Caminhada do Autismo reúne mais de 200 pessoas em Castro

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*Ação celebra Dia Mundial de Conscientização Sobre o Autismo

Emanoelle Wisnievski
Especial Página Um News

Mais de 200 integrantes e apoiadores da Associação Amigos Autistas da Região de Castro (Amar-C) percorreram na manhã deste sábado (06) a rua Dr. Jorge Xavier da Silva com faixas e cartazes para celebrar o Dia Mundial de Conscientização Sobre o Autismo, comemorado em 2 de abril. Comerciantes da principal rua da cidade também participaram da 4ª Caminhada do Autismo, decorando as vitrines com a cor azul, que faz referência à luta pelos direitos das pessoas autistas.
“Foi muito especial contar mais uma vez com tanta participação e acolhimento. Muitas escolas vieram com a gente, profissionais e familiares. É importante essa conscientização, para que a pessoa com autismo seja vista por toda a sociedade e incluída em todos os lugares”, afirma Angelita Schmidki, presidente da Amar-C e mãe do Diogo, de 21 anos.

Durante o trajeto de 1,4 Km, voluntários distribuíram panfletos, adesivos e levantaram cartazes sobre inclusão e respeito.

A equipe da Amar-C reforçou também o convite para que pais e tutores preencham o formulário de cadastro da Associação, disponível no link da bio do Instagram @amarc_autismo. “Nosso objetivo é levantar o número de autistas na cidade para que possamos levar esse dado aos representantes da Prefeitura, por exemplo. Com base nisso, podem ser definidas políticas públicas como a oferta de terapias e a garantia dos direitos dos autistas”, explica Carol Flugel, mãe do João Guilherme e secretária da Associação.
Joseli Ferreira tem dois netos diagnosticados no Transtorno do Espectro Autista (TEA), o Vitor e a Yasmin, e participou da caminhada para incentivar a causa. “Muita gente acha que autismo é doença, e não é. É muito diferente do que a turma pensa. As crianças são normais, como nós, mas são mais ativas”. Os dois netos contam com professor auxiliar em sala de aula nas escolas da rede pública e encontram nas terapias a ajuda pra se desenvolverem. “O Vitor se afastava, se retirava, mas depois da terapia mudou bastante. A Yasmin não falava e agora fala igual papagaio”, brinca a avó, que tem um pedido especial a toda sociedade: “que tenham um pouco de paciência com as crianças, porque têm lugares que eles vão e começam a ficar mais agitados, onde as pessoas começam a olhar diferente. Eles só precisam de mais atenção, mas são crianças como todas as outras”, finaliza.

