Cinco tiros teriam matado Guilherme
*Advogado diz que depoimentos da família derrubam tese de legítima defesa
Da Redação
Ponta Grossa – Os depoimentos mais aguardados, da família do empresário Guilherme de Quadros Becher, 32 anos, morto a tiros no início da noite de quarta-feira (20) pelo presidente da Câmara Municipal de Castro, vereador Miguel Zahdi Neto – Neto Fadel -, podem mudar o rumo da investigação e colocar por terra a tese de legítima defesa, até então, a única apresentada pelo delegado de polícia da 13ª SDP, Luís Augusto Timossi, à imprensa.
Na manhã desta quarta-feira (27), mãe, pai, esposa e irmão de Guilherme prestaram depoimentos ao delegado, em meio a muita comoção, enquanto que do lado de fora da 13ª SDP, parentes e amigos da vítima seguravam faixas e vestiam camisetas pedindo por justiça.
Há uma semana, Guilherme foi assassinado no portão de sua chácara, em um condomínio de luxo no fundo da Maltaria Campos Gerais, entre Carambeí e Ponta Grossa, com pelo menos cinco tiros disparados por Neto Fadel, conforme descreveu o advogado criminalista, José Jairo Baluta, que aguarda o laudo da necropsia para comprovar essas afirmações.
Em entrevista à reportagem do Página Um News, logo após os depoimentos das vítimas, o advogado Jairo Baluta respondeu que “foi conseguido esclarecer, de uma forma sincera, como a dinâmica dos fatos ocorreram, desmanchando toda a criatividade trazida à delegacia no dia pelo autor do fato, e seus amigos, de que Guilherme teria puxado duas armas contra a família deles. Inclusive, a pistola de Guilherme estava desarmada, ele só estava com o revólver”.
Perguntado o que teria realmente ocorrido naquele dia, o advogado detalhou: “O que aconteceu, é que eles [Neto Fadel e amigos] estavam com muita algazarra, com quadriciclos, moto, e o Guilherme pegou a arma lá na piscina, deu três a quatro tiros em direção ao chão, na grama, projéteis esses que nós já colocamos diligências para localizar. Ocorrendo isso, o autor do homicídio [Neto Fadel], com seus amigos, foram até o portão da chácara da vítima e, a mãe de Guilherme, após esses tiros, pegou o filho, levou para o interior da casa e o chaveou em seu interior, preocupada que desse problema. Aí, esse pessoal, no portão da chácara de Guilherme, segundo relatos da mãe, chamavam por ele, xingando de bundão, vamos conversar agora. Nesse momento, a esposa de Guilherme subiu até o portão para acalmá-los, pedindo para irem embora, o mesmo fez a mãe na tentativa de apaziguar a questão, e tiveram como resposta por parte do autor dos disparos que ‘agora ele irá ver com quem está lidando'”. E mais, que Neto Fadel estaria de calção, com a pistola à mostra, sem camisa.
Na sequência, continua Baluta, “Guilherme teria visto do interior da casa aquele tumulto, com a mãe e a esposa. Ele lembrou que tinha uma segunda chave dentro da casa, abriu e subiu, pegou as duas armas, a pistola sem o carregador e pôs na cinta, o revólver colocou na cintura por cima ou no bolso, não era visível, e foi andando normalmente. Quase chegando no portão, a esposa foi em cima dele [Guilherme] e tentou segurá-lo, ele [Guilherme] disse que só queria conversar, e já chegou ao lado da mãe. Surgiu uma discussão imensa entre o Guilherme e as seis ou oito pessoas que ameaçavam a adentrar na propriedade, especialmente o vereador [Neto Fadel] com xingamentos e o Guilherme, penso eu, para assustar, atirou no chão, no seu lado direito, na grama. Se quisesse ter atirado para atingir ele [Neto Fadel] poderia ter atingido as outras pessoas. A mãe de Guilherme disse para pararem com isso e quando ele fez o disparo no chão, segundo a mãe e a esposa, o vereador sacou a pistola e já começou a atirar”.
