EDITORIAL: UM CLAMOR PELA VERDADE

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O caso que envolve a morte de Guilherme de Quadros Becher, de 32 anos, é mais do que um episódio isolado de violência; é um reflexo da complexidade de se alcançar justiça em um sistema onde poder político e interesses particulares podem influenciar o devido processo legal. A tragédia ocorrida na noite do dia 20 de novembro, em um condomínio de luxo entre Carambeí e Ponta Grossa, trouxe à tona não apenas o luto de uma família, mas também um debate essencial sobre legítima defesa, excesso de violência e responsabilidades.
Os depoimentos recentes da família de Guilherme apontam para uma possível desconstrução da tese inicial de legítima defesa apresentada pelo vereador Miguel Zahdi Neto, conhecido como Neto Fadel, acusado pelo crime. Segundo o advogado da família, José Jairo Baluta, as circunstâncias do caso sugerem que os disparos fatais podem ter sido fruto de um ato desproporcional e não de uma reação necessária.
Os relatos revelam uma escalada de tensões que culminou na morte de Guilherme, com múltiplos disparos feitos em sua direção, mesmo quando ele já estava ferido e cambaleante. Esse cenário contrasta fortemente com a narrativa inicial, que sugeria que Guilherme teria ameaçado o vereador e seu grupo armado. A afirmação de que a pistola da vítima estava descarregada e que os primeiros tiros foram disparados no chão, para dispersar os invasores, levanta sérias dúvidas sobre o contexto e as motivações por trás do uso da força letal.
Além das questões técnicas que a perícia deve responder — como a origem dos disparos, a sequência dos eventos e a análise das armas envolvidas —, o caso também expõe a fragilidade da confiança da população em relação à imparcialidade das investigações. A influência política de Neto Fadel, um vereador com laços familiares no âmbito legislativo, é um ponto de preocupação legítima. Contudo, a postura do delegado e o compromisso da polícia em conduzir a apuração com isenção trazem algum alívio para aqueles que clamam por justiça.
Este caso deve ser tratado com rigor exemplar, não apenas para honrar a memória de Guilherme, mas também para demonstrar que nenhum cargo, influência ou poder político está acima da lei. A sociedade espera que o Ministério Público e o Poder Judiciário atuem de forma incisiva e justa, garantindo que todas as evidências sejam devidamente avaliadas e que os responsáveis sejam levados a julgamento.

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