Diagnóstico precoce ajuda no desenvolvimento

A maioria das famílias que participa da Amar-C encontrara o diagnóstico de seus filhos tardiamente, segundo a presidente Angelita. “Antigamente era muito mais difícil, as crianças eram tratadas apenas como as tímidas da turma, mas agora há mais recursos e é importante ter acesso ao laudo o quanto antes pra garantir o acompanhamento necessário na escola e na saúde pública”, destaca.
Ela mesma experimentou a realidade do diagnóstico tardio com seu filho Diogo, que hoje, com 21 anos, levou uma faixa na caminhada e fez questão de agradecer a participação de todos falando ao microfone. “O diagnóstico dele foi aos dez anos. Num primeiro momento, ele teve meningite e a gente teve que se preocupar com a saúde dele, mas as características do autismo já eram vistas por toda a família”, relembra Angelita. “Não é fácil, porque há todo um estudo, terapia, preconceito. São muitas informações ao mesmo tempo. É trabalho. Mas o laudo é muito importante porque você sabe em qual direção deve seguir, qual terapia deve ir atrás, que estímulos trazer”.
Valquíria Martins dos Santos, mãe do Davi de 11 anos, só conseguiu o diagnóstico dele aos oito. Já com a segunda filha Sofia, agora com 5 anos, foi diferente, o laudo veio aos dois aninhos. “O Davi nasceu prematuro e com um aninho a gente já começou a suspeitar que ele tinha algo diferente. Começou a investigação e por ser um grau leve, levou oito anos para sair o laudo definitivo. A gente faz as terapias e supera cada vez mais. Da Sofia, com dois aninhos já fechou o diagnóstico. A gente aprende a cada dia com eles”, diz a mãe.
Para Maria Carolina Stipp, o diagnóstico do Henrique, agora com cinco anos, veio aos dois. “Precisa melhorar a educação, nem todas as crianças têm acesso a uma atendente que esteja ao lado delas em sala de aula. Nossa luta diária também é com terapias”, pontua. Para ela, o principal é que a sociedade veja os autistas como pessoas. “São crianças, pessoas comuns, como qualquer um de nós. E a gente só precisa aprender a conviver com algumas diferenças, que são, muitas vezes, maravilhosas”.
Já nos primeiros meses de vida do Vitor Gabriel, a mãe Marcela de Quadros já percebia alguns sinais. “Desde os quatro meses. Mas fui guardando pra mim e comentei com o pai só quando o Vitor tinha um ano e oito meses. Aí a gente começou a correr atrás e com três anos veio o diagnóstico. Mas a gente começou a fazer fonoterapia mesmo antes e hoje ele tem apoio da escola, tem suporte da fono, tem tudo o que precisa”, conta. O recado dela para outras mães e pais é: calma que tudo se ajeita! “O diagnóstico não é o fim do mundo. Com muito amor, carinho e respeito, todos eles conseguem se desenvolver e ter uma vida normal. Não se desespere, vá atrás de recurso que eles são capazes, muito capazes”.

Amar-C integra famílias e profissionais em rede de apoio

“No início era um grupo de mães e profissionais, o Família Azul. Aí foram chegando mais e mais pessoas e quando a gente viu tava um grupo grande. Foi quando formamos a Associação”. O relato é da fonoaudióloga especialista em autistas e Alessandra Peixoto Bueno, especialista em autistas que está na Amar-C desde sua fundação. “Tudo o que a Associação faz é gratuito: acolhimento, palestras, orientação para professores e assistência de modo geral”, reforça.
O grupo de WhatsApp da Amar-C tem mais de 250 pessoas que cuidam de crianças e adultos autistas em Castro e outras cidades da região. Ele serve para troca de informações e conhecimento para combater o preconceito e ajudar as famílias a compreenderem o que é o autismo. A Amar-C tem 12 pessoas na diretoria e mais inúmeros voluntários, como professores, psicólogos, psicopedagogos, médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e outros terapeutas que estão em contato direto com os pais e cuidadores de pessoas autistas.
O grupo também integra pessoas de outras cidades da região, como Piraí do Sul, Carambeí e Ponta Grossa. Para participar, o primeiro passo é entrar em contato com a diretoria da Amar-C pelo (42) 99969-0404.

O Autismo

O dia 02 de abril foi criado em 2007 pela ONU e instituído no Brasil em 2018 para promover conhecimento sobre o espectro autista e sobre as necessidades e os direitos das pessoas autistas. O autismo é uma condição relacionada ao desenvolvimento do cérebro e afeta aspectos da comunicação, linguagem, comportamento e interação social. Os TEAs aparecem na infância e tendem a persistir na adolescência e na idade adulta, mas, em alguns casos, com as terapias adequadas e regulares, as condições podem diminuir. É uma condição crônica, mas não é doença. Para efeitos legais, a pessoa autista é considerada pessoa com deficiência e, no Brasil, a Lei nº 12.764/2.012 institui uma Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.
Embora algumas pessoas com TEAs possam viver de forma independente, existem outras com deficiências severas que precisam de atenção e apoio constante ao longo de suas vidas. A fita quebra-cabeça é o símbolo mundial da conscientização do transtorno do espectro autista.

Charles Rox e Emanoelle Wisnievski

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