nos anos 1960, com a construção da Rodovia do Café (BR-376), totalmente asfaltada entre Ponta Grossa e Apucarana. Desde então, o tráfego intenso migrou para as novas vias, e a PR-090 entrou em um longo processo de abandono. O reflexo foi sentido diretamente nas comunidades do entorno, que viram o desenvolvimento desacelerar com o esvaziamento econômico e demográfico da região.

Apesar do papel histórico e de sua importância estratégica para integração regional e desenvolvimento do turismo, a estrada ainda aguarda investimentos estruturais. A recente proposta de transformá-la em rota turística, anunciada pelo Governo do Estado, reacende esperanças de retomada do desenvolvimento e valorização de toda a região por onde passa a Estrada do Cerne.

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