Perguntado sobre as demais pessoas, o que fizeram quando do primeiro tiro realizado por Guilherme em direção ao chão, Baluta respondeu que, segundo a mãe de Guilherme, “eles foram todos para dentro da casa do vereador, enquanto que o Guilherme levou dois tiros no peito, nas pernas, no braço. Quando a mãe viu que ele [Guilherme] sentiu o impacto, já meio cambaleando, passou na sua frente, talvez querendo protegê-la. Percebeu ela que o filho estava com o braço meio mole, para baixo, certamente até disparou alguns tiros, mas já não teria mais como mirar pois estava ferido. Ele foi se direcionando até a divisa com a área da Frísia, cambaleando, e a mãe vendo tudo isso, com o Neto não parando de atirar, tanto que foram mais de dez ou doze disparos. Guilherme andou uns doze a quinze metros e mesmo assim, segundo a mãe, ele [Neto Fadel] não parava de atirar, com o Guilherme caindo na cerca, para trás, já desfalecido, perto do portão da chácara”.
O advogado acrescentou que as pessoas que estavam com o Neto Fadel eram seus amigos, umas seis ou oito pessoas. O fato teria acontecido entre 17h30 e 18 horas. Também disse que, descreve a mãe segundo Baluta, mais um do grupo do Neto mostrava ter volume embaixo da camisa, que ele punha a mão, mas que não chegou a ver se era uma arma.
Indagado pela reportagem, qual a arma que o vereador possuía, se era uma pistola, o advogado disse que “não vi o laudo, mas parecia uma 9 milímetros. Quanto aos tiros que Guilherme levou, relatou que o médico que o atendeu na UTI do hospital [Hospital do Coração Bom Jesus], que viu ele falecer, disse que foram duas perfurações no tórax, duas nas pernas e uma no braço”, mas que também não teve acesso ao laudo. Sobre algum tiro que possa ter atingido as costas de Guilherme, Baluta desconhece.
Na sequência dos fatos, com o Guilherme caído, “a família chamou o pai, que estava na casa e ajudou a carregar o filho para o carro. Ele não conseguia dirigir direito e uma hora após o internamento veio a notícia do óbito”, descreveu o advogado.
Questionado do porque do pai não ter se dirigido ao portão no momento dos fatos, o advogado respondeu que “almoçaram tarde e o pai estava descansando”.
Pedido de prisão
Quanto a pedir a prisão de Neto Fadel, o advogado criminalista diz que “é uma situação muito delicada porque no momento em que não houve o flagrante, a prisão temporária já perdeu o objeto e a prisão preventiva é complexa, tem requisitos sérios. O nosso foco, hoje, é esclarecer com todas as provas, com todos os indícios para que haja denúncia do Ministério Público. Nesse momento, a dúvida não favorece ao réu, mas a sociedade e a vítima. Com a denúncia, inicia-se o processo, submete-se todas as provas ao contraditório e se busca pela pronúncia para remeter o autor do homicídio ao julgamento pelo júri, que é o competente a julgar esse fato criminoso que é doloso contra a vida”.
Legítima defesa
Quanto a tese de legítima defesa, “conversei com o delegado junto com a família, e como ele tinha apenas a história do Neto e a comprovação em tese dos amigos, ele [delegado Timossi] entendeu que diante da situação foi levado a essa interpretação. Causou estranheza à época a posição do delegado, até explicamos o medo que tínhamos da falta de imparcialidade, pelo Neto Fadel ter um tio deputado, mas hoje [quarta-feira (27)] saímos muito tranquilos, vimos a seriedade. Explicamos que a mãe não tinha como depor, inclusive hoje [quarta-feira (27)] não conseguia parar em pé, expliquei que não a encaminhei no dia e no outro dia porque tinha o enterro, e hoje estamos absolutamente tranquilos porque pudemos perceber que a atividade policial está sendo desenvolvida em alto grau de seriedade, com várias diligências requeridas. Tivemos notícia que o doutor Timossi é um delgado que leva as coisas muito a sério, então isso nos tranquiliza, sem medo que a verdade seja ofuscada”. E mais, “recebemos uma informação do delegado-chefe, Dr. Nagib, que disse que tudo está sendo feito, como deve ser feito, absoluta isenção e imparcialidade”.
