A recente aprovação do vale-alimentação de R$ 1.250,00 para os vereadores de Jaguariaíva, em uma sessão extraordinária e pouco prestigiada pelo público, expôs de forma contundente a distância entre o Legislativo municipal e a realidade da população que o elegeu. Em meio a um cenário social marcado por dificuldades econômicas, vulnerabilidade e escassez de oportunidades, a concessão de um benefício desse porte aos parlamentares soa como um golpe na confiança dos cidadãos e um desserviço ao bom senso político.
Ainda que a proposta tenha respaldo jurídico e contemple também os servidores da Câmara com valores inferiores, a forma como foi conduzida — com votação apertada e dependente do voto de minerva do presidente da Casa — revela uma falta de sensibilidade institucional. Não se trata apenas de legalidade, mas de legitimidade. É legítimo, do ponto de vista ético, ampliar benefícios próprios em um momento em que tantas famílias enfrentam o básico com dificuldade?
A reação popular, ainda que tardia, mostrou-se veemente. A mobilização nas redes sociais e o desconforto evidente nas ruas obrigaram o Legislativo a recuar. A suspensão da segunda votação e o pronunciamento firme do prefeito Juca Slobodá, que prometeu veto caso o projeto chegasse ao Executivo, foram reflexos da pressão pública.
A fala do vereador Willian Abdiel reforça o que muitos pensam, mas poucos têm coragem de vocalizar: vereadores não são trabalhadores regidos pela CLT, e ampliar seus ganhos por meio de benefícios indiretos é uma afronta à população. Em uma cidade onde há mães sustentando famílias inteiras com salário-mínimo em empregos extenuantes, como justificar esse tipo de projeto?
A confiança no sistema político é construída pela coerência entre discurso e prática. E neste episódio, infelizmente, o Legislativo jaguariaivense se distanciou do exemplo que deveria dar.
