Cleucimara Santiago
Palmeira – Em junho, a Colônia Witmarsum, localizada no município de Palmeira, completa 70 anos e poderá ganhar um portal de entrada e um selo comemorativo. A ideia vem sendo debatida pelo governo municipal e pessoas ligadas ao turismo e a cultura local.
Ao final de janeiro, com o intuito de desenvolver atividades e atrativos turísticos da comunidade, o secretário de Cultura e Turismo, Rodrigo Haniskievicz; o chefe de Cultura, Paulo Taufer; a chefe de Turismo, Wilena Margraf; o vice-prefeito Major Schuli; o vereador Lucas Santos e as lideranças locais da Colônia Witmarsum, entre elas Ricardo Phillipsen, Rubens Kliewer e Anke Elisabeth Harms estiveram reunidos no Heimat Museum de Witmarsum.
O Página Um News fez uma busca em registros, depoimentos e livros de historiadores para contar a história da Fazenda Cancela, atual Heimat Museum de Witmarsum.
A Fazenda Cancela, terra que mais tarde foi comprada pelos menonitas, era uma das fazendas de invernada e criação de gado na região dos Campos Gerais. Típica do século XIX, a maior parte das ricas fazendas possuía uma casa de residência, feita de adobe. Em torno da casa era comum uma construção de madeira para o alojamento dos empregados, as mangueiras de gado, as estrebarias, o potreiro, o galinheiro, o chiqueiro e outros.
A terra foi obtida por Manoel Gonçalves da Cruz como parte de sua sesmaria no ano de 1708. Quando este veio a falecer, a fazenda passou como herança para a sua esposa, Joana Rodrigues de França. Ela casou-se, novamente, com Antônio dos Santos, que administrou as fazendas de Joana, onde residiram por algum tempo. Antônia da Cruz França, filha de Joana e neta de João Rodrigues de França, casou-se duas vezes, mas não teve filhos. Ela recebeu a Fazenda Cancela, dentre outras fazendas, como herança. A fazenda, então por herança ficou para sua sobrinha, Maria Angélica Gomes de França, bisneta do capitão-mor de Paranaguá, João Rodrigues de França.
Maria Angélica era casada com o capitão-mor de Paranaguá, José Carneiro dos Santos, nascido em Portugal, que por sua vez herdou a fazenda de sua esposa. Maria Angélica e José Carneiro dos Santos eram os pais do Capitão Verissimo Carneiro dos Santos, que herdou a propriedade do pai. Verissimo casou com Rita Maria do Nascimento, filha de Marcelino Gomes da Costa e Joana Francisca de Abreu, descendente de portugueses e paulistas. Passaram a residir na fazenda da Cancela, onde criaram os filhos. Após a morte do marido, Rita administrou a fazenda, o que lhe rendeu o apelido de ‘Rita da Cancela’. No seu inventário, datado de 1819, consta que além da esposa Rita, Veríssimo deixou os seguintes filhos: 1. José Marcelino, 25 anos, 2. Josefa, casada, 3. Joaquim, 19 anos, 4. Hemiliana, 15 anos, 5. Manoel, 13 anos, 6. Ana, 11 anos, 7. Maria Rita, 9 anos, 8. João, 6 anos, .9. Maria Josefa, 3 anos, 10. Francisca.
Segundo o livro ‘De Portugal a Paranaguá: uma história de colonização dos Campos Gerais do Paraná’, da historiadora castrense Cirlei Francisca Gomes Carneiro, eram comum casamentos entre parentes em primeiro grau. Do filho mais velho de Verissimo e Rita da Cancela, descende a família Rolim Carneiro, mais conhecida como ‘Teco’, numerosa família de Castro. A segunda filha, Josefa Joaquina de França casou em Curitiba em 1810 com o capitão Domingos Inácio de Araújo, filho de Manoel José de Araújo e Ana Maria da Conceição e Sá, os fundadores de Palmeira. Josefa dou muito de suas terras para a instalação da freguesia de Palmeira. Josefa e o capitão Domingos eram os pais de Francisco Inácio de Araújo Pimpão. Francisco casou com sua tia Maria Josefa de França e eram pais de coronel Amazonas de Araújo Marcondes. O coronel Amazonas de Araújo Marcondes foi o patriarca e fundador da cidade de Porto União da Vitória (desmembradas, anos depois, em União da Vitória e Porto União) e fundador da cidade de Porto Amazonas. O quinto filho de Verissimo e Rita da Cancela, Manoel, casou com Francisca Caetana Marcondes de Oliveira, filha de Cherubina Rosa Marcondes de Sá, a baronesa de Tibagi e neta dos fundadores de Palmeira. Rita da Cancela faleceu no ano de 1872.
Na primeira metade do século XX, a fazenda foi vendida para o senador Roberto Glaser (senador de 1937 a 1946), e a casa passou por mudanças significativas, sendo construída uma nova ala para junto da casa e para continuar a residência, sendo então feita de madeira de pinho e de dois pavimentos.
Em 7 de junho de 1951, após a Segunda Guerra Mundial a fazenda foi comprada pelo Menonitas brasileiros que se instalaram na região com a intenção de produzir leite pasteurizado. A antiga sede serviu de hospital-maternidade, entre outras utilizações. Em setembro de 1989, a casa foi tombada pela Secretaria da Cultura do Estado do Paraná e logo após tornou-se museu histórico da colônia, mantendo acervo de objetos, móveis, fotos, equipamentos e utensílios das colônias Menonitas de Santa Catarina e da própria Witmarsum, além de peças históricas trazidas pelos primeiros imigrantes menonitas vindo da Rússia. A Casa Fazenda Cancela, atual museu ‘Heimat Museum’, construída em madeira e alvenaria, em estilo europeu-italiano, com pavimento e sótão habitável, possui 400 m² de área construída e mantém ornamentos em lambrequins e forte inclinação em sua cobertura.