Próximo passo
“Ainda tem o caseiro que viu algumas cenas, que traremos para depor nessa semana, e a hora que chegar a perícia, será juntada todas as informações e encaminhada ao Ministério Público, o qual fará a análise. Ele [MP] percebendo que haja elementos que induzam ao excesso na conduta do autor do homicídio será apresentada denúncia, e é o que nós esperamos”, acrescenta Baluta.
Material e provas
Baluta diz que foram trazidas fotos aéreas do local dos tiros, dvd com o som de todos os disparos, no sentido de colaborar no que for possível, para que o Ministério Público possa denunciar Neto Fadel, iniciando o processo criminal até o julgamento pelo Tribunal do Júri.
E a prisão?
Para o advogado, “o histórico de Neto Fadel será analisado pelo delegado, Ministério Público, e se ele [MP] entender que haja motivos para prisão, pode sim ser requisitada a preventiva. Mas, hoje, o que nos interessa é o julgamento e a condenação, para ter um reparo mínimo nessa dor, nesse estrago imenso da vida dos pais. Ele [Guilherme] estava fazendo a casa e queriam ter um filho ano que vem”.
Interferência política
Perguntado se o advogado acredita em interferência política, sendo o tio deputado e ele vereador até 31 de dezembro, Baluta respondeu que “toda força política tem essa maldade intrínseca de influenciar autoridades, e isso é público e notório, mas nós confiamos no poder judiciário, no MP, e acreditamos que não vai ocorrer, embora eu não descarte a possibilidade de que eles irão tentar”.
Câmeras
Sobre possíveis câmeras que possam ter registrado os fatos, Baluta disse que “tem uma câmera do condomínio, bem na frente, que está queimada ou não funciona; tem a câmera da chácara que pega parcialmente o Guilherme saindo, andando normalmente; e temos uma gravação do vizinho que tem o som dos tiros, mas não há nenhuma que foque a casa do autor do homicídio.
Moradia
De acordo com o advogado, “Neto Fadel adquiriu a casa há um ano e pouco, mas residia há uns dois meses, sendo que os vizinhos há mais de dez anos morando lá nunca tiveram um embate. Todos se dão, todos se propuseram a ir depor”.
Ainda os tiros
Para o advogado, disparos que Guilherme possa ter dado na entrada da chácara é de um revólver 38. “Foi feito buscas e não foi encontrado o projétil. Contudo, a gravação da câmera do vizinho que será submetida a exame, captou exatamente um tiro inicial, com intervalo de alguns segundos, antes dos intensos disparos que se seguiram. Então o primeiro tiro foi mesmo disparado pelo Guilherme em direção ao solo, certamente em um ângulo pouco mais elevado que foi mais distante, mas não contra as pessoas que ali se encontravam em sua frente, próximas há dois a 3 metros, em um grupo de 6 a 8, pois se assim fosse, acertaria, sem dúvida, em alguém”, esclareceu. Baluta já pediu para a perícia, que identifique de que armas vieram todos os estampidos. “Dá a impressão que foram uns 20 que foram dados. Todos de pistola na frente da casa são do Neto ou de algum colega lá de dentro que tenha atirado”, acrescentou.
Advogado que defende Miguel Zahdi Neto – Neto Fadel – não foi encontrado para falar sobre os depoimentos da família de Guilherme, trazidos pelo dr. José Jairo Baluta.
Amigos e parentes de Guilherme, em frente à 13ª SDP
É possível ouvir 17 estampidos de revólver